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Homens de Barro

A questão do comprometimento

Por Vitor Velloso

Homens de Barro

Uma obra não precisa ter o roteiro mais criativo para poder se destacar das demais, especialmente quando parte da história é sustentada por determinados clichês estabelecidos na indústria. Os maiores problemas de “Homens de Barro”, de Angelisa Stein, são não conseguir utilizar esses referenciais a seu favor, contar com algumas interpretações comprometedoras e trabalhar com um som que claramente não está finalizado nem pronto para circular comercialmente.

A estratégia de anunciar a tragédia desde os primeiros minutos, tentando criar algum grau de interesse no espectador sobre como os personagens chegaram até aquele momento, pode até funcionar para gerar alguma expectativa, mas o desenvolvimento da obra é tão frágil e conta com tantas sequências constrangedoras que é difícil se apegar à narrativa e querer sustentar a presença na sala de projeção até o final “arrebatador”. Assim, quando acompanhamos a história dos pais e seus conflitos pessoais nos primeiros minutos, com diálogos forçados, interpretações comprometedoras e situações programáticas, beirando o artificialismo, “Homens de Barro” já mergulha em um espiral negativo, perdendo força progressivamente até o último momento. As cenas dramáticas não funcionam, e a contextualização desse cenário traumático gera desconforto pela tentativa desesperada de provocar algum grau de empatia no público, mesmo que feita às pressas e sem o menor cuidado no roteiro. A narração em off não auxilia o filme a criar dramaticidade; pelo contrário, retira o peso das situações por querer ser didática de uma forma desnecessária. Aliás, vale mencionar que o anúncio do fim da participação dos pais no projeto até consegue ser minimamente eficiente, por não precisar explicitar suas ações, além de criar alguma dubiedade na história, mas é incapaz de superar a fragilidade do salto temporal que é feito em seguida.

Outro tópico que prejudica o ritmo e o andamento do longa é a sensação de que todo o projeto seria mais eficiente em um formato de curta-metragem. Não por acaso, diversas cenas se prolongam por tempos intermináveis, com sequências inteiras que poderiam ser descartadas, diálogos superexpositivos e, claro, novamente, as interpretações comprometedoras, especialmente nas que explicitam os conflitos a serem resolvidos no futuro. Tudo parece absolutamente artificial, com os atores falando as linhas do roteiro, mas sem expressar as emoções das cenas, sem trabalhar a dramaticidade de seus personagens. A propósito, os atores não são os maiores culpados por todas essas fragilidades e constrangimentos gerados; o roteiro se mostra insustentável e programático para articular os clichês mais óbvios de sua narrativa, com linhas tão absurdas que tornam o trabalho dos atores substancialmente mais difícil. Dessa forma, o longa tem dificuldade de se manter sustentável, sendo capaz de provocar as reações mais controversas em seus espectadores.

Além da fragilidade do roteiro e das atuações pouco convincentes, outro fator que compromete a experiência é a direção pouco inspirada, que não consegue imprimir personalidade à obra. O filme não se destaca visualmente, com uma cinematografia genérica que não explora o potencial dramático das cenas. O uso de planos e enquadramentos previsíveis reforça a sensação de um projeto que não ousa nem busca novas abordagens para a narrativa. A montagem também não contribui para um ritmo mais dinâmico, tornando a experiência arrastada e repetitiva.

Outro problema notável é a trilha sonora, que parece ser utilizada de maneira mecânica, sem agregar emoção ou intensidade às cenas. Em momentos que deveriam ser impactantes, a música soa deslocada ou excessivamente intrusiva, quebrando qualquer possibilidade de imersão. Esse uso equivocado de elementos sonoros evidencia ainda mais a falta de refinamento técnico do filme, que, além dos problemas narrativos e interpretativos, falha em estabelecer uma identidade sonora coerente.

Por mais que algumas temáticas presentes em “Homens de Barro” sejam relevantes para discutir características da sociedade brasileira e da região, não há uma base narrativa e dramática para assegurar a permanência das pessoas na sala de cinema. Especialmente pela enorme dificuldade de escutar algumas falas, por conta do som baixo e de qualidade questionável, criando ainda mais distanciamento durante a experiência. No fim, a obra se torna um esforço frustrante, que tenta construir um drama de impacto e com sutilezas, mas tropeça em suas próprias limitações. Talvez apostar em outro formato fosse uma estratégia melhor para poder contar essa história, um curta-metragem, por exemplo, iria funcionar melhor. 

1 Nota do Crítico 5 1

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