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Lightyear

Ao infinito e além

Por Bernardo Castro

Lightyear

Além de algumas animações novas, que estão sendo veiculadas nas plataformas de streaming da empresa, a Disney decidiu revisitar algumas de suas franquias de maior sucesso, seja por meio de refilmagens live-action ou expandindo o universo da trama. Nessa onda de spin-offs, “Lightyear” é, talvez, o mais aguardado pelos fãs. O ato de reimaginar uma das principais personagens de Toy Story, uma das séries de filmes de maior sucesso dos estúdios, instigou o grande público, que cresceu assistindo às aventuras do astronauta da frota intergaláctica e seu amigo cowboy – é imprescindível reconhecer o impacto da obra na cultura pop e no imaginário coletivo de toda uma geração.

Dirigido por Angus MacLane, conhecido por co-dirigir “Procurando Dory”, e contando com um elenco de dublagem original que, além de contar com o queridinho da galera Chris Evans (“Capitão América”, “Entre Facas e Segredos”, “Expresso do Amanhã”) no papel principal, é composto por outros nomes de certa relevância como Keke Palmer (“Nope”, “True Jackson” e “Prova de Fogo”), Taika Waititi (“Jojo Rabbit”, “O que Fazemos nas Sombras” e “Thor: Ragnarok”) e Uzo Aduba (“Mrs. America”, “Em Tratamento” e “Orange is The New Black”). Na versão brasileira, quem dá voz ao patrulheiro intergaláctico é, coincidentemente ou não, Marcos Mion, o “Capitão América brasileiro”, repetindo uma tendência da dublagem brasileira, que busca pôr celebridades para assumir alguns papéis em filmes de animação.

No geral, as dublagens são muito consistentes. Mion não deixa a desejar e entrega uma interpretação concisa, sendo possível identificar o uso de diferentes entonações e o envolvimento com as cenas. Como feito frequentemente, os diálogos são adaptados para ditames presentes no vernáculo popular do nosso país. No entanto, um dos aspectos que fatiga os espectadores adultos é a inserção forçada de memes e jargões populares nas falas da versão dublada, a exemplo do icônico “Meteu essa?”, do streamer Casimiro Miguel. A aplicação descontextualizada de frases como a supracitada deixam subentendido o descaso dos responsáveis por adaptar o roteiro com o fluir dos diálogos, soa forçoso e causa um estranhamento por parte de quem assiste.

Não é difícil inferir que há alguma influência de Taika Waititi na escrita do roteiro. O humor é calcado em movimentos rápidos e inesperados, que combinam com o ritmo frenético da narrativa ao passo que esta condensa cerca de algumas décadas em 105 minutos de duração. A introdução do gato-robô Sox e a dinâmica do mesmo com o protagonista é um dos principais alívios cômicos do filme e possivelmente o mais acertado deles.

A mudança dos traços em comparação com as animações das quais este filme deriva são dignas de nota. Os novos traços concedem ao filme uma nova roupagem levemente menos caricata, mas conservam o tom pueril da trama original. Também é válido ressaltar a inusitada e inesperada complexidade na temática, que aborda viagem no tempo e aplicação de teorias relativamente paradoxais no enredo, a exemplo da relatividade do tempo, bifurcações ou criações de novas linhas temporais, dentre outros, algo demasiadamente raro em uma animação infantil, voltada para um público que, em sua grande maioria, pressupõe-se que não compreende as temáticas englobadas.

Uma estratégia que a Disney/Pixar vem tecendo há algum tempo é a de incluir membros de minorias e se adaptar aos novos tempos. Não obstante, em “Lightyear” temos, como uma das personagens principais, uma mulher negra e lésbica, que, apesar da aparição limitada, tem grande importância para o desenrolar da trama. Temos também muitas etnias sendo contempladas – talvez Buzz seja um dos poucos personagens caucasianos na trama.

Apesar de não ter nenhuma grande lição de moral e as evidentes falhas na interação entre os protagonistas, “Lightyear” cumpre com a sua proposta de fornecer entretenimento para o público infanto-juvenil e, de quebra, transporta o público jovem da geração Z de volta para os tempos áureos da infância – provavelmente, este é o motivo da empresa investir em spin-offs e produções do gênero. O sentimento nostálgico muitas vezes fala mais alto do que a narrativa em si. Porém, o longa consegue se desvencilhar parcialmente de tudo isso para dar vida a algo novo e traz à linguagem tópicos inovadores. Acima de tudo, é muito gratificante poder ver uma personagem tão querida e nostálgica nas telonas novamente.

3 Nota do Crítico 5 1

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