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Meu Bebê

Meu Bebê Meu Bebe

A incrível arte de ser mãe

Por Fabricio Duque

Durante o Festival Varilux de Cinema Francês 2019

 

Exibido no Festival Varilux de Cinema Francês 2019, “Meu Bebê” é um filme de amor incondicional. De uma mãe com sua filha. Uma relação de retroalimentação integral, que encontra, na obrigação eterna do relacionamento, laços umbilicais que transcendem o campo e a percepção física. Podemos dizer que é uma obra pessoal adaptada a uma cômica e suavizada ficção: a protagonista é o “bebê” da diretora. E a mãe de dentro do filme opta por construir uma amizade liberal, mitigada do politicamente correto das regras limites que supostamente deveria impor, como a cena-esquete “awkward” de desculpas “ao guarda por estar menstruada”.

“Meu Bebê” (2018), dirigido Lisa Azuelos, por uma narrativa fragmentada, de edição ágil, busca a atmosfera do pseudo-comportamento em mascarar (com sarcasmo, humor espirituoso – direto e sem rodeios – e jogos manipulados de convencimento), como um ato defensivo de preservação, as angústias e medos que uma progenitora Héloïse (a atriz Sandrine Kiberlain, alter ego da realizadora) sente por seu “rebento”, a mais nova Jade (a atriz Thaïs Alessandrin, sua filha na vida real) como a aceitação na universidade em outro país (da França ao Canadá), e ou as festas, que desencadeia um sentimento de abandono e de separação, permeado por constantes digressões-instantes-detalhes do passado (a gravidez e o cuidado do pequeno ser vulnerável e inocente ao mundo).

O ditado popular de que “ser mãe é padecer no paraíso” é mais que pertinente aqui nessa análise (que grava todos os momentos de sua filha para “manter imagens”). Seu outro filho também já saiu de casa, vive com pressa e “não sente saudades de ninguém”. Sim, desbravar o mundo e explorar possibilidades existenciais representam características inerentes a todo e qualquer indivíduo social. Apresentar imaturidade na adolescência também é um requisito quase obrigatório do processo de crescimento e evolução. Ser “encrenca” e “responsável pela decadência da República”. Aqui, as personagens são cúmplices no agir e no entender as limitações do outro. E é por meio de chacotas zombeteiras, coloquiais, espontâneas e sem objetivar ofensas que todos se “traduzem”, como “gírias em código Morse dos pais”.

“Meu Bebê” é também sobre a liberdade não tão livre assim, que tenta ser desprendida e livre, mas que encontra o conservadorismo de colocar ordem no caos e das mudanças. A filha só quer se divertir. E a mãe deixa. Por fora, porque por dentro o turbilhão de emoções adultera o que é o certo e ou errado, desencadeando lembranças imortalizadas, como uma droga viciante para suportar os novos desafios e baques. O longa-metragem é um dos mais fiéis à essência do cinema francês ao lidar com temas universais sem nenhuma indicação julgamentos e moralidades, como o “pai que quer casar com a filha”. Isso gera risos e nova cumplicidade, à moda ambiente sensorial de “A Pele de Asno” (1970), de Jacques Demy.

A trama, construída de forma naturalista por um roteiro firme, principalmente por suas reações sutis, aprofundadas e desenvolvidas por um controle absoluto da direção, subverte a própria realidade com o mais possível das cenas surrealistas em “loucuras verborrágicas” e “efeito divórcio”. Todo esse “fluxo atemporal” flui com leveza, cadência e com despretensão (ao humanizar e desmistificar rótulos condicionados de nossa sociedade), em pragmáticas discussões francesas que se embasam em “estranhas” teorias conspiratórias quase infantis, entre músicas Rap, “surtos emocionais” e debates sobre “Godard” ser um “clássico” e “O Desprezo, ilógico”. “Poliamor? Orgia?”.

“Meu Bebê” objetiva não deixar de ser constrangedor. E resgatar o romantismo. “Ser romântico é mandar flores e poemas” e não “mensagens no Tinder”. Sim, já era de se esperar que em quase toda comédia dramática, ainda que pelo viés cult descontínuo, o final ganha contornos açucarados e de reviravoltas desengonçadas. Em defesa podemos mencionar que até filosofia da própria vida a deixa sem sentido às vezes e muito melodramática também. Ainda que frágil, é necessário a seu desfecho. Para que a ida de um possa libertar o ficar do outro. Para que o processo de recomeço retome sua contagem temporal.

“É o roteiro original da minha vida. Eu comecei a filmar há dois anos com meu Iphone, porque eu sabia que minha filha ia estudar no Canadá. E depois eu me dei conta que o que estava dentro do meu Iphone era um verdadeiro filme e que eu podia usar esse material para fazer um filme. Eu me dei conta que era uma história muito pessoal, porque era minha história, mas também era uma história totalmente universal. Porque é a história de todas as mães que deixam seus filhos partirem. A ideia do filme era exatamente essa: uma coroa na cabeça, porque agora ela podia ser uma rainha e cuidar de sua própria vida”, finaliza a diretora Lisa Azuelos com sua filha Thaïs Alessandrin na exibição que aconteceu no Estação Net Rio, durante o Festival Varilux de Cinema Francês 2019.

4 Nota do Crítico 5 1

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