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Um Lugar Qualquer

A maestria de Sofia de encontrar lugares perfeitos

Por Fabricio Duque

Um Lugar Qualquer

A diretora Sofia Coppola seguiu o caminho diferente de seu pai, Francis Ford Coppola, de “O Poderoso Chefão”, “Apocalypse Now” e “Tetro” – o seu mais recente filme. Ela enveredou-se à modernidade, introspecção e leveza. Assim, fugiu do estilo violento e desconfiado do seu progenitor. Sophia causou burburinho quando apresentou o seu primeiro longa “As Virgens Suicidas”, abordando o tema polêmico – causas e consequências – do suicídio social contemporâneo. Em seguida, transformou a história de Maria Antonieta em uma fábula realista e jovem – com a famosa cena do all-star, mostrando o dia-a-dia da realeza. Fez também “Encontros e Desencontros”, uma trama confusa sobre um amor confuso – vencendo na categoria de Melhor Roteiro Original no Oscar 2003 e Globo de Ouro (mesma categoria). Em seu último filme, vencedor do Leão de Ouro de Melhor Filme no Festival de Veneza em 2010, “Um Lugar Qualquer” pode ser considerado uma tradução digna de “Somewhere”, já que, assim, resume o universo que Sofia projetou a sua trama. O longa apresenta-se como uma narrativa de espera contemplativa. Um cotidiano com suas ações banais e comuns, como o café da manhã e assistir ao tempo passar.

É um lugar qualquer que aborda a vida de Johnny Marco (Stephen Dorff), um ator de Hollywood hospedado no tradicional hotel Chateau Marmont para recuperar-se de um acidente ocorrido durante uma filmagem. Ele passa os dias bebendo e participando de farras – Pole Dance e dançarinas temáticas. Sua tranquilidade acaba quando recebe a visita de sua filha de 11 anos, Cleo (Elle Fanning – irmã mais nova de Dakota Fanning). Embora seja negligente com a menina de início, a paulatina aproximação leva Johnny a reavaliar sua vida. Até porque os papéis se invertem. Em “Um Lugar Qualquer”, Critica-se a individualidade dos pais, transpassando aos filhos a responsabilidade da sobrevivência. A cena que a filha cozinha e acorda o pai expressa bem o que acabei de dizer. Uma das características da diretora é a escolha da trilha sonora de sus filmes. É excelente. Neste, há Foo Fighters, Phoenix e The Strokes, entre outros, ambientando o popular desvirtuado por não existir pudores. A naturalidade é presente. Parece que se vê uma camera que foi esquecida de desligar. Isso é feito, dançando com precisão entre o limite tênue do excesso. Essa competência faz com que os planos longos e únicos sejam absorvidos com satisfação positiva do espectador. A câmera ora participa – colando em seus personagens, ora observa e às vezes não quer dizer nada. O roteiro critica o nada que o personagem principal se encontra. É uma rotina da futilidade.

Assim, Sofia alfineta o mundo cinematográfico atual – de Hollywood – quando mostra coletivas de imprensa com perguntas de jornalistas despreparados e fofoqueiros. A fotografia, atemporal, é um misto de nostalgia – como um final de tarde de sol visto pelas lentes de um óculos de sol – e documentário ficcional, por usar um tom alaranjado e extremamente iluminado, porém com um brilho quase sem cor. Em “Um Lugar Qualquer”, algo acontece. Johnny recebe mensagens misteriosas no celular. Mas isto é o que me menos importa à história. Em certo momento, personagens assistem ao seriado Friends, dublado em italiano, na televisão. De novo, a figura do all-star. O pai vive a vida dele, mas agora precisa pensar em sua filha. Há resignação em viver um mundo que se pode ter tudo a qualquer hora. A solução é mudar. Utilizar o radicalismo passional, com a base de se poder retornar. Concluindo, é um filme que deixa a trama acontecer, imprimindo ritmo lento, porém conservando como as ações realmente acontecem no dia-a-dia. Vale muito a pena assistir. É excelente.

5 Nota do Crítico 5 1

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