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Nefta Football Club

Bola pra Frente

Por Jorge Cruz

Nefta Football Club

Nefta Football Club“, curta-metragem indicado ao Oscar 2020 já teve seu momento no Brasil. Vencedor do prêmio Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, a produção filmada na fronteira entre Tunísia e Argélia dialoga, em pequena parte, com Brotherhood – eis que ambientada no mesmo país. Contudo, a direção de Yves Piat é mais exploratória, se valendo mais da geografia para compor a obra. O curta-metragem também é mais universalista, ao criar um diálogo com o futebol, uma das manifestações culturais mais pungentes dos últimos séculos. Visualmente mais encorpado e narrativamente mais atraente.

Em montagem paralela, somos apresentados a duas duplas: Abdallah (Mohamed Ali Ayari) e Mohamed (Eltayef Dhaoui) são dois homens que perdem contato com o burro que transportava sabão em pó no lado argelino da fronteira; enquanto Ali (Hichem Mesbah) e Salim (Lyès Salem) são dois meninos que encontram os produtos ao passarem do lado tunisiano. A forma como o esporte se apresenta, em conversas e representações, se vale do elemento que unifica aqueles representantes de povos diferentes. É engraçada a menção a Mahrez, jogador francês naturalizado argelino, que também é ídolo do menino tunisiano – quase como um elemento de diálogo entre nações. Tunísia e Argélia são dois países que buscam uma Líbia bem menos violenta. Em momentos de crises diplomáticas e ameaças de novas guerras no mundo, qualquer elemento agregador é bem-vindo e o futebol, a despeito de comportamentos lamentáveis de torcedores e corrupção entre os que o administram, sempre se mostrou disposto a construir certas pontes.

O grande acerto do roteiro do próprio Piat é não limitar “Nefta Football Club” a essa cansada metáfora. Aproxima os quatro personagens pelo futebol, ao mesmo tempo em que cria choques culturais entre as personagens, começando por Abdallah e Mohamed. Enquanto um naturaliza a influência ocidental ao não compreender como o outro não sabe quem é Adele, o amigo confessa que mal conhece os cantores de chaabi (ritmo folclórico norte-africano) que moram em sua esquina. Cada um dá o valor que entende merecido para certos aspectos da sociedade e o consumo de arte não é diferente.

Já o conflito entre a outra dupla é diferente. As boas intenções infantis se desdobram em duas maneiras de lidar com seus atos. A partir do momento em que a atitude de tomar para si o carregamento de sabão em pó é tomada espontaneamente, o próximo passo – igualmente não calculado – mostra como a individualidade dos seres é construída desde cedo. “Nefta Football Club” por vezes lembra o dito popular “em casa onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”. Utiliza a mesma limitação espacial e de personagens que o outro curta tunisiano também indicado ao Oscar, mas mantendo um controle de seu arco bem mais eficiente.

3 Nota do Crítico 5 1

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