Já vi esse filme antes
Por Vitor Velloso
A facilidade de transformar produtos televisivos em cinema vem aumentando vertiginosamente de alguns anos para cá, já que a nostalgia começou a atingir os fãs da TV. Além disso, o mercado de comédias chanchadescas vem numa crescente alucinada, uma fortuna arrebatadora que engole o público. Então, era questão de tempo até o “Sai de baixo” receber sua chance de retornar da memória de muitos. E com alguns argumentos de que os tempos aqui estão difíceis, esses projetos passam batido na produção, tornando política comércio e vice-versa. O maior problema, além do moralismo comum nos projetos da Globo, é a proposta de direção que é dada.
Cris D’Amato, diretora, possui uma carreira já consolidada nestes produtos, realizadora de longas como: “Linda de Morrer”, “É fada”, “SOS Mulheres ao Mar 1 e 2”, “Confissões de adolescente” e o minimamente assistível “Sem Controle”. Só de analisar a filmografia da diretora é notória a trajetória de altas bilheterias. Porém, se focarmos em uma postura mais objetiva, ela é autora de pelo menos dois dos piores filmes dos últimos 5 anos. Claro que a adjetivação parece gratuita, talvez seja, mas existe um grau de ofensa nestas obras, a falta de engajamento em todos os discursos mostrados na tela, é uma postura tóxica ao cinema e ao povo que se presta a pagar o ingresso e ver aquele circo.
A mesmíssima estética, a mesma montagem com seu didatismo preguiçoso, todos os projetos da Globo são iguais e todo filme novo da Cris, é igual. A pequena vantagem de “Sai de Baixo – O Filme” aos concorrentes, é uma breve assimilação do caráter do mundo contemporâneo, além das pequenas referências, algumas piadinhas envolvendo a cultura pop e mais alguma coisa. A verdade é que o desinteresse é tamanho, que a vontade de me debruçar e escrever sobre é equivalente. Essa ideia de abandonar o que seria o “politicamente correto”, tá ficando tão batida nesses subprodutos televisivos, incluindo Danilo Gentili, que o humor está caindo numa fórmula preguiçosa de criar uma tentativa descolada de atemporalidade a diversos comentários, o que no fim, é tão redutor quanto a fala que o que a sociedade julga correto é um processo antidemocrático. Sejamos sinceros, existia um clube do politicamente correto, então, alguns incomodados com suas “liberdades individuais”, ainda que a imbecilidade reine nestas duas palavras, criaram um outro grupinho do recreio. E essa brincadeirinha tá aí até hoje, um diz aqui, outro ali e no fim das contas piadinha em troço ruim e coisinha de mal gosto é o que sobra.
“Sai de Baixo” não é nada mais que um produto semi pronto pra TV. E ainda que isso não seja surpresa, o elenco original, presente, composto por, Miguel Falabella, Marisa Orth, Aracy Balabanian, Luis Gustavo, Tom Cavalcante, Rafael Canedo e Cacau, está exatamente como na série original, a única diferença é a narrativa itinerante do projeto. Dentre todos estes, os que mais se destacam é o casal principal, Falabella e Orth, e o Tom, que desta vez interpreta dois personagens. Não que as atuações sejam boas, longe disso, eles se destacam por alguma presença nostálgica já pré concebida. Infelizmente, não consegui rir nenhuma vez durante a projeção, pois, o nível humorístico é tão desajeitado e frouxo, que não tive nenhuma ligação mínima com o que eu assistia. A repulsa era tão desgastante, não apenas pela comicidade, mas pela estética blazé, que ia me afundando cada vez mais na poltrona do cinema, implorando o fim do filme.
Novamente, a Globo nunca surpreende, nem ninguém que está no elenco, muito menos a direção, então, não há nada que vá chamar atenção. Ir ao cinema e pagar caro pelo ingresso pra ver esse negócio, vai ser uma prática comum da população, nós já vimos tudo isso acontecer recentemente, mais de uma vez. Apenas vai dar continuidade a esse ciclo sem fim de mutilação ao cinema nacional e a cultura que agora é “cidadania” vai se mantendo nos multiplex e dando dinheiro aos marinho. Viva o Brasil.