Percepções “Viajandonas” no Festival de Berlim 2016
Por Fabricio Duque

Direto do Festival de Berlim
10 de fevereiro de 2016

Meus amigos Francisco Russo e André Miranda sempre “bateram” na tecla comigo de que eu deveria chegar uns três dias antes das coberturas dos festivais internacionais, para que fosse possível acostumar com a cidade, desacelerar da chegada e descansar do fuso horário e afins. Nunca dei ouvidos, até desta vez em Berlim. Estavam certos. Definitivamente e sem questionar. 
É importante chegar sem a corrida obrigação de já mergulhar no Festival, que começará para mim no terceiro dia (hoje, dia dois, foi apenas para pegar a credencial de imprensa e a bolsa – que este ano está fantástica de tanta funcionalidade. Este tempo é mais que necessário para “perambular” sem “rumo” e absorver o “ser comportamental” das pessoas de Berlim. Ir ao supermercado, encontrar restaurantes baratos (e de alimentação deliciosa) e começar a entender a língua, que cria um desespero inicial (mesmo depois de um longo período de estudo), mas quando se consegue diferenciar palavras e compreender o contexto, a felicidade vem gratificante e incondicional. Ou comer “coisas” que deixa o “visitante” completamente enjoado. Sim, “rodar” é a chave. E inevitavelmente, para quem pensa demais sobre tudo, as ideias “viajam” longe e fazem com que seja impossível o não escrever, como por exemplo, revisitar o filme “A Praia do Futuro”, que aborda tema semelhante que foi recentemente instigado em “Brooklyn”, cuja percepção atinge que “lar é lar”, independente do “recebido” da família ou do que se constrói por instantânea afinidade. 
O protagonista de “A Praia do Futuro” reverbera existencialmente as metáforas, que inicialmente resignado, encontra na nacionalidade alemã a possibilidade de sair de uma Praia do Futuro em que não visualizava um futuro (“recebido”) para experimentar um “futuro” incerto (“construído”). Saiu sem “pestanejar”, abraçou o “medo”, e sem saber dizer nada da língua para o lugar que ia, submeteu-se a “voar” pelas “asas” do namorado. O medo passou, o alemão foi aprendido e auto-estima de “exílio” tornou-se moradia, explícita em três cenas (a interpretação sutil – que diz tudo – na compra do mercadinho; a expressão de fechar os olhos ao sentir o sol quando sai do trabalho; e o diálogo alemão com o ex-namorado que falava português). 
Tudo isso foi analisado quando eu andava pelas ruas berlinenses, as mesmas do personagem de Wagner Moura, sentindo o frio “do Polo Norte” e querendo a mesma cotidiana educação social, que é respeitar o semáforo fechado, andar de bicicleta apenas na ciclovia e ter a simpatia solidária no supermercado (quando eu não conseguia encontrar a palavra alemã para peito de peru – momento engraçado – que por sinal fez com que “ganhasse” mais uma “estranha” amiga). É difícil explicar. Talvez seja a “síndrome do vira-lata” (expressão que fui chamado por não compactuar com a atmosfera errônea do comportamento do brasileiro). Enfim. As diferenças são gritantes. Sim. Mas não estou comparando. Apenas divagando. A digressão estabelece parâmetros de lar “número um” e lar “número dois”. Há uma máxima que diz que ninguém deveria vivenciar outra cultura, porque quando se descobre o melhor (e o possível), é extremante difícil suportar o menos. 
Outro elemento engraçado em Berlim é sua programação televisiva. É surreal assistirmos “Friends” (que passa no canal da Disney) e “Uma Família da Pesada” dubladas em alemão. Talvez para os daqui, eles tenham a mesma sensação no caso brasileiro. Mas é inegável sem argumentações opostas que a melhor maneira de treinar a língua do país é a repetição, principalmente quando conhecemos os filmes e as séries (que cada vez “entra” mais por “osmose”). 
Amanhã é o dia que a maratona realmente começa. Já em grande estilo com o filme de abertura (da mostra competitiva – Wettbewerb – em alemão), “Hail, Caezar”, de Joel e Ethan, os irmãos Coen, mais uma crítica a Hollywood dos anos cinquenta. E aí não para. É corre-corre de um lugar a outro. De filme em filme. De filme em coletiva. De coletiva em filme. E parada estratégia, nos lugares já selecionados, para se alimentar rápido, barato e de forma deliciosa o físico. Komm herein (vamos lá)! Corra Urso, Corra! Observação final. Há um embargo aqui. Os jornalistas só poderão escrever após a sessão de gala, mesmo assistindo antes na cabine de imprensa. Então, tudo será publicado com um dia de atraso! 
Auf Wiedersehen (Tchau formal)! Bis Morgen (Vejo vocês amanhã)! Tschüss (Tchau informal)!

Banner Vertentes Anuncio

Deixe uma resposta