Me dá um Oscar, por favor!
Por Vitor Velloso
Karyn Kusama é uma diretora inconstante em seu padrão de qualidade, realizou o bom “O convite”, o irregular “Garota Infernal”, o tenebroso “Aeon Flux” e o quase inassistível “XX”, ainda que este último tenha compartilhado a direção com inúmeros outros. Mas com seu último longa, o primeiro a ser citado, uma relativa parcela da crítica depositou em Karyn uma esperança autoral e de gênero cinematográfico. Pois sua visão acerca do suspense estava longe de ser nova, mas possuía uma abordagem que, apesar de não se arriscar, sabia os momentos certos de gerar choque com o público. Seu novo longa, “O peso do Passado” possui uma abordagem mais comercial, entrega-se ao mainstream com mais vigor, porém, busca um flerte com o cinema independente em sua abordagem psicológica e muitas vezes formal. Ao tentar manter os dois públicos interessados na narrativa, ela perde ambos e entrega o projeto a um roteiro preguiçoso e uma atuação…que iremos comentar logo a seguir.
Tão badalada e cotada à premiações, Nicole Kidman veio acumulando favoritismo na lista de vários veículos ao redor do mundo, muitas destas apostas eram especulações, do que se via em trailer, do que se tinha notícia e da tão falada maquiagem. Bom, com o lançamento do filme, todos puderam tirar suas conclusões. E acontece que… muitos retiraram suas apostas. É fácil entender o motivo. Primeiramente o roteiro é de uma desordem que impera a projeção inteira, não sabe se é drama, ação, suspense, se vai por um caminho de vingança ou se fica na dor da perda, não se encontra em nenhum momento durante os intermináveis 120 minutos. A consequência disso, além de inúmeros diálogos expositivos, é um material volátil que impacta o trabalho da atriz. Com uma maquiagem pouco convincente, Kidman não aparenta estar mais velha ou entregue à vingança e a bebida, apenas que faz greve de banho à meses. Além disso sua incessante regrega pela estatueta dourada é gritante em seus olhos. Assim como aconteceu com Di Caprio, o overacting tornou-se uma ferramenta de gritar à Academia “Por favor, me dêem esse prêmio”. Além de pouco elegante, a atitude é acompanhada por uma postura quase ofensiva à indústria, acreditando que o exagero seja a arma definitiva para consolidar sua posição no mercado. Não estou discutindo aqui o talento da atriz, longe disso, se nos basearmos apenas na recente série “Big Little Lies”, já seria possível provar que há talento de sobra.
Mas não apenas Kidman está bamba em seu papel, o elenco inteiro patina na direção de Karyn. Sebastian Stan, Bradley Whitford, Toby Kebbell e Scoot McNairy não sabem que direcionamento tomar, já que todo o projeto ficou comprometido pelo roteiro e o esforço monumental da diretora em dar o prêmio à sua atriz. Infelizmente, Kusama está interessada em elogios específicos, no louvor que o meio cinematográfico pode lhe dar e em aparecer na indústria como uma promessa autoral no meio do ninho peçonhento de Hollywood. Mas obriga sua estética a inclinar sempre a uma tendência formulaico de fazer cinematográfico, que constrói uma misancene preguiçosa. Tudo isso pela simples vaidade.
Toda e qualquer intenção de emular um noir, seja a partir da temática ou de um tentativa de criar atmosfera a partir da ambientação e da luz, além de falha, revela mais um fetiche classicista retrógrado por parte da produção. A questão não é se manter contra o gênero, porém, enxergar a partir de todos esses anos, que as substâncias mudaram e os gatilhos também, logo, adaptar determinadas tensões à contemporaneidade é o mínimo que se deve fazer ao tratar-se de um exercício como esse. Mas aparentemente a textura televisiva e precoce do início do século não apenas contaminou o projeto, como o levou ao fracasso absoluto.
Novelesco, arrastado, vaidoso, pretensioso e oportunista, são muito dos adjetivos que escutei sobre o longa. Não irei me prender a um específico, mas sim permitir que o tempo reflita isso no mercado. O trágico não é ver um filme com o mínimo de potencial se perder, é enxergar que este tipo de projeto possui crédito no mercado e prestígio entre a decadência dos aristocratas cinematográficos.