F1
Um Top Gun sobre rodas
Por Bê Oliveira
“F1”, dirigido por Joseph Kosinski (de “Top Gun: Maverick“), é um filme que combina ação de alta octanagem com drama introspectivo. A trama segue Sonny Hayes (interpretado por Brad Pitt), um piloto aposentado que retorna às pistas para salvar a equipe APXGP, liderada pelo amargurado Ruben Cervantes (Javier Bardem). Ao lado do prodígio Joshua Pearce (Damson Idris), Hayes precisa lidar com a pressão do esporte e com fantasmas pessoais, enquanto o filme explora o preço da glória e a busca por redenção.
As cenas de corrida, filmadas em eventos reais da Fórmula 1, são o ponto alto da obra. Graças ao apoio de figuras como Lewis Hamilton, que também atua como consultor, e à parceria oficial com a FIA, “F1” captura a essência do esporte. Claudio Miranda, diretor de fotografia, utiliza câmeras embutidas nos cockpits e drones para criar ângulos inéditos. Cada curva, frenagem e ultrapassagem são filmadas com um nível de imersão que aproxima o público da pista. Hans Zimmer compõe a trilha sonora, alternando momentos eletrizantes e contemplativos, reforçando a tensão e o drama.
Brad Pitt pilotou carros reais adaptados para as filmagens, com velocidades que chegavam a mais de 200 km/h. O comprometimento do ator foi tão grande que ele participou de treinos ao lado de pilotos profissionais. O carro fictício da APXGP foi projetado por engenheiros reais da Fórmula 1, garantindo autenticidade às cenas.
Porém, a narrativa de “F1” é previsível. A jornada do mentor e do aprendiz segue o arco clássico, culminando em uma corrida final repleta de sacrifícios e superações. A relação entre Hayes e Pearce, embora interessante, é subexplorada em todos os momentos, limitando o impacto emocional. O roteiro, escrito por Ehren Kruger (também de “Top Gun: Maverick”), investe mais no espetáculo visual do que no desenvolvimento profundo dos personagens.
O elenco secundário traz performances sólidas, mas pouco exploradas. Kerry Condon interpreta Kate, a engenheira da equipe, que compartilha com Hayes momentos de cumplicidade e frustração. Javier Bardem é eficiente como o líder desiludido, mas sua presença é limitada, funcionando mais como um catalisador para a narrativa de Hayes. Damson Idris, por outro lado, equilibra o entusiasmo juvenil com a pressão de ser um jovem negro em um esporte historicamente elitista, mas o roteiro não mergulha o suficiente nessa perspectiva.
Outro destaque técnico é o uso de câmeras IMAX, que capturam os detalhes das pistas e dos carros com precisão impressionante. As corridas foram filmadas em locais icônicos como Silverstone, Mônaco e Spa-Francorchamps, dando ao filme uma autenticidade que vai agradar aos fãs da Fórmula 1. Além disso, as sequências de box e as estratégias de corrida são retratadas com realismo e acurácia. A produção enfrentou desafios climáticos durante as filmagens, especialmente em locações como Suzuka, onde a chuva constante atrasou a agenda. Para superar os imprevistos, Kosinski decidiu incorporar algumas das condições adversas ao enredo, adicionando um elemento de imprevisibilidade às cenas.
Apesar dos méritos técnicos, “F1” tem muitos momentos de comercial. Às vezes, o filme parece funcionar como uma vitrine publicitária para a Fórmula 1, com marcas e patrocinadores sendo exibidos de forma evidente. Além disso, a ausência de complexidade no roteiro pode afastar espectadores que buscam algo além do espetáculo visual. O final de “F1” tenta equilibrar o drama pessoal com o clímax esportivo. A última corrida é um espetáculo de adrenalina, mas a resolução emocional é apressada, deixando algumas perguntas sem resposta. Ainda assim, o impacto visual e a trilha sonora garantem um encerramento satisfatório para o público que busca emoção e entretenimento.
“F1” é um filme que aposta em seus valores de produção e no carisma de Brad Pitt para entregar uma experiência cinematográfica envolvente. Embora não reinvente o gênero, é uma obra que homenageia o esporte e seus heróis, enquanto explora, de forma superficial, os desafios pessoais por trás do volante. Para os fãs de velocidade e ação, é um prato cheio; para quem busca uma narrativa mais profunda, talvez seja uma curva sem emoção.