JFK Revisitado: Através do Espelho
Fatos conspiracionistas
Por Bernardo Castro
Durante o É Tudo Verdade 2022
Mesmo na época, o assassinato do presidente americano John Fitzgerald Kennedy, conhecido popularmente pela alcunha JFK, suscitou discussões na imprensa e desconfiança por parte da população no geral. Muitas teorias da conspiração surgiram acerca. Destas teorias, surgiu o filme “JFK: A Pergunta que não quer calar”, que gira em torno da investigação do procurador Jim Garrison acerca da duvidosa morte. Trinta anos depois, à luz de novas evidências, o diretor Oliver Stone faz um resgate à história no documentário “JFK Revisitado: Através do Espelho”. Acompanhado por um time de policiais forenses, médicos, historiadores e pessoas relacionadas ao mistério, além da presença ilustre dos atores Whoopi Goldberg e Donald Sutherland na narração.
Em uma palavra, o longa pode ser descrito como intrigante. A realização traz esse ar enigmático digno da trama que a inspira, deixando os espectadores imersos no mistério e atentos conforme as incongruências das declarações oficiais são elucidadas. É, de fato, um trabalho extenso e bem fundamentado e fruto de vasta pesquisa, que agracia anos de muita conjectura dos teóricos – algo que já era esperado pela notoriedade que o assunto possui. Geralmente, a adoção do uso extenso de imagens de arquivo é vista como o suprassumo da ausência de criatividade, beirando a má conduta fílmica. Felizmente, o cineasta decidiu por um caminho mais palatável e, por mais que menos artístico, com maior capacidade de imersão. Ele intervém raramente ao longo das duas horas de duração, mas contribui significativamente nas raras participações. A música também é essencial para a construção da narrativa. Passando quase imperceptível pelos ouvidos, ela centra o apreciador na tensão do enigma e o deixa cada vez mais intrigado – simples, mas incisiva. Dessa maneira, ela a trilha sonora não gera nenhum sentimento de estranheza e mantém quem assiste submerso.
As provas são postas à mesa: a bala mágica, que, nas circunstâncias do tiro, não poderia estar intacta da forma como estava, é um exemplo da inverossimilhança do relatório elaborado pelo comissário Warren durante a investigação. Os personagens envolvidos são desenvolvidos, explicitando a estranheza do acontecimento a ponto de incitar certas conclusões por parte do observador. Lee Oswald, provavelmente um bode expiatório, Kennedy e Allen Dulles são peças-chave do encadeamento de eventos e os conflitos internos entre estas personagens tiveram como consequência o trágico acontecimento que tanto teve repercussão. Entendemos como Kennedy, um político democrata antiguerra, com a desconfiança gerada pela tentativa de ser sabotado, agravou as tensões dentro do seu próprio governo e com as forças militares, que viriam a conspirar com a CIA para derrubá-lo – pelo menos, é o que o documentário deixa subentendido.
Basicamente, “JFK Revisitado: Através do Espelho” consiste na exibição em sequência de diversas provas que contradizem os documentos oficiais da época e põem em xeque a reputação e a confiabilidade dos órgãos governamentais.
A experiência, ao passo que avança para o último terço, começa a ficar extenuante e confusa, perdendo os seus contempladores para a condução enfadonha e a chuva torrencial de informações de difícil assimilação pela forma como são expostas rapidamente na tela, o que dispersa com facilidade quem está assistindo. Sendo assim, se torna levemente desinteressante para quem não é interessado no assunto e não tem familiaridade com o funcionamento das engrenagens governamentais. Como tese, no entanto, ele apresenta uma construção epistêmica sólida e alicerçada em indícios concretos. É necessário também reconhecer os esforços do diretor para tornar a explanação mais didática. Esses esforços também falham e acabam por fornecer alguns momentos de hiperexposição e não deixam muito espaço para nenhum tipo de subjetividade por parte do realizador.
Para os apreciadores do cinema documental experimental ou do cinema documental independente, “JFK Revisitado: Através do Espelho” pode não ser do seu agrado, uma vez que é calcado nos moldes do cinema documental norte-americano mainstream. Em outras palavras, ele se limita a montagem fria intercalando relatos, imagens de arquivo e provas textuais, com raros momentos de insights das vozes que conduzem a obra. Porém, um feito notável da direção foi não afirmar enfaticamente ou apregoar nenhuma espécie de verdade absoluta, restringindo-se à pura e simples apresentação dos fatos para que a conclusão seja tirada posteriormente. Em conclusão, esta não é necessariamente uma obra prima da sétima arte, mas garante o entretenimento do público e elucida debates importantíssimos para entender a política global da época.