Curta Paranagua 2024

Juntos Para Sempre

Outra vez….

Por Vitor Velloso

E lá vamos nós de novo, mais um filme onde a única intenção é arrancar algumas emoções de desavisados nas salas de cinema. Sendo funcional, aliás o insuportável “Quatro vidas de um cachorro” rendeu uma continuação, agora com um nome (necessariamente) brega: “Juntos para Sempre”. A pieguice é tão latente aqui, que já no trailer havia uma retrospectiva do que acontecia no anterior, o que demonstra a necessidade de produto comercial que irá buscar “novos públicos” (que não assistiram o primeiro). Curiosamente não há uma ligação tão sólida, tirando a questão dramática do cachorro com Ethan (Dennis Quaid). E claro, os diálogos terríveis, repleto de frases de efeito e excessiva exposição.

A direção é assinada por Gail Mancuso, que estreia sua carreira no cinema mostrando que não melhorou de seus produtos para televisão. O tédio é latente nessas produções, não há nada além de apelo catártico aos amantes de animais domésticos. Recusando-se fazer algo minimamente interessante, os estúdios de Hollywood mantém seu padrão de mediocridade diante do público e vai perpetuando sua imagem canhestra de apoio àquilo que irá lotar as salas de cinema através da alienação barata de seus espectadores. A narrativa não importa, pois a própria estrutura da mesma apenas fortalece o jogo esquemático sem fim de uma troca de situação ao longo da vida de algumas personagens desinteressantes, no caso todos. Mancuso não é hábil nem em manter o interesse geral diante de sua história, repleta de arquétipos, decide trabalhar em uma linguagem de televisão já datada para investir em catarses fáceis, acertando os gatilhos simplórios de uma identificação rasa. Não à toa reforça a fotografia lavada e blasé da maioria das produções para TV.

Todas as soluções fáceis estão presentes, assim como a cultura norte-americana e seus “valores” de virilidade duvidosa, espírito fálico decadente e estrutura familiar datada (pois as relações são parcialmente imutáveis). É um grande espelho à sociedade estadunidense atual, alienada por questões menores que dizem respeito à uma individualidade tamanha e uma recusa de discussão social da própria maneira de ser. Exemplo disso são as denúncias de maus tratos ao animal no primeiro longa.

Não há limites para a indústria, apenas cifras. E neste complexo frenesi financeiro vemos uma moralidade ser aplicada em um modelo que deveria estar isento deste tipo de ataque, pelo contrário, combatendo o mesmo. Mas onde há engravatados, há limitações e seguiremos na ignorância completa do fazer cinematográfico e da realidade social de um país que caminha para o buraco, tanto do produtor quanto do exibidor. Uma prova técnica disso, ou pragmática, é a relação de misancene que Mancuso aplica em sua obra, rejeitando trabalhar seus elementos cênicos a favor da cena, mas o contrário, todos reverenciando o momento e o lugar onde estão, fruto de um ufanismo cego e que brutaliza os olhos do espectador.

Se escrever uma crítica sobre um futuro sucesso de bilheteria é inevitável, pois a leitura de um primeiro parágrafo onde há a condenação dos meios de produção e a temática do longa, irá afastar parte dos leitores, sejamos honestos com o que mantiveram seus olhos até o fim do texto e terminemos o mesmo.

A liberdade cinematográfica é uma chave involuntárias às questões políticas, à necessidade de repressão, neste momento do Estado, apenas irá gerar solução que tenderão à dialética direta com os únicos capazes de realizar a pressão ao governo. Buscar inviabilizar a educação, a cultura e a produção artística no país, irá gerar uma reação pouco satisfatória aos covardes com canetas e colarinhos atrás da mesa, a denúncia e a resistência (não no termo partidário aqui, mas contra uma ideologia que irá massacrar suas existências), mas claro provocará uma dissolução imensa no mercado do audiovisual. Claro que os culpados diretamente são os políticos que sustentam essa agressão ao cinema, mas devemos pensar o processo inteiro e por fim compreender que a população merece o melhor em sua base, para que possamos ter incentivo direto.

Manifesto político é algo anacrônico, talvez o anti-imperialista e anti alienador seja um caminho perseguido por alguns, seguindo sem apoio de grande parte de seus companheiros.

“Juntos para Sempre” é um produto desonesto que não entretém, diverte, nem propõe um distanciamento do primeiro longa, apenas segue um caminho simplório de bilheteria e assim se manterá, sem dúvida não será o último do ano nestes moldes.

1 Nota do Crítico 5 1

Conteúdo Adicional

Pix Vertentes do Cinema

Deixe uma resposta