Mask
A trajetória de um sorriso
Por Vitor Velloso
Festival de Locarno 2021
“Mask” de Nava Rezvani é um curta com uma trama curiosa, onde uma jovem mulher passa por um procedimento estético, a contragosto, na intenção de agradar o namorado, que não gosta do resultado. A estrutura se dá em torno de como esses padrões de beleza atingem diretamente a autoestima da protagonista e como ela vai lidar com o processo de se redescobrir. Mas aqui, uma questão fundamental deve ser dita, o filme se passa no Irã e esses padrões industriais são impostos pela indústria do capital dominante, não por acaso a jovem reproduz algumas poses e gestos que constantemente vemos nas revistas.
Como um rolo compressor sua vida não é mais ânsia em mostrar os lábios para todos, sim esconder, pois a reprovação do namorado a atinge de maneira que sua própria opinião muda, uma atitude de submissão que é contornada pela própria forma como o curta se articula. Os pequenos gestos para proteger a imagem da região e os olhares envergonhados, dão lugar à cabeça erguida, ao elogio do colega que lhe arranca um sorriso desajeitado e sua vida passa a ter brilho novamente. A recusa da chamada telefônica é a ruptura necessária.
Nos momentos em que “Mask” se utiliza dos espelhos para criar essa imagem “projetada”, de desejo e aceitação, o filme consegue caminhar bem sem criar grandes esforços dramáticos. O poder de suas imagens é o suficiente para traduzir ao espectador os sentimentos da protagonista. E essa economia de espaços e tempos, faz com que os quinze minutos passem rápido o suficiente para não cansar com a centralização dramatúrgica, mas com paciência para que possamos nos aproximar de uma realidade que até tem retorno, só que não necessariamente vale a pena. A atitude de não querer retornar a clínica, começa como orgulho e desemboca na redescoberta de sua beleza, fora a aprovação do homem.