Festival Curta Campos do Jordao

Na Estrada (On The Road)



Ficha Técnica

Diretor: Walter Salles
Roteiro: Jose Rivera
Elenco: Kristen Stewart, Amy Adams, Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Garrett Hedlund, Alice Braga, Sam Riley
Fotografia: Eric Gautier
Trilha Sonora: Gustavo Santaolalla
Produção: Charles Gillibert, Nathanaël Karmitz, Jerry Leider, Rebecca Yeldham, Walter Salles
Distribuidora: PlayArte
Estúdio: American Zoetrope / Film4 / MK2 Productions / Video Filmes
Duração: 137 minutos
País: EUA
Ano: 2011
Site: http://www.naestradaofilme.com.br

  

A Juventude Transviada de Walter Salles

Há filmes que necessitam de um tempo maior para que possam ser analisados. “Na Estrada”, novo filme de Walter Salles, comporta-se assim. A narrativa é de dentro para fora, capturando o espectador, gerando uma fascinação inebriante. Apaixonei-me logo de cara. Por isso, resolvi esperar a fim de traçar estas linhas. O filme usou e abusou de mim, de minhas perspectivas, de meus sonhos mágicos, da liberdade de se estar na estrada, tanto metáfora, quanto realista, completamente sinestésica, ora eu era Sal, ora o Dean. Walter disse que sabia que a duração era longa. Não, Walter, você está enganado. Poderia ser maior se você quisesse. Mas voltando ao que interessa, depois de ter assistido três vezes na tela grande, de ter lido quase tudo sobre “On the Road”, seu título original, resolvi escrever e tentar traduzir a minha paixão pelo filme, claro, que com embasamento técnico, não mais passional quanto das primeiras vezes, mas seguindo a proposta que o movimento beatnik, que é sentir a pulsação do coração estimulando caminho, quereres e desejos. O roteiro, que Walter dividiu com José Rivera, adapta a obra mais célebre e conceituada de Jack Kerouac aos cinemas. “On the Road” é considerada a bíblia da geração beat, influenciando Tom Waits, Bob Dylan, Charles Bukowski, entre tantos outros. É um marco porque documenta uma época com seus anseios, descobertas, liberdades revolucionárias. “Beat” fazia parte do calão do submundo – o mundo dos vigaristas, viciados e pequenos ladrões, lugares que Ginsberg e Kerouac procuraram inspiração. Era uma época de transição. Já não havia esperança. Os empregos pagavam pouco, e apresentavam-se como esporádicos; o conformismo gerava a criação literária depressiva e visceral.

A estrada significava a luta interna de cada um com o intuito de se manter vivo, daí a necessidade de experimentação sem limites e sem tabus, desmascarando uma sociedade hipócrita e moralista. A trama acontece inicialmente em Nova York, final dos anos 40. Sal Paradise (Sam Riley) é um homem comum – retraído, escritor, com dificuldades de se entregar às ações mundanas, e personagem ficcional do próprio Jack Kerouac – que vive em Nova Jersey e conhece o jovem libertário Dean Moriarty (Garrett Hedlund, de “Tron”), um andarilho alucinado (de paixão e liberdade) de Denver, e sua namorada Marylou (Kristen Stewart, de “A Natureza Selvagem”), de 16 anos. A personalidade magnética do recém-chegado conquista Sal e juntos partem para conhecer os Estados Unidos numa jornada de autoconhecimento. Se observarmos a carreira cinematográfica do diretor, poderemos entender os elementos repetitivos de suas obras, como a busca de um lugar, a procura de uma família, sempre bebendo na fonte da metáfora. Logo nas primeiras cenas, Dean, completamente nu, entre o ato sexual com sua namorada, recebe seus novos amigos, os abraçando, demonstrando total falta de defesas. Está entregue ao que vier, no meio do jazz e da droga Benzedrina – nome comercial da anfetamina, usada como inalador no final dos anos vinte, gerando um efeito eufórico estimulante ao ser misturada no chá. 

