Curta Paranagua 2024

Marcos Medeiros – Codinome Vampiro

Gira no Palácio

Por Vitor Velloso

Marcos Medeiros – Codinome Vampiro

Marcos Medeiros é uma daquelas figuras nacionais onde adjetivos se perdem no breve exercício de categorizar a agonia de existir em meio a um mundo que não cabe em peito e mente. O constante desespero de ser o que é. E o que se sente.

Vicente Duque Estrada, diretor, é feliz em entender a partir da figura de Marcos Medeiros uma geração que não se via conformada com qualquer questão política que fugia da recorrente exterioridade do povo brasileiro em meio ao subdesenvolvimento histórico que é obrigado a acatar em paus de arara e silenciadores com verniz democrático. No caso da década de 60, o fator legal foi extinguido, como os europeus que estupraram nossa cultura e nosso povo, os militares tomaram o poder com sua truculência recorrente e destruíram o sonho do país do futuro.

A ação movimentou um geração inteira a lutar não apenas por suas liberdades individuais, mas primariamente, a coletiva. Não à toa a mobilização, era questões históricas não apenas situações isoladas.

“Marcos Medeiros – Codinome Vampiro” é hábil em dar o tom de um momento nacional a partir de seu espírito guerrilheiro, a partir da verve política, social e cultural. Toca em pontos cruciais da discussão como a educação e o cinema que fervia as telas brasileiras, com o manifesto antropofágico de natimorta política culturalista de digressão regional, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha. “Maiores são os poderes do povo”. Em giro eterno e fragmentado pela manipulação cinematográfica, Marcos Medeiros urgia contra as instituições de perpetuação de poder do conservadorismo ideológico e da opressão que corria no sangue nacional.

Suas produções que uivavam perante o formalismo clássico do cinema, para além de sua necessidade de expurgo poético, que como sempre, incompreendido, sofria com a urgência de seus pensamentos, da alegoria do subdesenvolvimento em meio à própria mente. Essa agonia de produção e da palavra, atingiu, e atinge, os que sentem a dor de um país que não deu certo, que não foi. Mas há de ser. De Darcy à Glauber, de Marcos Medeiros à Leon Hirszman, Joaquim em prantos em fúnebre marcha da que nos pariu, repete o canto de trabalho: “A cor do sangue do operário não é verde e a amarela, mas sim vermelha”.

Para além de questões ideológicas ou reducionistas, como o vigente binarismo político que vivemos hoje, o ronco na barriga do trabalhador é a resposta da opressão vertical. Se para Marcos a foice corta o mal pelo raiz, a câmera prega às chagas de um país que desconhece a paz. Neologismos pragmáticos de discurso é o corpo daquilo que se expõe em transe de manifestação.

“Marcos Medeiros – Codinome Vampiro” concebe a partir de suas imagens de arquivo, um escopo mais que bem-vindo à ilustração desse espírito da digressão que não se aquietava. Além disso, a manipulação das imagens aplica um dinamismo que facilita o fluxo rítmico da obra, que atravessa o tempo com organicidade ímpar.

Grande parte da estrutura é dada a partir de entrevistas e depoimentos, que enriquecem a natureza não fílmica do que se discute na obra. Assim, quem decidir se aventurar por parte da trajetória de Marcos Medeiros, terá de fofocas e historicidade, via oral. à fatos concretos daquilo que se deu em meio a vida de um poeta que tanto se esforçou para manter o sonho e o ideal vivos em meio ao apocalipse epistemológico chamado Brasil.

A patologia que é este que tanto falamos, criou inúmeras vítimas ao longo de sua proposição de existência, tantos que se foram antes de ver alguma esperança pela luta perdida, mas que tiveram a honra de serem incapazes de conhecer o presente que tantos nos assombra. Em meio aos fantasmas do passado, uivos de torturadores, golpes diplomáticos, a arma em mãos, a agressão à médicos que lutam por nossas vidas, o Brasil segue sua trajetória infinita de reconhecer que o fim não chega nunca e que o sofrimento é o presente que os Europeus insistem em perpetuar em nossa memória, que agora são replicados pelos que aqui nascem, mas se reconhecem através da bandeira de outros países, segue manchando a honra, que nunca nos foi permitida, e assassina os filhos deste solo.

4 Nota do Crítico 5 1

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