O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas
Em Nome da Ação
Por Jorge Cruz
A grande contribuição de “O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas” para a franquia é verbalizada logo nos momentos iniciais, quando é dito que o futuro não está escrito. Com a nova realidade de que não houve o Juízo Final evitado em “O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final“, é com ceticismo que nos é apresentada a possibilidade de uma nova hecatombe nuclear acontecer.
Acertada a linha temporal que justifica essa produção ser ambientada no presente de 2003, ano de lançamento, passamos a identificar em John Connor (Nick Stahl) o mesmo desprezo pela tecnologia que sua mãe, Sarah – por conta dos malefícios trazidos a sua existência. A questão é que agora ele vive sem a certeza da tragédia, afastando um pouco o estado de atenção constante, ainda que perdure certa neurose.
O roteiro de John Brancato e Michael Ferris e a direção de Jonathan Mostow tentam afastar a carência que traz a falta de James Cameron no projeto com um abordagem mais bem humorada no início do primeiro ato. Quando o Exterminador (Arnold Schwarzenegger) entra nu em bar de striptease masculino e sobe ao palco para pedir as roupas do dançarino, parecia que o caminho que a produção seguiria se pautaria na comédia tangenciada. Uma forma mais preguiçosa de desenvolver projetos de gênero, quando a subversão não é o mote e que talvez só tenha obtido êxito na franquia Máquina Mortífera. Porém, com o desenvolvimento da história, observa-se que o foco principal seria a ação, assim como o roteiro mais famoso da dupla até então, “A Rede”, de 1995.
Passada essa falsa primeira impressão, “O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas” se mostra um longa-metragem de ação estiloso, que bebe da fonte de filmes de perseguição para manter o thriller em alta. Um pouco como Steven Spielberg fez em “Louca Escapada“, que lhe deu projeção no início de carreira. Talvez a grande referência, contudo, seja “Breakdown – Perseguição Implacável“, também dirigido por Mostow. Com um orçamento surreal até para os padrões atuais, de 200 milhões de dólares, o filme não se pagou nos Estados Unidos, onde arrecadou “apenas” 150 milhões. Porém, com mais de 280 no mercado internacional, conseguiu ter um lucro de 115%, considerado aceitável. A aposta bem alta deve ter gerado algumas frustrações, a ponto de um novo filme da franquia demorar seis anos para ser produzido.
Com isso, o filme mantém a tradição da saga de bom uso de dinheiro em prol de sequências de destruição impressionantes. A estrutura narrativa, inclusive, serve apenas de muleta para três grandes cenas de ação – não sendo essa afirmativa um demérito do longa-metragem. No primeiro ato a inserção de um guindaste em uma perseguição de carros faz deste um dos grandes momentos da franquia. Um caminho oposto ao que “O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final” faz, abdicando de qualquer traço de aproximação emocional. São atos inteiros de thriller com dois entreatos para o espectador apenas respirar. Ao contrário do que “O Exterminador do Futuro 4: Salvação” faria mais adiante, não há aqui uma ação descerebrada. Há opção narrativa, construção de linguagem própria – que funciona extremamente bem. Ainda brinda o espectador mais entusiasmado com cenas de luta com uma boa sequência envolvendo dois ciborgues.
Com esse equilíbrio para o bom humor não descambar para o deboche, o roteiro acerta sempre que usa deste artifício. Um grande exemplo é o carro cravejado de balas com o adesivo “Vale da Paz”, uma piada rápida que funciona muito bem no momento. Não há sobreposição das abordagem. A única questão é que o texto de Brancato e Ferris quase admite que foi um erro não contar com Sarah Connor. Porém, notas de produção informam que Linda Hamilton declinou do convite por acreditar que seu papel seria insignificante, já que morreria de qualquer forma ainda no primeiro ato. Com isso, há uma tentativa de criar uma “nova Sarah” no papel de Kate Brewster (uma Claire Danes que não é nem sombra da Carrie Mathison de Homeland). Adiciona o antagonismo feminino a partir de T-X (Kristanna Loken), mas uma representação que pouco diz ao que veio, na verdade.
É a única coisa que, de fato, não funciona em “O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas”, pois tudo na produção se desenvolve em nome da ação. Um terceiro filme de franquia que abre espaço para uma terceira proposta de abordar o cânone. Um John Connor menos pacifista e um encerramento que bebe da fonte do famoso clímax de “Planeta dos Macacos” (1968), tenta parecer por vezes um reboot, que seria jogado no ralo com o pífio longa-metragem que o seguiria.