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Crítica: O Touro
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Um reencontro de coincidências com as próprias raízes

Por Fabricio Duque

 

O longa-metragem “O Touro”, da diretora Larissa Figueiredo, que foi exibido no Festival de Roterdã e está na mostra competitiva da VII Semana dos Realizadores 2015, integra o projeto que começou com o curta-metragem “O Rei” (que conta por sua perspectiva – o que ele pensa), de 2014. Aqui, conta-se a história da portuguesa Joana (a atriz Joana de Verona) que desembarca na Ilha de Lençóis, no Maranhão e, por não “pegar telefone, internet e não ter hotel”, vivencia a rotina das pessoas dessa comunidade, que moram em casas simples e que são descendentes do Rei São Sebastião (que a lenda diz que que virou touro e que aparece “nas dunas, em época de lua cheia, depois da meia-noite). A narrativa livre, despretensiosa e “caseira” (visto que a câmera caminha sem rumo e não se preocupa com os olhares curiosos das crianças – e que “viajando na batatinha” lembra a interação final de “Os Incompreendidos”, de François Truffaut) busca a poesia-estética do visual da própria natureza, fotografando entre redes e cortinas, e conduz a protagonista (e o espectador) ao conhecimento do lugar. É como se editasse apenas o excesso da espera da captação (aquele momento final que o da frente da câmera não sabe se ainda está sendo filmado ou não). A estrutura amadora é proposital, até porque lida na maior parte do tempo com não atores, reverberando uma ficção-documental. A diretora disse após a exibição do filme que os moradores locais sabiam mais o que fazer do que a personagem principal (a atriz não teve acesso ao roteiro), que é “acompanhada com um caminho flutuante” (“Eles é que deram o direcionamento a ela, que acabou sendo um pouco engolida mesmo”). “O Touro” quer contemplar o imaginário a partir do real (do que diziam e como viviam). O som de Fábio Baldo desenha o toque naturalista, de se embrenhar na união das culturas. A protagonista “aprende” na prática o sincretismo religioso do candomblé, da proteção em miçangas da Santa Maria (e da procissão à luz de velas) e do banho de mar (para “limpar o corpo”); do misticismo do Bumba-meu-boi e da Mãe da Terra (que fica no poço); as ações típicas (a água na cabeça, o tédio, o trabalho manual, a noite com lanternas, as conversas recorrentes, os bordados, os “causos”, o tempo pausado – até mesmo as danças – “Adele do Nordeste” e as ingênuas-sutis “cantadas”), e no prólogo “embarca” na própria loucura-epifania de revisitar seus devaneios (e que infere “Órfãos do Eldorado”. “O Touro” é assumidamente um filme pessoal-autoral de coincidências. Um “reencontro” com as raízes. A diretora tem mãe maranhense e pai português. A atriz nasceu em São Luiz e foi para Portugal. A ilha ficou conhecida pelo “alto nível de albinismo”. Concluindo, um filme que acima de tudo estuda as crenças e comportamentos do local abordado, colocando o espectador “no mesmo barco” da personagem, sem saber o que encontrar. Recomendado.
4 Nota do Crítico 5 1

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