Eduardo e Mônica
Retratos de Brasília
Por Vitor Velloso
Durante o Festival do Rio 2021
Na onda de adaptações musicais para a telona, “Eduardo e Mônica” chega aos cinemas com grande expectativa dos fãs da música homônima de Renato Russo. Contando com Gabriel Leone e Alice Braga nos papéis centrais, o filme de René Sampaio é a música na íntegra, com algumas adições narrativas e dramáticas que acrescentam vida aos personagens. A caracterização dos protagonistas segue o que a letra entrega de gostos e particularidades, com breves atualizações que conseguem contextualizar melhor para o público contemporâneo.
A grande dificuldade de adaptar a música para o cinema não está na estrutura narrativa, mas sim em conseguir preencher os espaços dessa história e desenvolver essa relação para além dos acontecimentos citados. Porém, a sensação que passa durante as quase duas horas de projeção é que o longa se mantém em uma zona de conforto entre ter essa liberdade na representação e fixar pontos que irão auxiliar o espectador durante a projeção. Não por acaso, “Eduardo e Mônica” segue uma cartilha parcialmente segura de projetos dramáticos que envolvem romances inusitados. A grande vantagem aqui, é poder notar as aproximações entre o momento político do país no filme e os conflitos contemporâneos, especialmente na relação com o avô de Eduardo e as lutas de Mônica. A diferença de idade se torna um motor de atritos dramáticos, onde uma série de diálogos revela as dificuldades de encaixe emocional a partir da disparidade de maturidade no enfrentamento da vida. De toda forma, o que sustenta essa dinâmica e faz o público sentir o peso dos deslizes está na maneira como Gabriel Leone e Alice Braga conseguem encontrar um meio termo para funcionar com todo tipo de divergência possível. Está certo que é algo presente na música e em algumas cenas do filme, mas as atuações são capazes de flexibilizar os desencontros para construir uma espécie de charme particular desse casal.
Diferentemente da adaptação de “Faroeste Caboclo” (2013), também dirigida por René Sampaio, o ritmo de “Eduardo e Mônica” não é tão arrastado e o espectador não sente as quase duas horas de projeção como um peso a ser superado, pelo contrário, o longa flui naturalmente, atravessando as marcações da letra sem precisar forçar alguma cena ou mesmo intervir drasticamente nesse longo desenvolvimento dos protagonistas. Em apenas um trecho é possível notar uma perda de controle das novas perspectivas abordadas pelo longa: a viagem que os dois realizam para a Chapada. As cenas parecem deslocadas da narrativa e pouco ajudam na compreensão dos conflitos internos, servindo apenas como reforço do que já havia sido apresentado anteriormente. Mesmo para mostrar a imaturidade de Eduardo diante da liberdade de Mônica, ao menos neste momento, as cenas não funcionam e a sensação é de acréscimos desnecessários para a história. Outra questão parcialmente mal resolvida é a amizade de Inácio (Victor Lamoglia) com Eduardo, que é um eixo dramático de suma importância e que tem bons momentos, até mesmo quando existe uma “revelação” próximo ao fim da projeção. Porém, o personagem acaba servindo como uma muleta didática para as resoluções do protagonista, com diálogos expositivos que ajudam a encontrar uma saída direta, o que demonstra as necessidades de pontos de conforto entre essa adaptação e a fórmula mais palatável para o produto.
“Eduardo e Mônica” é uma etapa mais consciente das adaptações musicais das músicas do Renato Russo e uma espécie de continuação do retrato de Brasília que René Sampaio vem construindo ao longo desses anos. Não é um grande destaque dos lançamentos nacionais na janela de 2021-2022, conseguindo a exibição no Festival do Rio como uma grande promoção que promete levar um bom número de espectadores para as salas de cinema. Chegando no início de janeiro, deve conseguir fugir um pouco do burburinho causado pela completa ocupação das telas brasileiras para exibição do Homem-Aranha.