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Histórias Que É Melhor Não Contar

A inconstância em blocos

Por Vitor Velloso

Histórias Que É Melhor Não Contar

É senso comum retomar a máxima acerca das inconsistências em antologias, especialmente quando as distâncias entre os blocos se tornam cada vez mais gritantes. No caso de “Histórias Que É Melhor Não Contar”, de Cesc Gay, a avaliação precisa ser diferente: não apenas por uma história ser mais interessante e/ou engraçada que outra, mas porque nenhuma consegue se destacar, e todo o projeto acaba nivelado pela mediocridade.

Segredos e fofocas conectam as pequenas histórias que acompanhamos ao longo do filme. Em alguns casos, a comédia pode funcionar de forma isolada, seja pelo absurdo das situações, seja pela reação inesperada de determinados personagens. Contudo, apenas duas histórias realmente conseguem arrancar algum riso do espectador; as demais soam aborrecidas pela falta de comicidade ou deslocadas devido à sequência escolhida pela montagem. De toda forma, com exceção da sequência do restaurante (que é realmente constrangedora), o projeto parece flutuar em uma estrutura engessada e padronizada, tentando criar algum tipo de desconforto no público por meio das interações dos personagens.

Até certo ponto, isso funciona, especialmente graças às atuações, com destaque para Anna Castillo, que consegue traduzir o caos das situações por meio de sua performance. Ainda assim, esbarra em um roteiro preguiçoso e em uma montagem repleta de cacoetes, que arrasta a experiência para um lugar-comum frequente. Assim, “Histórias Que É Melhor Não Contar” torna-se tão irregular que, ao longo de uma mesma história, oscila entre tentar criar situações absurdas, explorar as reações dos personagens e gerar humor a partir dos diálogos e interações. Nesse sentido, a primeira sequência define bem o projeto: todas as ações são diretas e imediatas; os diálogos, inicialmente miméticos, tornam-se dispositivos para gerar confusão dramática; e a montagem segue uma linha didática, preocupada em expor tudo de forma explícita.

Aliás, a direção e a fotografia seguem essa mesma lógica, reforçando cada obviedade das cenas. Criam-se pequenos ciclos de piadas que, ao chegar ao ponto de saturação, são aliviados pelas reações de choque ou de normalidade dos personagens. Nenhuma cena é plenamente engraçada, mas a maioria é minimamente divertida, ainda que com um humor questionável. A sequência com Àlex Brendemühl, por exemplo, tem uma comicidade frágil, mesmo contando com uma dinâmica fluida entre os atores e um bom tempo de reação para gerar desconforto.

Dessa forma, “Histórias Que É Melhor Não Contar” se desenvolve como uma antologia que, aos poucos, desmorona em repetições, com pouco impacto cômico e uma linguagem que segue um padrão industrial pasteurizado, fragilizando a experiência como um todo. Ainda assim, é possível se divertir com algumas breves sequências — com exceção da cena no restaurante (vale reforçar). Há momentos como a traição parcial desajeitada, o amigo que precisa “tirar o atraso” ou o marido que sofre um ataque de sincericídio, transformando a cena em uma espécie de sketch do Porta dos Fundos. Outro destaque é o trecho das amigas na audição: apesar de a montagem não contribuir para o ritmo das fofocas e intrigas, há uma boa dinâmica na apresentação breve de três personagens por meio de um conflito. O desenvolvimento dessas personagens é objetivo, e parte da graça da cena reside no que não é mostrado, mas compreendido pelo espectador. Esse momento se destaca por não se prender às convenções didáticas nem tratar sua própria piada como uma simples repetição dos absurdos narrativos.

“Histórias Que É Melhor Não Contar” é um filme frágil, que oscila entre a mediocridade e um grave declínio no meio da projeção. Sua busca por um humor e uma linguagem excessivamente didáticos impede que a boa dinâmica criada pelos atores se traduza para a montagem e a direção, que parecem sempre procurar um porto seguro comercialmente arredondado, palatável e engessado. Embora tenha alguns bons minutos isolados, o filme é incapaz de sustentar uma única história sem tropeçar nos cacoetes mercadológicos das antologias que mais se assemelham a sketches do que a narrativas coesas. Mesmo quando algumas antologias falham em sua estrutura geral, o brilho individual de suas sequências pode compensar. Aqui, nem isso acontece.

2 Nota do Crítico 5 1

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