Curta Paranagua 2024

Crítica: Vingança a Sangue Frio

Produto Liam Neesiano

Por Vitor Velloso


Liam Neeson é o cara que modificou a estrutura do subgênero “coroa badass”. Com “Busca Implacável”, ele dá um pontapé importante para o mercado de ação. Mas sempre sendo lembrado como um ator bastante competente no meio da indústria, não à toa manteve uma certa parceria com Martin Scorsese, participa de “Balada de Buster Scruggs”, dos Irmãos Coen, e estava no último projeto do Steve McQueen, “Viúvas”, pouco antes de seu escândalo racista, que atrasou o lançamento no Brasil. Alto, voz grave e com porte avantajado o ator foi desbravando os territórios da violência na indústria do cinema e uma síntese de suas personagens está em seu novo longa.

Dirigido por Hans Petter Moland, “Vingança a Sangue Frio” irá contar a história de um cidadão “comum”, trabalhador, que tem seu filho assassinado por um traficante de drogas. Eis que Nels (Liam), pai da vítima, resolve traçar um caminho de vingança e destruir o império do cartel. O protagonismo é de Liam, e sempre existe uma questão moral em seus filmes de ação, um debate acerca de suas atitudes, não é pra menos, seus personagens são a síntese de um pensamento político do dever do homem. Claro que o assunto é datado, retrógrado e desgastado, aliás grande parte do cinema do John Ford gira em torno disso, mas a contemporaneidade não foge da narrativa, já que o assunto é revivido com certa intensidade em nossa realidade. Não por acaso uma das frases utilizadas para campanha de divulgação foi “Conheça Nels Coxman. Cidadão do ano”. É bastante claro o posicionamento do cineasta em relação às possibilidades de discussão geradas aqui.

A linguagem que Hans aplica em seu longa não foge muito da temática genérica que decide abordar. É pouco criativo em suas soluções formais, soando sempre mais do mesmo. Possui um direcionamento excessivamente mercadológico, mas que evita alguma estrutura narrativa que priorize o ponto de ignição à audiência, como em “Operação Invasão” de 2011, onde a ação dava o tom da imagem. Há uma tentativa de construir esse embate moral através da construção dramática da situação e do protagonista. Então, apesar de ser de ação, existe uma preocupação em desenvolver o contexto para as explosões e tiroteios. Apesar disso, há uma estilização predominante em algumas sequências, especialmente com cores e efeitos, exemplo uma espécie de boate que há durante a projeção. Essa busca pelo estilo não é reduzida a efeitos e pirotecnias, mas com auxílio da fotografia e das composições, porém, soa tudo muito forçado dentro das questões narrativas que são abordadas pelo diretor. E essa jornada por reconhecimento estético é fútil e pouco produtiva, apesar de visualmente agradável.

A montagem segue o padrão do mercado, são cortes rápidos e frenéticos que saltam pra lá e pra cá buscando esse dinamismo mais caótico da imagem. Não é tão exagerado quanto “Jason Bourne” por exemplo, mas mantém uma cadência a uma padronização nas sequências. O elo frágil do longa não é a questão da motivação ou mesmo a moral que permeia o roteiro, mas sim esse casamento forçado da estilização, da direção de altos e baixos de Hans e do texto que não concilia passionalidade e razão. Certos diálogos expositivos e frases de efeito fazem o ritmo da experiência cair consideravelmente, além de cenas que buscam uma brutalidade emocional maior se resolverem com o conservadorismo banal da indústria.

Não é um produto completamente desperdiçado pela indústria Hollywoodiana, pois possui seus méritos formais, alguns planos têm sua beleza e originalidade, mas a grande maioria não passa de um pastiche aborrecido de todos os outros longas do ator, que interpreta quase sempre o mesmo personagem. Os vilões são caricatos e sem emotividade, o “Viking” (Tom Bateman) chega a ser triste de se assistir, pois é uma colagem de referenciais de outros cruéis da ação, apesar de sua crueldade. Laura Dern (Grace Coxman) ta meio perdida aqui, toda sua potência dramática é perdida na discussão moral que tanto é martelada pelo filme e ela fica apagada durante a maior parte da projeção, servindo apenas de chaves dramáticas de resolução de impasses narrativos.

Ironicamente, ou não, o cidadão do ano não é Coxman mas Liam Neeson, estamos ferrados.

2 Nota do Crítico 5 1

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