O evento quinzenal, toda terça-feira, de 23 de fevereiro e 01 de junho de 2010, que tem entrada gratuita, com a retirada de senhas uma hora antes, estimula a memória do cinema brasileiro e internacional pelos olhos de convidados que fizeram fama no meio cinematográfico.
Saroldi apresenta o quinto encontro do “gênero cinematográfico, em fotografia de alto contraste e preto-e-branco” FILM NOIR: O MISTÉRIO DE COR CINZA. O mistério e o encanto de um gênero que, apesar do nome francês e de importantes filmes na França, ganhou forma definitiva em Hollywood a partir dos anos 40.
Sergio Batista
Sou economista de formação. Era sócio de uma empresa que foi um fracasso. João (Máximo), um amigo, apesar de ser tricolor, ajudou-me. Todas as palestras são complicadas para mim, porque reúno muito material. Sou perfeccionista. Dos 23 filmes pesquisados, passei para dez. Agradeço a delicadeza da apresentação do Saroldi. Film Noir é uma expressão francesa de um gênero americano criado na América ou é uma tendência artística dentro de um gênero macro? Eu mesmo tenho duvidas sobre a temática.
Fiz um ciclo de palestras “Encontros às quintas” ilustradas sobre o cinema e imagem na Modern Sound, e tento patrocínio para continuar depois de três anos. Aqui está vazio, não sou muito prestigiado. Talvez seja o jogo Flamengo e Corintians. Ele diz para suavizar o descontentamento.
Três elementos estéticos. Alto contraste de sombras e luzes (luz que grita para sair, câmera baixa e dimensão ainda mais do que realmente é); profundidade de campo (foco no personagem) e travellings longos. As músicas eram soturnas e ameaçadoras.
Exibidos trechos dos filmes “Império do Crime” (1955) e “Força do Mal” (1948). O primeiro, “The Big Combo” (no original), é dirigido por Joseph H. Lewis. Com Cornel Wilde, Richard Conte, Brian Donlevy, Jean Wallace, Robert Middleton, Lee Van Cleef, Earl Holliman, Helen Walker, Jay Adler, John Hoyt, Ted de Corsia, Helene Stanton, Roy Gordon, Whit Bissell, Steve Mitchell. O tenente de polícia Diamond recebe ordens para interromper a vigilância que fazia do sr. Brown, suspeito de ser chefão da máfia, pois a operação estava custando muito dinheiro ao departamento sem dar resultados. Diamond faz uma última tentativa para conseguir provas, aproximando-se da namorada de Brown, Susan Lowell. O segundo “Force of Evil” no original é dirigido por Abraham Polonsky. Com John Garfield, Thomas Gomez, Marie Windsor. Joe Morse (John Garfield) é um inescrupuloso e ambicioso advogado que, representando o chefe do crime Ben Tucker (Roy Roberts), quer unificar todo o “jogo do bicho” em uma única e poderosa organização. Os filmes possuem uma iluminação sui-generes, única e incidental nos detalhes.
Sob o jugo do Nazismo, muitos diretores importantes foram forçados a emigrar (incluindo Fritz Lang, Billy Wilder e Robert Siodmak). Eles levaram em sua bagagem técnicas que desenvolveram (principalmente o ponto de vista subjetivo e psicológico) e fizeram alguns dos mais famosos films noirs nos Estados Unidos. Marlene Dietrich, uma das atrizes. Quase toda música era germânica. Os Estados Unidos é capaz de acolher e integrar em seu meio artístico. O cinema americano, linear e comum, muda e influencia-se com a quantidade de artistas estrangeiros. O período é de 1941, com “Relíquia Macabra”, até 1958, com “A marca da maldade”.
Se o Saroldi dissesse que só teria quinze minutos e um filme, eu escolheria “Pacto de sangue” (1944), um dos vinte melhores que já vi. Dirigido por Billy Wilder, que era um verdadeiro tirano com o roteirista. A fotografia é fantástica. Texturas da luz. Dá pra se ver as poeiras. Quanta escuridão pode ser colocada em um enquadramento! Exagera o estilo preto-e-branco, exemplificando a cor interna de seus personagens. Com Fred MacMurray, Barbara Stanwyck, Edward G. Robinson, Fortunio Bonanova, Jean Heather, Porter Hall, Tom Powers, Byron Barr, Richard Gaines, John Philliber. O corretor de seguros da Pacific All-Risk Walter Neff conhece a sedutora Phyllis Dietrichson e ambos se apaixonam rapidamente. O único senão é que Phyllis é casada. A femme fatale convence Walter a realizar um plano macabro: assassinar o sr. Dietrichson após fazer uma apólice de seguros para ele.
“Os assassinos” (1946). “The Killers”, dirigido por Robert Siodmak. Com Burt Lancaster, Ava Gardner, Edmond O’Brien, Albert Dekker, Sam Levene, Donald MacBride, Charles D. Brown, Vince Barnett, Virginia Christine, Jack Lambert. Dois assassinos profissionais matam um frentista e um investigador da companhia de seguros resolve investigar o caso apenas aparentemente trivial. Foi refilmado em 1964, por Don Siegel, inspirado em conto de Ernest Hemingway. Os travellings (continuidade dos movimentos) são longos, sem interrupção e sem cortes. A grua cobre o desenrolar da ação.
“Pacto sinistro”, de Alfred Hitchcock (1951). Há a cena sutil da imagem sendo vista pela lente do óculos que caiu. “A morte passou por perto”, de Stanley Kubrick. Eram filmes de baixo orçamento, que era uma das características do cinema noir.
No cinema noir, tudo é coordenado incrivelmente. Não restrito aos Estados Unidos. Tinha o realismo poético francês. Os bandidos possuíam código de honra. Havia voz em off (narração), que dizia o que se passava na alma do personagem. Flashbacks. Ambientação quase de noite e esfumaçada. Alguns usavam ombreiras charmosas. Sobretudo para o policial vira uma norma. Pequenos conjuntos de jazz tocando ao vivo. Cigarros. Tramas elaboradas. Personagens ambíguos. Sexo e violência recorrentes. Preferência ao primeiro plano.
“Colecionar Scores (trilhas sonoras) é coisa de doentes. O homem não foi feito para trabalhar. Era um charme para fumar. Orson foi estudar na Alemanha. Não esquecer de “Anjo Azul”, “Cidadão Kane”, “A dama de Xangai”, “O mensageiro do diabo”. “Ostracismo do cinema alemão após a guerra”, algumas digressões que terminaram a sua palestra.
Personagens: femme fatale, protagonistas moralmente ambíguos e alienados, bodes expiatórios, personagens violentos ou corruptos.
Ambientes: urbano, contemporâneo, locações exóticas ou remotas, casas noturnas e/ou clubes de jogos/apostas.
Elementos cinematográficos: fotografia em preto-e-branco, ou em cores lavadas (não-saturadas), ângulos baixos de filmagens, ângulos incomuns e técnicas expressionistas de fotografia, seqüências e efeitos visuais incomuns, cenários noturnos e interiores sombrios, uso de narração.
Elementos temáticos: senso de fatalismo, obsessão sexual/romântica, corrupção social ou humanitária inerente, emboscadas, niilismo.
Elementos de roteiro: intrincado, flashbacks, sobreposições narrativas, presença do protagonista em praticamente todas as cenas, história contada sob perspectiva criminal, assassinato ou roubo como centro da história, falsas acusações, traição, inevitabilidade do fracasso do protagonista, final em aberto ou ambíguo.