Um grande acidente
Por Vitor Velloso
Conhecida pelas piadas roubadas e humor repetitivo, Amy Schumer vêm tentando sua carreira no cinema, com filmes de comédia de meia tigela, fazendo seus milhões através de bilheterias fixas de um público que não assiste outra coisa além de comédia-romântica com identificações estereotipadas da baixa estima. “Sexy por Acidente” é exatamente aquilo que esperamos da “comediante”, preguiça.
Dirigido por Abby Kohn e Marc Silverstein, o novo longa protagonizado por Amy é tudo, menos engraçado. E parece acreditar fielmente que suas piadinhas tenham efeito de constrangimento, através do exagero físico e expressivo de determinadas situações. Curiosamente o roteiro parece ter sido roubado também. Brincadeiras à parte, os clichês são absurdos. A trama acompanha sua personagem, Renee Bennett, que está fazendo uma aula de spinning, até que cai da cadeira e bate com a cabeça. Ao acordar, se olha no espelho e se vê linda e perfeita.
Ao que me parece Amy não conhece o padrão de beleza do país em que nasceu. Ela é a encarnação do estereótipo de americana comum. Inclusive, o filme quase reconhece que o maior rosto louvado na terra do tio Sam, possui traços latinos. O imperialismo do padrão de beleza, consolidado a muito tempo pelo cinema, é usado como ponto de partida cômico. Então, vemos esse humor sendo construído através do corpo “fora do padrão”. É claro, que gordofobia está na lista dos problemas do filme. Ele se esforça em usar isso como liberdade criativa para a comédia, porém, apenas não consegue compreender o próprio corpo fílmico.
Assistir a Michelle Williams fazendo um personagem com meio neurônio funcional, forçando uma voz fina, a fim de ridicularizá-la, dói. Toda a potência dramática que a atriz possui, é jogada pela janela. Emily Ratajkowski faz um manequim, possui umas dez linhas de diálogo ao longo do filme, todas terríveis. Além de ser sempre gratificante ver Tom Hopper, mostrando todo seu talento. Tá certo que a gente ainda tá esperando ele mostrar qual é, mas até lá, estamos no aguardo.
Michelle e Tom interpretam, Grant e Avery LeClair, dois irmãos que comandam a empresa fundada pela avó. Avery busca criar uma nova linha de maquiagem, que não visa a elite, como de costume, então passa a escutar os conselhos de Renee, que está passando por uma fase de pura auto estima. Enquanto a fragilidade de todos passam a sucumbir diante do astral de Renee, vemos o roteiro perdendo seu foco. A história passa a acompanhar seu relacionamento com Ethan, interpretado pelo também comediante Rory Scovel, seus sonhos na empresa se realizando, seu afastamento com suas amigas etc.
É muita informação pro longa absorver, onde não há conteúdo. São breves sketches funcionais, que tentam empurrar a trama para a frente sempre que acha um espaço. Mas o público já conhece o fim, então cada vez que uma cena nova surge, é possível prever a outra, e assim sucessivamente. Compondo um show de clichês em sequência, Amy usa os artifícios mais baixos. Contando com uma situação em um bar, num concurso de biquínis, onde ela abre seu short (por não ter um biquíni), e dança em um palco, com a câmera focando em sua barriga. Por algum motivo, alguém pensou que isso era engraçado. Assim como alguém compreendeu que ela é gorda, e que apenas esse fato é engraçado. A mentalidade do argumento, é tão profundo como o já clássico meme: “É engraçado, porque ela é gorda”. Francamente, acreditar que isso ainda faz algum sentido em pleno 2018, é inacreditável.
Uma tortura de 111 minutos. Inclusive, quem teve a ideia de fazer um corte tão grande? Comédias românticas podiam ter uma padronagem de duração também, 90 minutos no máximo, para evitar o público de ser torturado por tanto tempo. A Amy consegue ser extremamente fiel ao seu show solo, ela usa diversas manias de outras atrizes para tentar caracterizar sua personagem. E quando não o faz, consegue ser hilária. De tão ruim.
“Sexy por Acidente” é um retrato fiel à carreira da Amy Schumer. É tudo que uma comédia não deveria ser. Ainda contando com talentos ilustres ao seu lado, o resultado é perturbador. O que a Michelle está fazendo nesse filme? Torço para que o próximo projeto da dupla de diretores seja melhor que este, do contrário, podem parar por aqui.