O evento quinzenal, toda terça-feira, de 23 de fevereiro e 01 de junho de 2010, que tem entrada gratuita, com a retirada de senhas uma hora antes, estimula a memória do cinema brasileiro e internacional pelos olhos de convidados que fizeram fama no meio cinematográfico.
Saroldi apresenta o palestrante da vez, Sílvio Tendler, colocando a história no cinema e o cinema na história. O encontro começa com o áudio de um programa de rádio em primeiro de abril de 1964. Era o depoimento especial JB. Jango tinha ido a Brasília. Classe média feliz, pela queda do poder, e porteiros cabisbaixos.
A invenção do cinema possui a dúvida de seu inventor. Thomas Ava Edison (Milan, Ohio, 11 de Fevereiro de 1847 — West Orange, Nova Jérsei, 18 de Outubro de 1931), americano, que buscava o entretenimento, registrando mais de mil patentes sobre elementos do cinema. Do outro lado, os franceses Auguste Marie Louis Nicholas Lumière (Besançon, 19 de outubro de 1862 — Lyon, 10 de abril de 1954) e Louis Jean Lumière (Besançon, 5 de outubro de 1864 — Bandol, 6 de junho de 1948), os irmãos Lumière documentavam cinematograficamente o conhecimento social. Enquanto o primeiro aumentava o capitalismo, com sua arrecadação das fontes de lucro, os últimos almejavam dividir os objetos e as experiências com a sociedade e o mundo.
Irmãos Lumiere. A primeira projeção pública de apresentação do invento ocorreu em 28 de Setembro de 1895 na primeira sala de cinema do mundo, o Eden, que ainda existe, situado em La Ciotat, no sudeste da França. A sessão foi inaugurada com a projeção de La Sortie de l’usine Lumière à Lyon (A Saída da Fábrica Lumière em Lyon). As imagens com camera fixa, parada, realizam o primeiro estudo da sociedade não encenado, com as roupas da época (de piquenique, de beiras de lago). L’Arrivée d’un train en gare de la Ciotat (Chegada de um Comboio à Estação da Ciotat) mostra plano único, um registro do que acontecia naquele momento.
Os irmãos Lumière desenvolveram também o primeiro processo de fotografia colorida, o autocromo (‘’autochrome’’), a placa fotográfica seca, em 1896, a fotografia em relevo (1920), o cinema em relevo (1935), a chamada ‘’Cruz de Malta’’, um sistema que permite que uma bobine de filme desfile por intermitência. Já Thomas Edison teve um papel determinante no surto da indústria do cinema. São estes os aparelhos que inventou ou lançou no mercado: Cinetógrafo, máquina de filmar; Cinescópio, caixa com imagens filmadas vistas no seu interior; Cinefone, versão do cinescópio com som síncrono gerado por um fonógrafo; Vitascópio, projetor de filmes em tela.
Há apenas um panorama da camera. Seus personagens (figuração expressiva) e a fumaça da pólvora são colorizados, fotograma a fotograma. Com efeitos de movimentos, tudo muito teatral. Repare no saco murcho dos ladrões para facilitar o deslocamento de seus atores e o transporte. Neste filme há o plano famoso quando se atira para a plateia, a fazendo abaixar no cinema, por incrível que pareça. O cinema americano não vivenciou essas histórias, portanto vai trabalhar com a bíblia e arte medieval.
obra satírica de ficção científica baseada na obra de Júlio Verne. Este curta-metragem de Georges Melies mostra uma das visões fantasiosas que os homens possuíam da Lua nos primeiros anos do século XX. Cinema como experimentação. Um dos tripulantes da nave é o Presidente da França junto com políticos franceses. Imagens possuem ritmo diminuído.
A viagem futurista é toda construída em estúdio. A tripulação é surrealista, vai a Lua, um lugar exótico, de guarda-chuva. Uma crítica ao novo e a própria arrogância da França. É um cinema invenção. As 30 cenas apresentam qualidades de estilo e imaginação. Neste momento há quase tudo, menos a linguagem cinematográfica, que foi percebida por um italiano em uma gôndola: efeitos especiais, trucagem.
