Festival Curta Campos do Jordao

Crítica: White God
Por Fabricio Duque

 

“Tudo que é terrível precisa do nosso amor”, a frase abre “White Gog – Deus Branco”, que é acima de tudo um filme de maestria canina, devido às irretocáveis interpretações de seu protagonista, um cão “vira-lata” (que deixa muito ator “no chinelo”) e seus amigos (outros cachorros que interagem com sutis expressões reações), que “saem”, com coerção obrigatória, de um confortável mundo protegido (e Disney de ser) para conhecer a hostilidade do universo “humano”, que se comporta com brutalidade, preconceito, intolerância, medo inexplicável, superioridade, gerando a necropsia radiográfica de animais não pensantes, pelo contrário, motivados pelo instinto do próprio individualismo. Nesta parábola realista, estes “seres” de quatro patas, desprovidos de “inteligência” e da fala, provocam uma revolução “organizada”, “sistemática” e vingativa (pagando na mesma moeda da raiva) contra o sistema e contra o tratamento ultraviolento de funcionários “deuses” com “poder”, que “determinam” quem deve ou não ser sacrificado. Os cães unem-se como um focado “exército” e lutam por suas liberdades de existência despertando o questionamento político-social metafórico às classes minoritárias. Eles simbolizam a representação personificada dos escravos, negros, mulheres, homossexuais, judeus, crianças “Cristo”, entre outros, que viviam uma época passada “insignificante”. Em “White Dog”, estes protagonistas pagam com o próprio veneno aqueles que os transformaram em “mutantes” raivosos (quase “X-Men”) para “alimentar” o consumo visual de pessoas que veem a rinha (a La “Amores Brutos”) como um “esporte”, no melhor estilo “Roma Antiga”. Em 1982, o cineasta Samuel Fuller também usou o tema em “White Dog”, sobre um cão branco, um animal racista treinado a vida toda para atacar pessoas negras e que a “solução” mais “saudável” seria reeducar por um “domador” também negro. Se no filme do americano, o indicativo era “libertar” a igualdade, aqui, no do diretor húngaro Kornél Mundruczó (de “Delta”, “Johanna”), o foco é expandido à totalidade da intolerância que cada vez “assalta” mais e mais a “bondade” e o coração “puro” (referência explícita à mudança do próprio cachorro). A narrativa intercala paralelamente a história da família “dona” do cachorro personagem principal, que precisa pagar impostos para manter o animal de raça não pura, levantando outra questão quase nazista de “proteção” ao não hibridismo existencial. Contudo, é um filme ingênuo, por incluir gatilhos comuns suavizados de palatável digestão (como a subtrama da boate e do “iminente” namorado), talvez com o intuito de agradar a mais “gregos e troianos”. Indiscutivelmente, está longe de ser um longa-metragem ruim, pelo contrário. Exibido na Mostra Um Certain Regard no Festival de Cannes 2014, é uma junção entre a nova cinematografia húngara com o lado independente hollywoodiano (visível na parte final). A sinopse nos conta sobre a pré-adolescente Lili, que mora com sua mãe, mas quando esta viaja a trabalho, ela passa a morar com o pai, com quem não tem muita afinidade. Para piorar a situação, a garota é obrigada a abrir mão de seu querido cachorro Hagen, proibido pela sociedade por ser mestiço. Abandonado pelas ruas, o cão “indefeso” luta para sobreviver sozinho na sociedade opressora, enquanto Lili tenta resgatá-lo e protegê-lo dos agressores. Indiscutivelmente, está longe de ser um longa-metragem ruim, pelo contrário. Exibido na Mostra Um Certain Regard no Festival de Cannes 2014 (ganhando prêmio de Melhor Filme) é uma junção entre a nova cinematografia húngara com o lado independente hollywoodiano (visível na parte final). Um filme que foi dedicado a Jancsó Miklósnak. Todos os cães foram resgatados e reinseridos em programas de adoção. Recomendado.
3 Nota do Crítico 5 1

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