Curta Paranagua 2024

Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio

O fim de de uma franquia?

Por Vitor Velloso

Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio

“Invocação do Mal” é uma franquia que caiu facilmente na graça do público, com alguns jumpscares ocasionais mas bem utilizados, uma atmosfera que construía um crescendo para o clímax apoteótico das possessões e um grande compilado de histórias que carregam o nome da família Warren (o que aumenta vertiginosamente os lucros de qualquer produto que esteja ligado à marca), estava claro que a indústria tinha alguns planos pro casal. O primeiro longa possuía um orçamento “modesto”, que girava em torno de 20 milhões de dólares e conseguiu um retorno de aproximadamente 320 milhões de Bidens. Já o segundo filme, teve o dobro do orçamento e um retorno praticamente idêntico ao de seu antecessor. Isso gerou um alerta claro para os produtores, já que “Annabelle” possuía um investimento menor e estava conseguindo chegar perto do nível de arrecadação. Aconteceu o esperado, um aumento no orçamento (menor que o último salto) e a saída de James Wan da direção, para assumir parte do roteiro e da produção. Resultado: o fiasco que é “Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio” de Michael Chaves (diretor do péssimo “A Maldição da Chorona” e do tenebroso curta “The Maiden”). 

Não apenas o pior longa da trilogia, mas uma falta de consciência narrativa que faz com que cada segmento seja uma bagunça completa. A chatice toma conta aqui, nenhum dos eixos narrativos possui um desenvolvimento mínimo, tudo é esparso e incompleto. O evento que dá pontapé inicial para os acontecimentos até possui uma dinâmica funcional, com uma espécie de dupla realidade, entre o material e o que a possessão causa na mente da vítima. Esse jogo é interessante por ser fragmentado entre diversos pontos de perturbação, a necessidade de sair daquela região, os latidos incessantes, o álcool, a música, o bêbado insuportável etc. Mas apesar de todos esses elementos “Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio” não parece interessado em criar uma tensão para o crime, o que dificultaria a nossa perspectiva diante do julgamento que viria a seguir, a verdadeira intenção é criar uma proposta de ruptura do “normal”, para a partir disso, introduzir uma narrativa tediosa que envolve cultos satânicos estilizados e estereotipados, um julgamento moral que apenas toca no campo religioso e uma esquemática que quebra as expectativas dos jump scares. Nessa linha, fica claro que Chaves desperdiça algumas boas chances de tirar o espectador da cadeira. Nos primeiros minutos, uma cena que envolve um rato se escondendo em um buraco na parede, demonstra que o diretor possui uma paciência louvável para construir um jumpscare e uma inabilidade assombrosa de concretizar isso. 

Conforme a história avança, o público acompanha uma série de histórias paralelas que são conectadas como “missões paralelas” para alcançarmos o “chefe final”. E aqui alguns elementos chamam atenção: a introdução de uma figura humana para ser antagonista da situação, a perda de tempo excessiva com uma investigação que serve como trampolim para alguma informação extra e a exclusão absoluta da filha dos protagonistas. A intenção é clara, a instituição “casamento” precisa ser fortalecida para que a franquia possa manter os eixos em funcionamento para futuras obras e a falta de perspectiva que esses novos “anexos” (obras derivadas) possam surgir do nome “Invocação do Mal”. Está claro que existe uma saturação aqui, onde essa fórmula de sucesso encontrou um platô, uma zona de conforto, onde alguns arquivos dos Warren vão ser revirados, sem o êxito de outrora.

O esquema bolado por Chaves é pouco efetivo na maior parte dos tempos, entre os delírios de alguns recortes embaçados, câmera tremida e desfoques, sobra para sequências que utilizam pouca luz e um direcional mais nítido, transformar o barato visual do terror em algo que funcione de maneira isolada. Alguns irão argumentar em torno de uma abordagem mais particular de heranças do “pós-terror”, mas tão delirante quanto o argumento é a própria ideia por trás de “influências” diretas na forma que Chaves imprime aqui, contudo, uma breve espiada na carreira do cineasta coloca por terra o argumento dos estruturalistas pró-criacionistas.

Algumas homenagens são prestadas, não apenas ao que James Wan formalizou, mas a outros clássicos do cinema. A referência ao “Exorcista” é particularmente explícita. Porém, pouco funcional, mal articulado, com eixos isolados que pouco (ou nada) acrescentam à trama principal, “Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio” pode ser decepcionante para parte dos fãs, mas sem dúvida é uma queda violenta na qualidade de uma franquia que vem decaindo projeto após projeto. Vamos ver se a bilheteria irá refletir esse fracasso no próximo passo. 

2 Nota do Crítico 5 1

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