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Divaldo – O Mensageiro da Paz

Divaldo – O Mensageiro da Paz

Um espirituoso spin-off do Mundo Espírita

Por Fabricio Duque

 

Uma das obrigações de todo e qualquer crítico é separar o joio do trigo e entender o livre arbítrio do cinema em poder caminhar por diversos caminhos escolhidos, sabendo que cada escolha gerará consequências para o bom ou para o mal. Assim, a humildade está em aceitar gêneros e separar subjetivismos. Se há filmes evangélicos e ou católicos e ou budistas e ou umbandistas, então é mais que justo permitir que obras espíritas Kardecistas também tenham seu lugar no mercado cinematográfico. E sim, cada um deve ser analisado à luz da própria história e narrativa.

Depois de “Kardec”, de Wagner de Assis, chega aos cinemas o longa-metragem “Divaldo – O Mensageiro da Paz” sobre a vida e obra de Divaldo Pereira Franco, que lota auditórios com suas palavras de auto-ajuda orgânica e humanizadas. O que a película em questão aqui traz de diferente é a presença de seu tom de humor espirituoso, conduzindo com leveza à moda ingênua estrutural de Ariano Suassuna, sem perder o respeito pela doutrina. Há quem diga que quanto menos pretensioso, mais fácil é chegar no coração das pessoas.

“Divaldo – O Mensageiro da Paz” pode ser considerado um spin-off do Espiritismo. E ganha status de super produção, principalmente pela presença da Fox que foi comprada pelo Disney. Não espantaria mais ao espectador se começarem a vender Funkos. A biografia acontece que o homenageado ainda encarnado na Terra e ainda trabalhando.

A história inicia-se no ano de 1933, em Feira de Santana, na Bahia. A câmera gira em torno de uma mesa e acompanha em plano sequência suas personagens. Espreita-se como um ser invisível que observa sem ser notado, apenas sentido. Ou aromatizado com um “cheiro de rosas”. É um filme de sensação. De sinestesia que não se incomoda em ser direto e buscar a felicidade sem protocolo da atmosfera minimalista de um interior. A época pontua suas questões: a mulher desquitada e o medo da espiritualidade. Quanto mais sentimos o medo rondar (e que chega a assustar), mais inferimos que nosso protagonista-biografado “invoca” a referência de “Sexto Sentido”, de M. Night Shyamalan. Quem também não se lembra de “Ghost – Do Outro Lado da Vida”?

“Divaldo – O Mensageiro da Paz” busca fidedignidade com os preceitos da Religião Espírita, e se os diálogos podem soar mais teatralizados e didáticos é porque assim seus livros romances. É uma forma de diálogo para traduzir “almas pesadas”, “obsessores que mantém sobre influência seus obsediados”, a paz emanada e o “perdão 70 x 7”. Tudo contra almas ainda em evolução, como padres cruéis que “excomungam” desencarnados porque “suicídio não ganha missa”. “Então eu vou me dedicar aos suicidas, porque eles não têm ninguém que ore por eles”, revida uma “ovelha” repatriada. São três tempos e três atores que dão alma para construir a figura de Divaldo. João Bravo na primeira fase. Ghilherme Lobo (conhecido pelo filme “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, que era cego e agora vê), na segunda. Bruno Garcia (de “Lisbela e o Prisioneiro”), na terceira e última, com bônus do próprio Divaldo que fecha o ciclo atual da quarta fase. “O maior desafio da criatura humana é a própria criatura humana”, aprende e descobre que precisa aceitar a “crítica mordaz e sarcástica ao ridículo”.

É um filme de cinema. Uma novela com tempo de cena. É sobre aceitar os desígnios e a missão do outro, que escreveu e desenhou como seria o retorno à Terra do Plano Espiritual, “contribuindo com seu silêncio” e falando de menos. Aqui, o discurso é direto e essencialmente espontâneo, mérito de seus atores que se tornaram seus papéis. Não há clichês e até mesmo quando a trilha sonora reverbera a catarse, a emoção é natural. Divaldo nunca teve controle de seu dom. Esse poder com um que de “X-Men” por conversar com pessoas mortas, entre câmeras subjetivas e temporais fusões de imagens.

“Divaldo – O Mensageiro da Paz” é muito mais sobre sua vida dedicada completamente à causa “convidada” por causa de sua “mediunidade rara” e disciplina para ser professor, para ouvir e esperar as “ordens” de cima de sua “misteriosa anjo de guarda protetora” para “ser bem orientado”. Foi uma existência confusa. De não saber o que é espírito e “pessoa de verdade”. Para ele, tudo era real “como eu e você”. “Não é a palavra, é a altura da voz”, é ensinado com “muito estudo”. Com humildade e sem “orgulho solitário”. “Não vem da retórica, e sim do exemplo”, complementa com “Cartas de Chico Xavier”, que diz “Eu e você somos postes de luz separados para levar luz a mais pessoas”. “Deus é o que me testa”, finaliza com redenção e com a certeza que ainda há muito trabalho a fazer em sua Mansão do Caminho. Cada música do filme representa uma trilha-sonora ambiente nos Centros Espíritas que antecede os passes de limpeza espiritual.

4 Nota do Crítico 5 1

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