A queda da dinastia Romanov (Padenie dinastii Romanovykh), de Esther Shub
União Soviética, 1927, 35mm, preto-e-branco , 88 minutos, usando imagens de arquivo, apresenta uma cronologia da Rússia de 1913 a 1917. Mostra os líderes do Duma, a nobreza e os camponeses, soldados e marinheiros, a burguesia e o Czar. Documentário pós-segunda guerra. O objetivo: conhecer o mundo pelo cinema, pelo Cine Atualidade. O cinema supria a informação pelo mundo, já que não havia televisão, que faz o cinema perder o lado político. Panorâmica aérea. Posam para câmera. Há aqui todos os elementos cinematográficos.
O diretor é racista e transpassa para o filme. Introduz-se a política no cinema. Há montagem, planos, topas medievais, em movimento de camera, salvando os brancos. Representa um enorme salto de qualidade técnica. Hollywood politizou o cinema. Quem começou foram os comunistas. “O cinema é o mais importante das artes”, dizia Joseph Stalin, ditador da ex-URSS. Era um ponto de vista. Propaganda e cinema, assim como Adolf Hitler fazia na Alemanha.
“O Encouraçado Potenkin” (Bronenosets Potyomkin,1925), dirigido por Sergei Eisenstein. Roteiro de Nina Agadzhanova e Sergei Eisenstein. Fotografia de Vladimir Popov e Eduard Tisse. Música de Edmund Meisel. Beatrice Vitoldi é a mulher que carrega a criança, na cena mais famosa do massacre de Odessa. Durante a revolução bolchevista de 1905, marinheiros estão no cruzador Potenkim e se revoltam devido os maus tratos sofridos. A população de Odessa apóia-os, organizando-se em praças públicas em protestos contra o czarismo. As tropas do governo massacram os rebeldes, o que causa mais revolta. Há a solidariedade da população.
“Miséria no Borinage” (Misère au Borinage, 1933) é belga, dirigido por Henri Storck e Joris Ivens. Primeiro filme militante sobre uma greve de mineiros de carvão. Cinema de não atores. Os “atores” interpretam o próprio papel na vida real. A mãe não é atriz, deixa-se filmar. Lá, derrama-se o leite, aqui, no Brasil, queima-se o café. Uma colagem do cine atualidades dentro deste filme político. Operários diferentes da polícia pelo detalhe do chapéu. Há cenas da crise dos Estados Unidos em 1929. Foi rodado clandestinamente com a ajuda dos próprios mineiros, que queriam registrar para o mundo a história dos seus 204 mortos por má condição de trabalho.
“O Evangelho Segundo Teotônio” é um documentário brasileiro lançado em 1984. Traça um perfil do usineiro e político alagoano Teotônio Vilela, da infância até sua morte, vítima de câncer. Conta com depoimentos do próprio Teotônio e de Miguel Arraes, Leonel Brizola, Carlos Castelo Branco, Tancredo Neves, Luís Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. “Tuma é o embaixador do arbítrio”, diz-se. Uma criança deita o ouvido a terra, fazendo alusão a sua pátria, à alma nacional.
Fiz um percurso da história do cinema e a relação do cinema com a história.
Muito difícil colocar os filmes em bancas de jornal, em vender os filmes a preços populares. A minha produtora é pequena, os custos são altos. Poderíamos propor ao MEC (Ministério de Educação e Cultura) passar filmes nas escolas desde a infância dos alunos.
Cinema Novo impregnou, deu para o Brasil novos atores, novos filmes, renovação política. Cacá Diegues, o único remanescente deste gênero, que visava expurgar a violência social.
Meu arquivo foi feito aos poucos. Consegui muita coisa no lixo, em galpões vazios. Não havia memória. Celina Vargas, quando assumiu o Arquivo Nacional, organizou e catalogou tudo. Agora é um arquivo público, um patrimônio nacional. Do lixo fui montando o acervo. Há muita gente de olho no meu arquivo porque ele é bom. Pago sala, IPTU, ar-condicionado, faço tudo isso e ele não me dá retorno. Se você quer algo dele, terá que me ajudar a mantê-lo. Todos riem.
Ensino Youtube aos meus alunos. Os jovens democratizam a educação quando compartilham arquivos, filmes. Não vou dizer que sou a favor, mas também não sou contra. Quem baixa um filme é porque não tem dinheiro. Quem compra na loja gosta do acabamento, da qualidade. Não posso competir com o camelô da esquina.