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O Cemitério das Almas Perdidas

Mojica vive

Por Vitor Velloso

Durante a Mostra CineBH 2020

O Cemitério das Almas Perdidas

Rodrigo Aragão é conhecido como um herói do terror nacional por fazer filmes caseiros e de baixo orçamento, tornando uma identidade particular que remete às pataquadas estéticas de Mojica. O termo pataquada aqui é uma ironia econômica, pois “O Cemitério das Almas Perdidas”, seu filme de maior orçamento, é um retrato bastante consolidado do terror trash, de quintal, mas com finalização proeminente. É o subdesenvolvimento do quinto dos inferno se erguendo para abrir o longa em homenagem ao Mestre. 

É possível enxergar “o gênio” e a “besta” em diversos momentos de sua nova obra. A apresentação do circo de horrores é um “Ritual dos Sádicos” à la “Bye Bye Brasil”, contra os neopentecostais. Uma espécie de reimaginação da História brasileira a partir de signos categóricos do cinema de horror. Neste ponto, é possível repensar uma questão particularmente industrial de como essa gênero se manifesta, culturalmente, nos terceyros mundos. Há uma reinterpretação, uma assimilação drástica de todo esse conteúdo, mas se torna uma colagem referencial de cinefilia seccionada. Infelizmente, ou não, é um retrato particular de um gênero que se moldou em torno de uma base econômica. E isso se reflete nas obras de Aragão, que jamais recusa qualquer interferência basilar dos clichês norte-americanos, pelo contrário, assume todos como frente única de estrutura narrativa.

As falas pesadas, a sanguinolência, uma exposição de problema político e os demônios vindo à tona. É o novelão do horror. Onde Satanás, Sete Pele, Capeta, precisa ser libertado e pelo bem, ou pelo mal, os neopentecostais facilitam o processo. São obras que não se propõe discutir nenhum de seus tópicos, muito menos discorrer acerca de algum ponto específico, pois o entretenimento é sua intenção máxima. Assim, há uma reprodução de arquétipos que são importados da Trumpland, mas o diretor se esforça para tornar esse pragmatismo industrial, em algo minimamente tupiniquim, onde esses traços do gênero, principalmente na cultura, encontrem reverberações plausíveis. Com isso, caminha no tecido histórico brasileiro, indo até o período da colonização, a fim de tecer algumas críticas superficiais em torno desse processo dogmático. 

O interessante aqui, é como o filme ignora por completo qualquer seriedade em sua narrativa, para construir propriamente o udigrudi do terror contemporâneo. Infelizmente, cria paralelismos excessivos na trama, o que compromete o próprio desejo de reprodução do terror. Acaba conseguindo criar digressões nas representações que torna presente, exemplo os arquétipos exemplificados como meros objetos desse desejo endemoniado de fazer cinema. Se Bressane se retrata em maldição, “O Cemitério das Almas Perdidas” a profere. E é por onde vai caminhar sua defesa, que encontra aqui um substituto natural de um movimento de totem único, particular e arraigado de inocuidades drásticas. Cinema colagem. Estereótipo tacanho. Desejo viril. Cristandade de quinta. Demônios fajutos. Produção medonha. O efeito prático que não deixa perder a identidade de uma cultura deslocada da burguesia aristocrata, mas não deixa escapar suas necessidades de prender-se à esse modelo norte-americano. 

Infelizmente, o “herói do cinema udigrudi” nacional, é um fruto imediato da relação de dependência econômica e cultural com os EUA, tornando toda essa força de produção, distribuição e consumo de gênero, uma diretriz de debate em torno de como o imperialismo não permite a assimilação de gêneros construídos em bases de clichês, pois reforça o tempo inteiro, uma verticalização de estrutura e referências, que tendem ao comum e o pragmático. São recortes já conhecidos nessa padronagem, mas que tentam uma nova formalização enquanto obras de entretenimento. Com fim semelhante. Não à toa, algumas pessoas podem vir a sacar Oswald para defender a proposta exposta por Aragão. Os argumentos vão travar em torno das bases materiais de como essa narrativa se desenvolve. 

“O Cemitério das Almas Perdidas” de Rodrigo Aragão, segue sendo um representante das investidas nacionais contra uma certa redução dos meios de produção no cinema de gênero. E o diretor é figura centralizadora no debate de como manter-se relevante diante da falta de recursos para a criação. Para sempre, o cinema brasileiro irá, ou deve, lembrar das tentativas do diretor, ainda que compreende seus problemas inerentes. 

3 Nota do Crítico 5 1

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