Curta Paranagua 2024

O Bom Gigante Amigo

Um sonho que te faz acordar no mesmo lugar

Por Fabricio Duque

Durante o Festival de Cannes 2016

O Bom Gigante Amigo

“O Bom Gigante Amigo” representa o novo filme de Steven Spielberg, lotando completamente aqui, no Festival de Cannes 2016, na primeira exibição oficial, o Teatro principal de dois mil lugares. O longa-metragem, que pela primeira vez tem parceria com a Disney, corrobora a estrutura característica mágica-aventura-emocional de seu diretor, à moda narrativa de “Peter Pan”, estrutura estética de “Hugo Cabret” e fotografia a la “Pequeno Príncipe”. Este talvez possa ser traduzido como um resumo de especificidades “repetições” de suas obras cinematográficas. O tema da solidão-abandono familiar e do “presente” – uma redenção afetiva – retorna ao “lar”, inferindo a “E.T – O Extraterrestre”; e ao universo “ogro” de “Senhor dos Anéis”.

Baseado no livro infantil homônimo de Roald Dahl (que também escreveu “Matilda” e “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate”) e ilustrado por Quentin Blake em 1982, “O Bom Gigante Amigo” é uma extensão da história do próprio Dahl em 1975, e dedicado a sua filha que faleceu aos sete anos em 1962. Por incrível que pareça, a essência da sinestesia sentimental foi posta de lado, por talvez estender a liberdade das cenas. “O Bom Gigante Amigo” é um filme com estética teatral da Broadway, em diálogos encenados (incluindo alguns silêncios “esquecidos” do roteiro – cuja protagonista Sophie, a atriz Ruby Barnhill, não ajuda porque não fornece a naturalidade-espontaneidade da credibilidade). É explicitamente um filme de estúdio, de cenários recriados, de fantasia construído, com o simbolismo do orfanato (de proteção do única lar que se possui) e do país dos gigantes (o conto de fadas “sonho” do crescimento).

Voltando à fotografia, “O Bom Gigante Amigo” é metaforizado pela escuridão submundo das imagens (por sombras), mostrando a diversificada gama de sonhos de cada um, que “ganham” sonhos, às vezes pesadelos reais. “Nunca saia da cama, nunca vá à janela e nunca olhe para trás”, confronta-se ordens protetoras recebidas (quase um “Onde Vivem os Monstros”) Sair representa o perigo, os monstros e gigantes que encontrará pelo caminho (e as bebidas verdes que fazem “peidar”). Mas Sophie assume o risco, quebra regras e embarca em uma aventura “sequestrada”, em uma fábula realista fantástica ao universo paralelo dos pobres (superficial e encontrando a felicidade quando se mergulha nas profundezas) “idiotas troncudos selvagens” (que se encontram na atrasada crença do canibalismo e de uma vida sem limites e visceral).

O personagem”diferente e “deslocado”, por ter experimentado a luz (o ator Mark Rylance – que trabalhou no filme passado de Spielberg, “Ponte dos Espiões”), vivencia Deus, um Papai Noel, que atende “desejos do coração”. Eis que a amizade entre eles surge. E o carinho afetuoso transcende classes sociais e é a Inglaterra que em novidade conquista a felicidade e não os Estados Unidos. O longa-metragem incomoda e se mantém por gatilhos comuns forçados e sem sensibilidade, não sendo Disney, tampouco Spielberg. Apenas infantil. Talvez este seja realmente o objetivo. “Sonhos são tão rápidos”, diz-se descambando à mensagem de auto-ajuda (de sempre existir alguém maior que você para o intimidar), ainda que momentaneamente questiona a religião divina (pelo judaísmo de seu cineasta) em “Por que você me dá um sonho e me faz acordar no mesmo lugar?”. “The BFG” adjetiva sua “linguagem” como “simples” e “bonita” e que representa “todos os sonhos secretos do mundo”. Concluindo, “O Bom Gigante Amigo” é frágil, fraco, bobinho, fora de ritmo e química, e não consegue pertencer a nenhuma linha de narrativa e ou gênero.


Nota da redação. 29/07. Estreia hoje nos cinemas o novo filme “O Bom Gigante Amigo” (de realismo fantástico à moda de “O Labirinto do Fauno”, de Guillermo del Toro) do cineasta americano Steven Spielberg, que foi exibido, paralelamente, no Festival de Cannes 2016. Pensando com meus botões e viajando nas referências, o longa-metragem automaticamente faz com que eu seja remetido aos trabalhos ultra-realistas da artista plástica australiana Patricia Piccinini e sua exposição “Comciência”, que aconteceu no CCBB do Rio de Janeiro este ano. Ela lida com nossa reação de estranhamento, ao mesmo tempo incômodo e sedutor, desencadeando uma repulsa visual diante de esquisitas criaturas fantásticas e imaginárias, deformadas e ou mutantes. E ao confrontar, consegue aflorar uma empatia ao humanizar estes seres, desestruturando a opinião já segmentada da “normalidade”.

2 Nota do Crítico 5 1

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