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Crítica: Querido Embaixador

Uma biografia sentimentalista

Por Fabricio Duque


Um embaixador, nas definições das diretrizes políticas internacionais, é um funcionário concursado que promove os interesses de seu país no exterior. É uma figura diplomática, que media a paz e a ordem, e, acima de tudo, ajuda aos indivíduos fornecendo com seus vistos pelas fronteiras. Sim, mas há aqueles que transcendem as próprias atribuições, até mesmo militando, quase subversivamente, contra governos ditatoriais com suas “ideias tolas”.

“Querido Embaixador”, inspirado no livro “Quixote nas Trevas”, de Fábio Koifman, é sobre Luiz Martins de Souza Dantas, o nosso Oskar Schindler (personagem alemão protagonista em “A Lista de Schindler”, de Steven Spielberg). Tanto que no final do filme, perdoe-me pelo possível spoiler, os créditos listam os “salvos” do homenageado daqui. Sua estrutura é híbrida. Um docudrama que intercala documentário histórico com a reconstituição encenada dos acontecimentos.

São dois filmes paralelos que desejam a interseção. A união entre contar a história factual (pela contemplação de imagens reais, às vezes com o conceito à moda de “Den’ Pobedy”, do diretor russo Sergey Loznitsa) e romancear com tom novelado e excessivamente teatral em cenários de Araxá, Jerusalém e Paris.

“Querido Embaixador”, dirigido por Luiz Fernando Goulart (de “Mestre Bimba – A Capoeira Iluminada”) como foi dito, é uma homenagem, que potencializa qualidades sem o confronto dos erros sobre um embaixador, de “cortinas abertas”, brasileiro não judeu que ajudou ativamente os judeus em um trabalho humanitário e solidariamente intrínseco a suas funções. A narrativa conduz-se por trechos encenados, espécie de esquetes momentos, por digressões e fragmentos escolhidos de partes mais sentimentais da trajetória vivida por Souza Dantas, que precisou lutar contra falsas aprazias; verdadeiras ideologias preconceituosas; e caçadas.

Luiz Martins de Souza Dantas (Norival Rizzo) era o embaixador do Brasil na Itália até 1922, quando é transferido para Paris. Cercado de belas moças, o homem vive num cotidiano de luxo em reuniões que incluíam pessoas da política e da cultura do país. Nesse contexto, começa a Segunda Guerra Mundial e o embaixador passa a viver numa realidade intensa com tomada de decisões que realmente podem colocar a vida de brasileiros em risco.

O ponto alto do filme é sem dúvidas suas imagens de época. Um antigo recorte cotidiano que documenta comportamentos sociais. Como a Belle Époque, de 1922. E ou o Terceiro Heich de Adolf Hitler. E ou o comentário de um dos depoentes (entre tantos, inclusive de sobreviventes do Nazismo) de que a França combatia mais dura e perversa o seguimento das ordens. Mais até que a Alemanha. E ou a grande queda de Wall Street em 1929. E ou Getúlio Vargas no poder em 1930 com sua política xenófoba anti-imigratória aos judeus (o decreto anti-semita). E ou a marcha da morte dos romenos e ciganos. Este é o “primeiro filme” mencionado acima.

O outro, ficcional, em tom hesitante e anti-naturalista (que tenta sem sucesso uma atmosfera Nelson Rodrigues), com afetadas e melodramáticas frases de efeito e urgentes discursos inflamados, inclusive quando se descobre que a mulher de sua vida não usa cocaína com “parcimônia”. “É chegar no paraíso e não perder o paraíso”, diz cuidando dos “imbróglios”. “Todos gostariam de ser um diplomata em Paris”, diz-se. Sim, isto é verdade.

“Brasil escapa da crise?”; “Dinheiro foi feito para isso mesmo: para trocar de mãos”; homem simples com uma mulher ainda mais simples, cúmplice e apaixonada; “o povo precisa de novidades”, tudo é apresentado fora de tom, em diálogos falados quase decorados e reações performáticas (“Tudo perdeu a metade da beleza, até mesmo Paris”). É um ingênuo e amador oportunismo criativo com preguiçosos artifícios de um roteiro frágil, gatilhos comuns, personagens estereotipados perdidos na fofura do cinismo.

“Querido Embaixador” aborda também o casamento-união de benefícios, contraído por interesse de troca pecuniária (“acordos amorais”). E o “aumento do drama do mundo, que está diferente”. Souza Dantas traçou uma guerra “traição à pátria” para manter suas convicções e a dignidade de um povo humilhado e em guerra. É adjetivado como herói. O salvador. O carimbador a La Gandhi e seus “vistos diplomáticos”. Foi perseguido, preso por repelir o insulto alemão. Mas liberta Paris. E em 1944, falece, ouvindo o “burburinho das ruas de Paris”. Concluindo, é um filme que desejou o épico do começo ao fim deste homenageado, esquecendo da máxima popular de que o “menos é mais”.

2 Nota do Crítico 5 1

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