Minha Irmã de Paris
As duas faces de uma atriz
Por Pedro Guedes
“Minha Irmã de Paris” entra naquela categoria de filmes sobre os quais tenho imensa dificuldade de escrever não por serem bons demais para serem apreciados rapidamente (“O Irlandês“) ou ruins demais para serem exorcizados de sopetão (“Star Wars: A Ascensão Skywalker“), mas justamente por serem… insossos. É uma obra tão esquecível e vazia que se torna difícil redigir 700 palavras sobre ela – e vejam bem: não se trata de uma má produção; apenas de uma que não estimula muito escrutínio a seu respeito. O que dá para dizer, portanto, é que o longa se revela um estudo promissor e, até certo ponto, interessante, sobre a dualidade que uma artista cênica pode sentir – mesmo não conseguindo ir muito além no desenvolvimento da questão, o que é uma pena.
Escrito e dirigido por Anne Giafferi (“Amor ao Primeiro Filho”), “Minha Irmã de Paris” nos apresenta a Julie, uma atriz de comédia que, depois de se submeter a uma cirurgia plástica mal-sucedida, começa a questionar se deve ou não continuar como protagonista de seu novo projeto – o problema é que não dá para simplesmente abandonar o set de filmagem, já que, não podendo contar com uma pessoa exatamente igual a ela, o filme inteiro teria que ser refeito do zero e com outra atriz. Mas aí, Julie conhece uma fã que é rigorosamente idêntica a ela (na verdade, é uma irmã gêmea que ela nem conhecia e que mantém isso em segredo durante boa parte do filme – isto não é spoiler, pois desde o princípio ficamos sabendo desta informação antes de Julie), não demorando, portanto, a transformá-la em uma “dublê” para o resto da produção inteira.
É uma trama absurda, ilógica e conveniente, claro. (Aliás, é tão absurda que eu não me espantaria se descobrisse ter sido baseada em uma história real.) Mas o pior, no entanto, não é nem isso: o que realmente compromete “Minha Irmã de Paris” é o fato de Anne Giafferi criar um monte de pequenos conflitinhos dramáticos que não chegam a lugar algum e que soam deslocados de modo geral, transformando-se em tentativas bestas de inflar a narrativa e de torná-la mais dramaticamente elaborada – algo que acaba não se concretizando em função da superficialidade destes conflitos: a necessidade de Laurette, a sósia de Julie, esconder desta o fato de ser sua irmã gêmea, por exemplo, parece criado artificialmente para gerar algum impasse dramático, ao passo que a interação rápida entre ela e uma personagem bem mais jovem é retratada de forma tão tangencial que acaba não tendo impacto algum.
Em contrapartida, este é um daqueles filmes que oferecem uma oportunidade perfeita (embora desafiadora) à pessoa responsável por estrelá-lo – e, neste sentido, “Minha Irmã de Paris” concede a Mathilde Seigner o palco para criar não apenas uma, mas duas personagens. Dito isso, a boa notícia é que a atriz aproveita sem reservas a chance que lhe foi dada, estabelecendo um contraponto perfeito entre Julie e Laurette: se a primeira se mostra uma mulher distante, frustada e aparentemente mal humorada, a segunda se revela uma cidadã bem mais intensa, sonhadora e enérgica, transmitindo uma energia que equilibra a amargura representada por sua irmã. E é admirável, aliás, que Seigner seja capaz de surgir em cena contracenando com ela mesma sem que isto deixe de soar natural; a dinâmica entre ambas, no fim das contas, é bastante funcional.
Ainda assim, falta a “Minha Irmã de Paris” algo que o torne memorável. Muito disso vem do fato de Anne Giafferi dirigir o projeto de forma absolutamente protocolar, se limitando a ilustrar visualmente aquilo que já estava presente no roteiro que escreveu sem se preocupar muito em trabalhar os demais elementos da linguagem cinematográfica em si. O resultado, portanto, é uma obra que sobrevive graças à performance de sua atriz principal e a algumas boas ideias que surgem aqui e ali, mas que, de modo geral, falha em deixar qualquer impressão no espectador, apresentando-se preguiçoso e descuidado na maior parte do tempo. Não chega a ser um filme ruim, de fato, mas poderia ser infinitamente melhor caso demonstrasse um pouco mais de esforço e de ousadia – algo que se torna ainda mais frustrante quando consideramos as constantes tentativas do filme de impactar emocionalmente sem se preocupar em criar este impacto de forma orgânica.