Refém da fórmula
Por Vitor Velloso
A genericidade é um processo comum no cinema, mais do que deveria, de fato, porém, inevitável, mas esta falta de originalidade em diversas obras é o trunfo primordial do cineasta, seja por uma questão referencial ou propriamente estilística. Tarantino e Edgar Wright são os exemplos pops do momento. Ao optar por esta abordagem, o diretor vai compreender as diferentes camadas que as obras possuem, em base estética, se esforçando para extrair de fragmentos, uma carga única que, possivelmente, irá ditar seu filme. “Reféns do Jogo” não é nada disso.
Dirigido por Scott Mann, a tentativa de explosão de músculos e violência na tela mais impotente do momento, possui uma narrativa copiada do “Duro de Matar”, com a diferença de termos o centro das atenções, uma partida de futebol entre West Ham e Dynamo, durante a Copa da Europa, em que há um atentado terrorista promovido por Arkady (Ray Stevenson) está a procura de seu irmão Dimitri (Pierce Brosnan), um ex-revolucionário russo que buscou asilo na Inglaterra. Já começa algumas questões curiosas aqui, uma severa discussão do que é mais patético, West Ham chegar a final do torneio, Pierce Brosnan ser um r-u-s-s-o ou o John Mcclane pós-pumping iron que detesta futebol como todo norte-americano e quer convencer sua sobrinha a comer “hot-dog” com ele. No caso, leia-se Dave Bautista, interpretando (?) Michael Knox, um ex-veterano de guerra, no lugar errado (ou certo) na hora errada (ou certa).
Toda a construção inicial, onde há uma perseguição, dá a entender que haverá um frenesi interessante na linguagem utilizada, mas no fim, ele apenas atêm-se ao básico e funcional, se enclausurando na ideia preguiçosa de “longas de ação onde um brucutu salva o dia, tornando-se um herói estadunidense e sendo reconhecido como tal, ainda que se recuse a sê-lo.” O subgênero além de ser tedioso, não eleva sua estrutura a nada de diferente no projeto, seguindo a cartilha passo-a-passo até o final, buscando a aprovação de seu público e uma bilheteria alta. E este viés também não seria um problema, de fato, caso houvesse uma realização de pequenos desejos fetichistas heteronormativos de descerebrados que buscam nada além de um entretenimento com tiro, sangue e músculo, muito músculo. A maneira como está escrito sugere alguma relação psicológica frágil e volátil no subconsciente dessas pessoas, pois é de fato isto que eu quis escrever. Agora, você tem o Dave Bautista, um poste no drama, mas um trator na ação, e um armário, meio-falante, tatuado, que interpreta seu personagem pior que ator desmotivado da faculdade, o Martyn Ford, realizando Vlad, o mínimo que o espectador espera é uma cena de porradaria digna entre os dois. Falhou. Oh, então uma cena de briga decente com o Arkady. Não. Então quem sabe o Pierce Brosnan seja este elemento da arte marcial neste antro de decepções do gênero. Não, na verdade seu personagem é pífio e absolutamente inútil à ação, apenas seu nome no papel é o suficiente. E se a potência das cenas de ação são desperdiçadas por alguma questão interna da produção, as fraquezas tornam-se ainda mais evidentes, pelo simples fato de nenhuma expectativa que possa surgir do público, ser atendida.
A questão étnica, nitidamente, não é uma das prioridades do diretor, pior que isso, é um motivo de comicidade ao mesmo. Por algum motivo despejar piadinhas sobre Faisal (Amit Shah), por possuir parentes indiano. E quando tenta reverter essa situação “cômica” com o próprio personagem chamando a velhinha preconceituosa de “terrorista”, não funciona. E não é possível rir de qualquer piada que o filme tente fazer, todas são terríveis, principalmente porque o eixo “hulk-bautista” e “americanos odeiam futebol mas amam cachorro quente” são as únicas possibilidades contempladas pelo roteiro.
“Refém do Jogo” não é nada além de um produto feito sob encomenda a fim de suprir uma lacuna na grade de programação de longas que precisam ficar nos cinemas um bocado de tempo nos EUA, render um bom dinheiro para pagar as outras produções da empresa. Infelizmente, nem como entretenimento funciona e deixa a desejar no primordial da própria concepção. E a fala de voz do diretor impressiona com a progressão da narrativa.