No Lugar Errado
Um filme que precisa sair do ensaio e "estrear"
Por Fabricio Duque
“No Lugar Errado” integra o gênero de criação coletiva (e solidária) da produtora Alumbramento Filmes. Os cineastas Guto Parente (de “Doce Amianto”), Luiz Pretti (de “O Rio nos Pertence”), Ricardo Pretti (de “O Rio nos Pertence”) e Pedro Diógenes, motivados pela paixão à sétima arte, apresentam seu mais recente trabalho como uma fábula teatral, com referências explícitas ao dramaturgo Beckett (pelo tema) e ao diretor russo Andrei Tarkovsky, principalmente pela fotografia, que direciona o foco do espectador ao objeto iluminado (limitando o espaço). A narrativa foge da estrutura realista-fantástica de “Dogville” e do documentário-ficção de “Mentiras Sinceras“.
O que se busca é o abrigo na metalinguagem do jogo cênico. Os planos longos e contemplativos, de visual incisivo, e com ruídos super-expostos, constroem a atmosfera de uma peça, apenas observada quase no meio do desenvolvimento temporal. São quatro personagens que tentam resolver suas pendências emocionais e sentimentais em uma pseudo festa-reunião de “amigos”. O roteiro, para acontecer, necessita a total cumplicidade de quem assiste, porém o resultado contextual não convence. O filme comporta-se como um ensaio de uma peça (período que os atores ainda estão interiorizando os diálogos e os próprios personagens), gerando encontros superficiais, textos artificiais e u exagerados, ações (e reações) também de exagero afetado. Estão confusos, perdidos, sem saber o que fazer, drogados da realidade.
Em “No Lugar Errado”, Há a percepção de que a câmera, deixada gravando, está captando uma naturalidade forçada e encenada. Descobre-se segredos, epifanias verborrágicas, tudo meio conversa de criança brigando (bullying, picardias e “vingancinhas”). “Que ridículo. Que ideia maluca de girino”, diz-se. Se analisarmos pelo contexto, formularemos que o que se assiste tende à pretensão fílmica. Baseado na peça “Eu, outro” de um dos atores, Rodrigo Fisher. Apesar da fotografia fantástica em preto-e-branco, o longa-metragem precisa sair do ensaio e “estrear”.