Curta Paranagua 2024

Crítica: O Homem Perfeito

Moralismo chanchadesco

Por Vitor Velloso


Existem filmes insuportáveis, situações onde tudo que você quer é ir embora e esquecer que ele existe, e existem coisas como “O Homem Perfeito”.

Partindo de uma ideia incrível, inteligente e inovadora, Luana Piovani “interpreta” Diana, uma mulher insuportável, bem de carreira, aparentemente possui uma vida perfeita, até que descobre que seu marido, Rodrigo, Sérgio Luque (melhor comediante do Brasil) está tendo caso com uma jovem de 23 anos, Mel (Juliana Paiva). Ela fica obcecada em entender o que a jovem tem que ela não possui. Até que vai buscar ajuda com um amigo igualmente insuportável Tuto, o sempre engraçado Eduardo Sterblitch. Ele arranja uma espécie de “emprego novo” para ela, tirar a “bad image” (palavra usada por ele) do Caique, Sérgio Guizé, sempre um grande ator. Então ela inicia o processo de redesenhar e inventar um homem, para isso, utiliza em todo seu arcabouço intelectual todos os estereótipos acéfalos de beleza e contribui com o machismo e o moralismo num nível surreal.

A diferença entre a ironia e fala concreta acima, não tão clara, é fruto dos neurônios que foram perdidos enquanto a exibição acontecia. Seguindo todos os padrões das comédias brasileiras, a estrutura é a de sempre, tentar fazer piada a partir de situações aparentemente populares e diferenças de classes sociais. É curioso ver como existe uma tentativa de discutir machismo e o lugar da mulher no século XXI, e a forma como Marcus Baldini argumenta sobre isso, dá lugar a todos os preconceitos que ele diz está querendo combater. É a típica síndrome de classe média, ou alta, que quer discutir os problemas sociais de um Brasil, que não conhece, dá cobertura de seu apartamento na Barra da Tijuca. A diferença que intelectualidade e bagagem não é algo que o projeto possua, logo, se torna um exercício de moralidade constante. Não à toa a Flávia Alessandra aparece brevemente no longa, ela é a figura central de todo o decadentismo da aristocracia das celebridades, injustamente chamadas, “artistas”.

A interpretação de cada um dos atores é equivalente a qualidade de cada um. Ainda que todos os personagens sejam unidimensionais ao extremo, passando pelos modelos mais fajutos que a TV brasileira criou, que nada corresponde com a realidade, mas o povo passou a acreditar que o modelo ficcional é de fato, a verdade. E como conhecemos o trabalho de cada um deles, o julgamento pode ser feito. Tati Bernardi e Patricia Corso dividem o roteiro, construindo um dos projetos mais tóxicos, entediantes, nocivos e moralistas do ano. Olhando a carreira delas é visível o talento: “Os homens são de marte e é para lá que eu vou” e “Qualquer Gato Vira-Lata”. Não é necessário dizer mais nada, o currículo fala por si.

O ritmo desses longas que se esforçam em ser chapa-branca, mas só conseguem manter o teor reacionário, é sempre um dos maiores problemas, parecem quatro horas intermináveis de martírio. Ah, a Dani Calabresa está no filme. Isso era necessário ser dito, pois, é um spoiler da qualidade da comédia. Quanto mais avança, mais é nítido, o desespero da produção em tentar achar graça na própria ideia, tornando-a apelativa. É difícil manter a atenção no projeto enquanto cada frase “cômica”, sai do forno, com todos os clichês e previsibilidades que poderiam ser utilizados.

Chega de chanchada chapa-branca. O Brasil passa pelo melhor momento da história de seu cinema, segundo Cacá Diegues. Ao mesmo tempo, enfrenta um “mercado cinematográfico” decadente e entreguista. Seguindo o molde das comédias norte-americanas, diversos filmes vêm sendo filmados nesta fôrma preguiçosa. Não há autoria, nem mesmo a mínima tentativa de retirar os vícios de linguagem de TV, pois, na cabeça dos produtores a maneira de se relacionar com o povo é deixando mais televisivo. Se ao menos eles escutassem as pessoas, saberia que muito do que se reclama no cinema brasileiro, é o fato dele ser “mal feito”, se referindo especificamente a uma padronagem entre os projetos que afetam os olhos do público.

“O Homem Perfeito” é a síntese da gangrena dos produtores brasileiros. É a verdadeira obra que mostra o caráter dos envolvidos. Ensina que nenhum tem carisma, muito menos personalidade. Espero que essa era chegue ao fim o mais rápido possível, não há cérebro que aguente o Luque fazendo piada e a Piovani achando que atua.

1 Nota do Crítico 5 1

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