O Palhaço
Ficha Técnica
Direção: Selton Mello
Roteiro: Selton Mello, Marcelo Vindicatto
Elenco: Selton Mello, Paulo José, Giselle Indrid, Larissa Manoela, Teuda Bara, Erom Cordeiro, Cadu Fávero, Maíra Chasseraux, Thogun, Hossen Minussi, Alamo Facó, Tony tonelada, Bruna Chiaradia, Renato Macedo
Fotografia: Adrian Teijido
Trilha Sonora: Plínio Profeta
Direção de arte: Claudio Amaral Peixoto
Figurino: Kika Lopes
Edição: Marília Moraes
Produção: Vânia Catani, Selton Mello
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Bananeira Filmes
Duração: 90 minutos
País: Brasil
Ano: 2011
A opinião
 
Há a máxima, dentro do meio cinematográfico, de que o segundo filme de um cineasta é muito mais complicado de se obter êxito, por causa da expectativa do espectador. Posso antecipar informando que Selton Mello, diretor do filme em questão, “O Palhaço”, não só conseguiu realizar um filme extremamente melhor que o seu anterior “Feliz Natal”, como presenteou o público e crítica com uma obra-prima. Confesso que demorei a escrever esta análise por causa do tamanho grau de envolvimento, quase passional, que este site vivenciou durante a exibição no Festival do Rio 2011, tendo o Cinema Odeon, na Cinelândia completamente lotado. Já é conhecimento notório e unânime o talento nato do antes ator, depois diretor, exercendo ambas as funções. Selton Mello, mineiro, seguindo o ditado popular, “come pelas beiradas para não queimar a boca”.
É sistemático, metódico, cirúrgico com a preparação de seus papéis tanto como ator, quanto como cineasta. Considero “Feliz Natal” um exercício de cinema. Ele experimenta ângulos, fotografia, atores e suas improvisações, narrativa tangenciada ao pessimismo, atmosfera brutalista – e visceral – e ingenuidade do aprendizado iniciante. Em “O Palhaço”, Selton define o longa-metragem como “uma mistura de Oscarito, Didi Mocó, Bye Bye Brasil, Fellini, Emir Kusturica e Mazzaropi ” e complementa “Quero fazer um filme solar desta vez”, dizendo também que a produção o ajudou a sair da depressão, sintoma que acomete a maioria dos bons atores, talvez pela infinidade de possibilidades de ser. O longa-metragem de apenas oitenta e oito minutos pode ser recebido como autobiográfico, uma forma do diretor relembrar a origem – já que a história se passa em Passos, sua cidade natal.
Alguns aceitam isto como terapia cognitiva, outros projetam internamente as dores e anseios dos personagens. O filme em questão é muito maior do que foi definido pelo diretor. É metafórico, existencial, onírico, dotado de sensibilidade, contido, sóbrio, econômico, de crueldade ingênua, sem a necessidade de máscaras sociais. Segue-se o ritmo, equilibrando o drama e a comédia sutil e delicada, inferindo o universo de Frederico Fellini, acompanhado pelo impecável e magnífica trilha sonora de Plínio Profeta. O roteiro não busca atingir o lado emocional do espectador. Apenas conta a história, e despretensiosamente, direciona a atenção ao sentimental de cada um, usando como pano de fundo, o circo, que se apresenta humanizado, com burocracias e problemas reais. O mundo mambembe abordado é a metáfora do que se encontra na alma destes personagens “passageiros”, hippies, sem rotina, que precisam sentir quem são na essência. É a aventura do crescimento do ser humano, o protagonista Benjamim (interpretado pelo próprio diretor – que chegou a mostrar o roteiro para Wagner Moura e Rodrigo Santoro assumirem o papel principal, mas a agenda de ambos não permitiu que aceitassem o convite) tem como profissão ser palhaço de circo, mas se encontra envolto a uma crise existencial, que o faz melancólico e entristecido, questionando seu trabalho, que foi ensinado pelo pai Valdemar (Paulo José), o também palhaço Puro Sangue.
Cansado da vida na estrada junto com a trupe do Circo Esperança, ele começa a achar que a rotina perdeu a graça e sonha em endereço fixo e, porque não, um CPF, simbolizando sua própria identidade. Logo no início, a abertura animada, a música circense com corneta e saxofone, com inúmeros shows dos palhaços, já é dado o tom. A felicidade esperada contrasta-se com a tristeza humanizada e sinestésica para com o espectador. O universo traz a tona o humor pastelão, sem ser caricato, a fim de apresentar a crise existencial de Benjamim ou Pangaré (nome artístico). “Sempre essa correria”, diz-se. A atmosfera, enaltecida pela fotografia, sépia, saturada ao brilho, meio amadeirada, meio escurecida, é de nostalgia atemporal, colorida e kitsch, este último famoso nos filmes de Pedro Almodóvar. Há piadas, picardias de deboche sutil. “Cada um tem que fazer o que gosta”, ensina-se.
“Agilidade mental, eu admiro isso”, filosofando sobre a perspicácia dos diálogos, misturando música brega com Dostoiévski. O silêncio diz tudo, assim como nos filmes mudos. “Tô cansado de tudo”, o protagonista desabafa. Há “delegados justos” e seus subornos. Há metafísica, alucinação, personificando o término do limite suportável pelo ser humano. “Eu faço todo mundo ri. Quem é que vai me fazer rir”, conversa com uma prostituta interiorana de estrada. Então, a aventura começa. Benjamim parte para viver sozinho e experimentar o mundo (e contracenando com seu irmão, em uma rápida cena). A naturalidade é tamanha, que o convencimento é adquirido sem nenhum trabalho por parte do roteiro e ou diretor. Ele precisou sair do ninho de proteção para se dar conta do que realmente é. A esperança volta. “São Filomeno, o Santo protetor dos artistas”, reza-se. É simples.
Procura-se estar feliz com poucas conquistas. Como já disse, o filme é incrível, prendendo minha atenção e ganhando o meu respeito desde o começo, mas há uma cena, a mais memorável de todas, que o arrepio e o “bolo” na garganta (desencadeando o choro) acontecem. É quando na cena final, o olhar do pai ao filho. Só por isto, a cotação não poderia ser diferente, senão máxima. Mais que excelente. Melhor Direção (Selton Mello), Roteiro (Mello, Marcelo Vindicatto), Ator Coadjuvante (Moacir Franco) e Figurino no Festival de Paulínia 2011. “Está muito claro que não queremos questionar a decadência do circo, pois ele é um espetáculo popular vivo, das periferias e do interior do Brasil. Como significação universal da arte universal, o circo é cada vez mais incorporado por quem faz teatro”, finaliza o ator Paulo José. O orçamento estimado foi de R$ 5 milhões, com filmagens em março e abril de 2010 e rodado na cidade de Paulínia, em São Paulo, em Conceição de Ibitipoca e Minas Gerais. O aniversário de 73 anos do ator Paulo José foi comemorado nos bastidores do filme, junto com toda a equipe de produção.
O Diretor
Nascido em Passos, em 30 de dezembro de 1972. O diretor desenvolveu, ao longo de sua carreira, uma sólida experiência no cinema como ator, conquistando o público e a crítica com seus trabalhos. Em 2008, dirigiu seu primeiro longa Feliz Natal, vencedor dos prêmios de Melhor Diretor no Festival de Paulínia, de Goiânia e no Festival de Cinema Brasileiro de Los Angeles, entre outros. Este é seu segundo longa-metragem.
Bastidores

 

5 Nota do Crítico 5 1

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