Curta Paranagua 2024

Fora de Série

Comum e ousado

Por Vitor Velloso

Hollywood sempre investiu em longas do chamado “coming of age” (traduzindo de maneira menos pomposa, amadurecimento, pois além de dar retorno, mantém o público parcialmente engajado no filme, já que a grande maioria dos espectadores se enxergará nos lugares das personagens). “Fora de Série” é um exemplo de reciclagem de um gênero já saturado no cinema que dá certo, por romper com diversas barreiras comuns.

Dirigido por Olivia Wilde, o longa irá contar a história de duas amigas, Amy (Kaitlyn Dever) e Molly (Beanie Feldstein), que estão saindo do Ensino Médio e encaminhando à faculdade, porém, se dão conta de não ter curtido a vida em nenhum momento, sendo excessivamente preocupadas com boas notas. Ao perceberem que os que enchiam a cara etc. também vão para a faculdade, as duas decidem mudar o jogo, consequentemente o estigma que as pessoas têm delas.

A sinopse está longe de ser original, ela segue o padrão industrial, sem formular novas questões, mas sua abordagem foge essa padronização, pois compreende as diferenças deste modelo criado na década de 80, pro mundo contemporâneo. Assim, a leitura que se tem dos jovens, é um pouco mais honesta que de outro projetos, em 2019. Mas isso não quer dizer tratar-se de uma realidade tão crível, já que arquétipos ainda são mantidos e deve-se ter em mente que é um retrato ficcional de uma classe média norte-americana.

A química das duas atrizes é um dos motivos que irá prender o espectador, as duas juntas em cena é ponto alto. E a relação que a câmera de Olivia possui com Dever e Feldstein, mantém um ritmo constante da encenação, que é bastante clássica. Sua misancene cai no senso comum, mas compreendendo algumas diretas necessidades do digital. A fotografia se mantém na neutralidade, aquela ideia lavada, já comum em Hollywood. “Fora de Série” é repleto de “mas” e “poréns”, dessa forma, ainda que seja sólido em alguns aspectos, é frágil em outros. A própria direção que parece estar sempre ciente de suas atitudes, às vezes demonstra as intenções exclusivamente mercadológicas, caindo na mesmice que diz estar indo contra. A montagem está em sintonia com a obra, não consegue ser estóica demais já que a temática exige uma mínima agilidade, mas é ortodoxa o suficiente para não romper com as necessidades da indústria.

Estruturalmente não há muito o que ser comentado, vide uma progressão linear sem muitas digressões em seu desenvolvimento. Mas o roteiro ele possui alguns pequenos excessos que devem ser comentados. O impulso de ser engraçado o tempo inteiro, faz com que o filme invista em situações que não acrescentam dramaticamente e por vezes, por forçar a barra, também não é engraçado. Então, ainda que existam momentos divertidos, eles não são tão constantes assim, consequentemente alguns argumentos podem acusar o ritmo do projeto de ser excessivamente burocrático em alguns pontos, e ainda que haja discordância, burocrático nunca é uma palavra majoritariamente ruim para a grande maioria dos filmes Hollywoodianos.

Admiravelmente o longa está conquistando o público e crescendo no boca a boca, uma façanha que não surpreende mas é um fenômeno mercadológico curioso, pois além de sua bilheteria ampla, a crítica vem defendendo o filme. E sabemos, de longa data, que a pomposa classe dos “criticos” (sem acento mesmo), costuma ter preconceito com este tipo de lançamento, uma bobagem sem tamanho, já que grande parte dos mesmos diz em rodas de conversa adorar “Clube dos Cinco”. Hipocrisia.

“Fora de Série” está longe de ser um fracasso em qualquer área citada acima, mas longe de possuir um acerto monstruoso, com exceção das duas atrizes, assim não sai do lugar comum, mas nem no limbo da mediocridade. Na verdade, alguns pontos de discussão são bastante interessantes, ainda que o diálogo por vezes seja enfadonho.

Todas as pieguices aqui presentes são compreensíveis, se colocarmos em perspectiva aquilo que sempre foi produzido nestes moldes, mas ainda assim pequenas doses de originalidade no trato que as reações dramáticas se dão no ecrã, geram pequeninos lampejos de importância ao projeto.

Que Olivia Wilde continue fazendo mais filmes e melhorando em seu trabalho que como atriz, já conhecemos. É possível que a dupla de atrizes forme uma parceria com constância e fama maior.

3 Nota do Crítico 5 1

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