Mundo em Caos
Ruídos industriais
Por Vitor Velloso
“Mundo em Caos” o novo longa de Doug Liman, chega aos cinemas mostrando que a má fase do diretor segue a todo vapor. O filme estrelado por Tom Holland, Daisy Ridley, Mads Mikkelsen e David Oyelowo mostra que o orçamento deselegante pouco acrescenta em uma bagunça tremenda.
O roteiro é fraquíssimo, explora conceitos desinteressantes e articula uma proposta de drama clichê que gira em círculos, sendo incapaz de fugir da unilateralidade que rege o mercado. “Mundo em Caos” utiliza do conceito basilar do “ruído” para criar uma contraposição dramática que norteia a obra com certos “mistérios”, completamente óbvios, mas que se fossem explorados com mais rigor, dariam alguma sustentação para esse barato frágil. São poucas coisas no longa que podem segurar a atenção do espectador durante a projeção, a trama que envolve a espécie nativa é completamente ignorada e demonstra o desprezo pela “mea culpa” na invasão e o tom imperialista comum às grandes jornadas de Hollywood. A pedida é explorar um possível romance entre os dois protagonistas, enquanto o “ruído” gera algum alívio cômico desengonçado. No fim, a necessidade de apresentar um vilão caricato para acompanhar a “nova chegada” é de uma preguiça ímpar.
Essa dualidade tacanha, síntese de um acontecimento anterior da história, é um mero fato dito, sem um aprofundamento maior na linha da atitude que modificou toda a estrutura social da colônia. O rigor em exibir o orçamento e os efeitos especiais, transforma tudo em uma aventura vazia e sem sentido, onde as próprias verdades desveladas são transformadas em exposições que o conceito basilar constrói. Liman está no automático, é incapaz de criar um barato visual minimamente fluído ou versátil. Se “Valerian” de Besson é terrível mas funciona pela experiência imagética, “Mundo em Caos” é uma preguiça genérica como qualquer outra. Se perde em meio aos “astros” do cinema e não se distancia dos clichês. Esse engessamento completo, se reflete nas próprias cenas de ação, totalmente programáticas e burocráticas, onde o cansaço já tomou conta e a ansiedade pelos créditos finais vai vencendo a paciência.
Oyelowo faz um dos personagens mais unidimensionais do filme, repetindo em looping a mesma fala e com efeitos avermelhados em volta da cabeça, serve como a ameaça mais descerebrada do projeto, tendo como contraponto o personagem de Mikkelsen, frio, impiedoso e calculista. Para fechar a tríade da ficção científica barata, o personagem de Holland é o “fraco”, com medo e inseguranças diretamente ligadas ao fascínio por aquilo que desconhece. Toda essa construção pré-fabricada expõe a máquina de retroalimentação que a indústria funciona, onde “Mundo em Caos” é mais um exemplo de produção conturbada na carreira de Liman. Não à toa, foram anos de cortes recusados, trocas de protagonismo, roteiros revisados. Quando o leitor se depara com outros comentários dizendo que “nada funciona”, acredite, é verdade. Nem o maior carisma pode prender a atenção do público em quase duas horas de indecisão narrativa e dramática. Se anteriormente o corte inicial foi recusado por ser “inassistível”, imagina o que teríamos nos cinemas…
A ideia primária do “ruído”, pode não ser tão ruim, e abre margens múltiplas na abordagem, mas a falta de neurônio em desenvolver esse espectro para algo que possa ser utilizado fora dessa proposta programática, revela um problema do filme e possivelmente da própria obra original. Está certo que com um trabalho mais digno, essa adaptação poderia render frutos mais concretos e menos incertos, porém onde tudo é frágil, difícil reconhecer a origem do problema. Liman mostra que sua carreira é tão inconsistente quanto seus filmes, não deixando a desejar, nem criando expectativas, é um diretor popular que conseguiu certo apelo em ocasiões que estão apenas na memória de alguns fãs.
Boa sorte quem decidir se aventurar nesse subproduto fajuto e preguiçoso que mais parece repelir os mais dispostos a embarcar nesse mar de confusão. Em algum lugar da internet uma pessoa comentou que “parece ter sido feito por robôs”, não poderia concordar mais.