Mulher-Maravilha 1984
De volta para um apressado futuro
Por Fabricio Duque
O ditado de sabedoria popular não poderia ser mais preciso, quando diz que o “apressado come cru”, para resumir a experiência do público em frente à continuação “WW84” da super-heroína Mulher Maravilha. Sim, a urgência afoita de se lançar em massa produtos de entretenimento, os filmes de Super-Heróis, logicamente são motivados pela demanda de um mercado que não esperar e não pode “perder tempo”. O próprio longa-metragem em questão aqui corrobora essa ideia progressista de querer sempre mais no preâmbulo que ambienta os anos oitenta. Assim, “Mulher-Maravilha 1984” (2020) tenta então fazer “Roma em um só dia”. O que poderia ser uma oportunidade para criticar o capitalismo (e suas consequências disfuncionais), ganha estrutura narrativa não aprofundada, mostrando cenas de ação menos dignas que um Filme B infantil, muito embasada pela caricata empregada na direção de arte, nas ações-reações, estas transformadas em comédia pastelão, e especialmente nas interpretações em modo idiotização awkward. Outro fator preponderante, e que se deve levar à ferro e fogo, é o do simbolismo histórico. A obra anterior, primeiro contato do público, abordou a metáfora-analogia mitológica das Amazonas, mulheres que vivem sozinhas em um ilha deserta sem nenhuma figura masculina.
Na origem, o filme “Mulher-Maravilha” focou no empoderamento feminino e na força feminista. Já aqui, dirigido novamente pela realizadora Patty Jenkins (de “Monster: Desejo Assassino”), ainda que com os jogos olímpicos da conservada comunidade ancestral (e suas cenas sensoriais a um 4D), e ainda que, inicialmente, o foco atente a uma criança competitiva (seu passado) e com lições de auto-ajuda por “pegar um atalho”, a trama precisa buscar outra perspectiva para se desenvolver: a solidão da protagonista. A Mulher Maravilha (uma Diana “forte, sensual, legal e especial”, interpretada pela atriz Gal Gadot), arqueóloga cultural, que sente a vontade de ter alguém. “Mulher-Maravilha 1984” é também uma de quebra de paradigmas de gêneros, insinuando uma bissexualidade quando olhares são trocados a nova funcionária-amiga gemóloga. Luta-se pela normalização naturalizada da diversidade sexual, transcendendo até mesmo as “performances sociais” ditadas por Judith Butler. Terno para ela. Baby Look para ele.
“Mulher-Maravilha 1984”, não só é filme de vários também, como de constante batalha diária. Guerreia-se com altruísmo contra a violência no mundo, contra o egoísmo do próprio povo mal-agradecido e contra os “vigaristas”, estes que estão à espera da concretude de seus sonhos (a pedra dos poderes – de um “deus da mentira muito mau: o “duque da decepção” – que o transforma em “Gênio da lâmpada” realizando desejos). E também à favor do amor (ou “esperança”), que reaparece ilogicamente em outro corpo, misterioso e sem explicação científica (em aeronaves transparentes que somem à moda do carro de “De Volta Para o Futuro”). Pois é, quanto mais assistimos, mais encontramos improvisos ladeira abaixo. Preguiça ou pressa mesmo dos roteiristas e/ou cobrança dos estúdios? “Mulher-Maravilha 1984” talvez seja “viagem-magia“ demais para pouco “voo-poção”. A falta do apuro técnico, nem mesmo nos efeitos especiais, mais parecidos com os do Windows Movie Maker, acopla trilha-sonora de efeito-épico e abarca todos os clichês característicos. Todos, inclusive o de crianças brincando em uma rua e expostas ao perigo.
O longa-metragem consegue ser um exemplar-modelo do conservadorismo. De buscar os valores familiares acima de todas as coisas, entre alegrias saídas de um artificial comercial de margarina. A Humanidade é prioridade da Mulher-Maravilha, que “revoga seus desejos” para salvar o Mundo. Contra requintes de crueldade raivosa-vingativa dos dois novos inimigos: Max Lord e Mulher-Leopardo. Contra a perda do controle de indivíduos sociais sem limites. De tratar sempre com condescendência. De que a “verdade é suficiente e bonita”. De que o “mundo é bão, Sebastião”. E se todos pudessem realizar seus desejos mais subjetivos? Como o mundo seria? Um caos? Ou um paraíso? “Mulher-Maravilha 1984” nos mostra que ter tudo que se quer não vale à pena e só aumenta a surto do mais. Este é uma fábula alegórica com a mensagem da redenção pelo amor, corroborando os dez mandamentos bíblicos. E a de que um simples desejo pode gerar o fim do mundo. Nós espectadores perguntamos se é tão necessário se produzir filmes casuais, como este (uma obra esquecível e de diversão imediata, com duas horas e trinta minutos). No IMDB já anuncia a parte três de “Mulher Maravilha”. E da mesma diretora, assim como o spin-off “Star Wars: Esquadrão Rouge”.