“Perdoe-me, Pai, eu vou pecar”, dizia-se antes das “pendências da alma”. A fotografia encontra a nostalgia, usando saturação, principalmente em passagens de tempo, e variações de claro e escuro, retratando alterações sentimentais. “Minha mente é uma caixa de epifanias”, diz-se. Assim são os jovens, ávidos por novidades, por experimentações, por transgredir limites, amam demasiadamente, odeiam de forma radical, expõem-se sem rodeios. O que Sean Pean fez em “Na Natureza Selvagem”, de utilizar a solidão crônica auto suficiente, Walter opta vivenciar a mesma solidão adicionando pessoas. Os personagens continuam a ser intensos e sozinhos, mas fazem a revolução aos outros, usando eles mesmos e as possibilidades: drogas, sexo, bebidas e lugares. Walter captou a essência completa do universo beat, única e exclusivamente pelas escolhas que fez. Foram várias e todas deram certo. Uma delas, a opção por adaptar o manuscrito original de 1951 e não o livro de 1957. Outra, o elenco. Não consigo pensar em ninguém para viver Dean se não Garrett Hedlund. Ele é o filme. Um excelente ator que divide atenção com outros tão maravilhosos. É perdoável que num gênero como este e tantos personagens, alguns não se conectem, como é o caso da Kristen Dust (de “Melancolia”). Concluindo, um filme perfeito, que aprisiona o espectador no submundo beatnick. Depois de oito anos, com uma baita responsabilidade nas costas, posso dizer que você conseguiu, Waltinho. Obrigado! Eu penso em Walter Salles, eu penso em Walter Salles.

Trailer Oficial Legendado

Coletiva de Imprensa “Na Estrada”, Com Walter Salles e Alice Braga, Rio de Janeiro 
(Produção: Vertentes do Cinema)

O Diretor


Foto: Divulgação

Na Estrada é o terceiro filme dirigido por Walter Salles selecionado em Competição Oficial no Festival de Cannes. “Diários de Motocicleta” foi selecionado em 2004 e “Linha de Passe” em 2008. “Linha de Passe” foi premiado com a Palma de Melhor Atriz para Sandra Corveloni. Salles também teve filmes selecionados no Festival de Berlim (“Central do Brasil”, em 1998) e Veneza (“Abril Despedaçado”, em 2000). “Central do Brasil” ganhou o Urso de Ouro de Melhor filme e Fernanda Montenegro, o Urso de Prata de Melhor Atriz. No Festival de Veneza de 2009, Walter Salles recebeu o Prêmio Robert Bresson, pelo conjunto de seus filmes. Os filmes de Salles ganharam mais de 140 prêmios internacionais em festivais, e receberam quatro indicações para o Oscar, 10 indicações para o Bafta e quatro indicações para o Globo de Ouro. Venceram três vezes o Bafta (incluindo os prêmios de Melhor Filme Estrangeiro para “Central do Brasil” e “Diários de Motocicleta”), uma vez o Globo de Ouro (Melhor Filme Estrangeiro para “Central do Brasil”) e um Oscar (Melhor música original para “Diários de Motocicleta”). Seus filmes já foram vistos por mais de 24 milhões de espectadores.
2012 – NA ESTRADA
2008 – LINHA DE PASSE / FESTIVAL DE CANNES 2008 – COMPETIÇÃO
2006 – PARIS, TE AMO (15º SEGMENTO)
2005 – ÁGUA NEGRA
2004 – DIÁRIOS DE MOTOCICLETA / FESTIVAL DE CANNES 2004 – COMPETIÇÃO
2001 – ABRIL DESPEDAÇADO
1998 – CENTRAL DO BRASIL / URSO DE OURO – FESTIVAL DE CINEMA DE BERLIM 1998
1996 – TERRA ESTRANGEIRA


Por Fabricio Duque 

Pix Vertentes do Cinema

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