Mar Infinito
Azul e monótono
Por Vitor Velloso
Durante a Mostra de SP 2021
“Mar Infinito”, de Carlos Amaral, procura correspondências nas ficções científicas mais prosaicas, trabalhando em torno das ideias apocalípticas que assolam as previsões do mundo. Funciona mais como um referencial de uma série de particularidades, onde a narrativa principal desdobra-se em uma multiplicidade de situações rocambolescas que vão encerrar no sonhado planeta a ser colonizado. Reflexo ou desejo histórico, essa aventura acaba sendo uma projeção pouco criativa de um gênero de grandes capacidades. A maior dificuldade aqui, é encontrar um ponto que garanta o interesse nessa jornada lenta e arrastada com estranhos personagens.
Seguindo o consenso dos últimos anos, a construção psicológica do protagonista que justifica o fim da obra, está na falta de perspectivas e caminhos possíveis de um mundo verticalizado e brutal em suas desigualdades. O contexto social de “Mar Infinito” não é desenvolvido ao ponto de compreendermos como as divisões se estabeleceram, ou mesmo na possibilidade de interceptação do sinal, motivo primário da narrativa. Mas são justamente esses vácuos que poderiam gerar algum interesse maior nessa trama, como os mistérios do Hotel e o fatalismo do homem que se vê incapaz de sair do espaço, ou da senhora que não sabemos o nome. Esses pequenos recortes na história, até são capazes de redimensionar algumas sequências e provocar algum sentido distinto, mas não consegue sustentar a curta projeção arrastada de um longa que parece não saber para onde caminha.
Quanto mais as coisas progridem, mais o espectador passa a compreender as verdadeiras intenções do protagonista com a comentada viagem, ou a necessidade de fugir da realidade e dos conflitos sociais. A estrutura acaba se assemelhando ao realismo fantástico e os paralelismos de encontrar novas formas de debater sem uma diretriz totalizante. Em suma, o projeto sabe o que está propondo como discussão basilar, mas é incapaz de levar a temática para além de um ponto rasteiro que não sobrevive ao desenvolvimento das ideias. Por mais que a base fatalista e decadente possa levar o homem à colonizar outro planeta, o filme não se distancia das recorrências programáticas dos estereótipos do próprio gênero. Quando apresenta um elemento de comunicação capaz de mostrar uma ligação pessoal do protagonista com sua motivação futura, já inicia uma dramatização da questão política, interiorizando as discussões no campo subjetivo.
“Mar Infinito” procura nas digressões alguma motivação formal para se distanciar do consenso, mas encontra muitas dificuldades no ritmo e empaca a cada novo elemento introduzido. Próximo ao fim da projeção, o espectador se vê em um imbróglio temporal que vai e volta na intenção de criar uma dialética particular de como as coisas se desenrolaram. Porém, a obviedade das resoluções e desinteresse exponencial, faz com que o fim da projeção seja marcado pela expectativa dos créditos finais. As ideias possuem algum potencial interessante e há espaço para que elas saiam do lugar comum, o maior problema é que essa fórmula independente atinge com força o filme, que vai decaindo até ir ao outro planeta e procurar algum respiro em outro lugar. O maior retrato é que essa fugacidade não acrescenta ao drama de seu protagonista, apenas prolonga uma questão que é resolvida nesses traumas sociais expostos em poucos minutos.
Nolasco se esforça em sua interpretação, procura dar alguma vida nessa monotonia imperativa, se encerra na palidez de um filme que procura uma alma, um caminho a ser seguido e desenvolvido, mas só encontra confusão e tédio. Os conceitos propostos poderiam sobreviver por mais tempo se não fosse uma grave inclinação a transformar essa encenação em uma prosa de fatalismos e esteticismos na decadência do mundo contemporâneo. “Mar Infinito” parece manter o título como um fluxo exemplar de caras, bocas e cores padronizadas. Perde tanto tempo procurando o ritmo que esqueceu o assunto.