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Serra Pelada
Por Fabricio Duque

 

Ultimamente, o grau de exigência ao cinema nacional tornou-se o grande estimulador das análises críticas. Assim, um filme ou é espetacular ou é um exemplo de transposição televisiva à tela grande e escura. Ao se desferir percepções, os elementos cinematográficos precisam ser divididos, já que poucas películas ganham o status quo da perfeição. “Serra Pelada”, do diretor pernambucano Heitor Dhalia (de “O Cheiro do Ralo”, Nina”, “À Deriva” e o ingresso a Hollywood em “12 Horas”), não é oito, nem oitenta, integrando-se a lista de bons filmes realizados. Logicamente, há falhas e contras, mas os prós dominam a experiência contextual. Conta-se, ficcionalmente, a história sobre Serra Pelada (“Garimpeiros construindo uma Pirâmide de cabeça para baixo”). “Pelo ouro, deixamos tudo para trás”, diz-se. A primeira impressão do espectador é a fotografia granulada, saturada ao brilho, lembrando em muito a “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles. Com isso, as imagens de arquivos podem ser anexadas com sem destoar visualmente, gerando o equilíbrio. Não só pelas imagens, mas há referência ao filme-favela também pela narrativa e sua condução. A narração explicativa por definições humanizadas e por linguagem coloquial (“homem formiga”); as mudanças do meio vivido; alusões à personagens (Juliano Cazarré é “Zé Pequeno”); as consequências do poder da “boca”, ou melhor, do morro (brigas, disputas). As histórias paralelas (digressões delirantes da memória) intercalam entendimentos, suavizando o estado prisão que os personagens se encontram por causa de seus “sonhos capitalistas”.  “Este lugar daqui piora a gente”, filosofa-se. Ou talvez estimule o que realmente cada um é. Uns mandam, outros dançam conforme a música. Uns nasceram para liderar, outros para servir. “A sua ambição é diferente da minha”, diz-se. A diversão chamada “Las Vegas da Amazônia” aliena momentaneamente a obsessão monetária. “Nem tudo nesta terra é lama. Quem não gasta dinheiro com mulher ou com bebida não acha ouro”, defende-se. As músicas bregas-interioranas ajudam a construir a atmosfera pretendida de imersão na trama, com câmera próxima e edição ágil. Impossível também não perceber a interpretação “fanfarrona” de Wagner Moura. Um dos elementos que incomoda é a quebra de ritmo e os altos e baixos na interpretação. O que se pretendeu como elipses temporais, tem seu resultado soado como quebra e aparecimento brusco. Entre delírios, excitações, quereres, liberdades assistidas, o longa-metragem define-se com estrutura novelesca positivista ao “prender” e ao “aprisionar”. Talvez pela inclusão no roteiro de personagens demais, logicamente, alguns perdem importância na história. Mesmo com a tentativa ainda não conseguida de Sophie Charlotte (estreia no cinema), os “deslizes” na apresentação da trama, a dificuldade do limite tênue entre naturalidade e melodrama, como já foi dito, os prós ganham. A “Cidade de Deus da Amazônia” e “Tropa de Elite do ouro” encantam pela fotografia nostálgica ao prata, pelas brigas dos travestis, pelos mil e seiscentos figurantes, e principalmente pelas interpretações “no tempo certo” de Juliano Cazarré (impecável), Julio Andrade (sempre incrível) e Matheus Nachtergaele (que parece que não interpreta – como se vivesse o profissional em tempo integral) e o não mais importante Jesuíta Barbosa (podendo ser conferido aqui como o afetado gay Navalhada e em “Tatuagem”).
3 Nota do Crítico 5 1

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