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Crítica: O Chamado do Mal

Unidimensionalismo fálico

Por Vitor Velloso


Enquanto a “QC Entertainment” produziu Corra e Infiltrado na Klan, alguém disse que seria uma boa ideia produzir “Orgulho e Preconceito e Zumbis” e agora, “O chamado do Mal”. Incrível. Não é possível compreender o que os levou a produzir o novo filme de Michael Winnick, aliás, não foi pelo currículo do diretor pois este possui “Código de Honra” e “Tiros Garotas e Trapaças”.

O longa em questão possui uma trama simples e já vista no cinema algumas muitas vezes, um casal acaba de chegar de mudança em sua nova cidade, onde o marido, professor de matemática, Adam (Josh Stewart), irá lecionar. A esposa grávida, Lisa (Bojana Novakovic) passa grandes períodos sozinha esperando o retorno do marido. Assim que chegam na residência um presente de Becky (Melissa Bolona), irmã da mulher, está a espera deles, é uma caixa, que no primeiro momento não conseguem abri-la. Após determinado tempo, Lisa, e sua natural curiosidade, retorna a caixa e surpreendentemente consegue abrir sem dificuldade. Após esse momento coisas estranhas começam a acontecer. Ela vai correr e encontra uma pessoa esquisita e amaldiçoa seu bebê, começa a escutar sons pela casa e todos os clichês baratos imagináveis. Até este momento a inteligência do espectador não foi ofendida. Eis que temos nossa primeira cena do incrível(!!!) horror sobrenatural, ela sobe as escadas, pois está escutando o choro de uma criança, ao chegar lá encontra um bebê deitado no berço que havia montado no dia, sem entender qual sua origem, ela aperta contra seu peito e ao virar… BU! Uma tentativa de jumpscare super comum, com um Baby Venom, representado por um CGI extremamente artificial. Temos nossa primeira gargalhada do filme. E acredite, muitas virão.

Pense em todos as possíveis estruturas batidas de um terror adolescente, então, agora tenta encaixar isso numa tentativa de retratar a maternidade de um ponto de vista destrutivo com elementos sobrenaturais. O resultado está dado. Um aluno saradinho que trabalha no jardim da casa do marido, um professor esquisito, que irá servir de chave didática da obra, como se houvesse a necessidade de tornar-se ainda mais expositivo, até mesmo uma fetichização com uma jovem estranha, mas que o diretor insiste em tratar feito uma sexy simbol. Se todos os problemas de roteiro e condução da narrativa através do texto já não são o bastante, Winnick parece se esforçar para realizar uma película sem uma única assinatura. Sua estética toda lembra fanmade publicado no youtube. Sua misancene é engessada, esperando que o quadro nos surpreenda, o que aparentemente na concepção do autor seria uma ideia interessante, porém, no terror não trata-se apenas de permitir a cena conduzir o filme, mas sim do diretor permitir que o espectador sinta a progressão a partir de elementos da misancene, seja por seu movimento de câmera ou mesmo pela construção dramática que realiza. Porém, o roteiro de “O chamado do mal” não permite os atores serem mais que unidimensionais e o longa não se esforça em ir além.

Em “Bebê de Rosemary”, Polanski adentra em um universo semelhante, a questão da maternidade centraliza a narrativa e as questões sobrenaturais estão presentes, a diferença central das duas obras está na abordagem dramática que cada um se propõe. Enquanto o filme de 68, solidifica a trama na personagem, mas não de maneira temática, isso inclui o satanismo que é parte da resolução da história, “O Chamado do Mal” parte de uma proposta mais direta de terror, mergulha em todos os gatilhos do gênero, a fim de gerar alguma reação nas pessoas. O problema é que sua abordagem é um recorte de diversos projetos recentes, perdendo não apenas originalidade mas seu próprio impacto. E quanto mais avança, podemos compreender que as ideias se perderam num limbo de clichês e repetições formais.

A funcionalidade é comprometida não apenas por seu teor do horror falho, mas por uma decisão dramatúrgica que enfraquece todo o resto. E o exercício didático encarnado por Delroy Lindo, não permite o espectador prospectar qualquer leitura minimamente ambígua, proclamando o fim da obra de maneira precoce e previsível.

1 Nota do Crítico 5 1

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