Um novo ar para a franquia
Por Vitor Velloso
Em 1996, De Palma dava início a uma das franquias mais bem sucedidas e amadas de sua geração. Isso se explica pela decadência que a série 007 vinha sofrendo, pois a fórmula já havia se provado mais que desgastada, ultrapassada. Aquele estilo de se fazer filmes de ação já não se sustentava, a ação era demasiadamente burocrática e pouco elaborada. O espetáculo circense de testosterona já dava seus sinais de fraqueza, e para piorar, Pierce Brosnan havia incorporado o lendário espião, sendo de longe um dos piores da franquia.
Assim, “Missão Impossível” surge em 1996 para injetar uma dose de adrenalina na indústria de gênero, sendo uma espécie de releitura de James Bond, mas com uma alma nova, um protagonista novo, e claro, uma estrela nova. Tom Cruise passaria a interpretar Ethan Hunt, revolucionando assim a proposta de se fazer ação no século XXI.
Agora em 2018, vemos o sexto filme da série ser lançado e adrenalina ainda é um dos fatores mais importantes. A diferença é que a partir do “Protocolo Fantasma”, os diretores foram obrigados a deixar sua ação mais física, bruta e experiencial, e o sentimento de “operações especiais” foi modificado para algo menos corporativo e mais pragmático. A nova trilogia é um belo exemplo de como se adaptar a novos tempos. Já comentei em outras críticas a influência que “Bourne” e “John Wick” teve no cinema de ação, aqui podemos ver como o impacto se deu na série.
“Missão Impossível: Operação Fallout” dá continuidade aos eventos de “Nação Fantasma”, ambos dirigidos por Christopher McQuarrie. Na trama, após uma operação não ocorrer como o planejado, três ogivas nucleares caem nas mãos de terroristas, e Ethan deve recuperá-las. Porém, não é apenas ele que está atrás das bombas. A narrativa segue o padrão Missão Impossível, você tem a problemática inicial, depois a tentativa de achar sua resolução. Aqui não é diferente. O que muda em “Fallout” é o tom que se propõe dar a mise-en-scene, se em “Nação Fantasma” tínhamos a proposta do absurdo, aqui vemos uma leve assentada na realidade.
McQuarrie constrói um sólido esquema de combate, onde compreende-se uma cena e sua estética única e exclusivamente ao confronto, o que nos gera uma dos melhores minutos do longa, a cena no banheiro. É interessante ver como o diretor quase que separa geografia do roteiro para que possa explodir a ação que deseja. Henry Cavill, e seu bigode, centralizam no projeto uma espécie de brutamontes que é incapaz de resolver as coisas sem matar alguém ou partir para a violência, servindo de contraponto ao personagem de Ethan.
Ao mesmo tempo que esses dois núcleos surgem, Ethan (Tom Cruise) e Walker (Henry Cavill), velhos fantasmas do passado tornam a assombrar o protagonista, gerando uma humanização que remete ao terceiro filme da franquia, de 2006. Essa dose de perigo constante aos entes queridos, gera uma urgência na fisicalidade do personagem, algo já recorrente, mas que aqui ganha uma nova proporção. Tal sentimento fatalista torna-se piada em mais de uma vez durante a projeção, pois, como sempre, tudo pode e vai dar errado.
Tom Cruise com seus 56 anos faz coisas na tela, que uma criança de 10 anos ficaria cansada só de assistir, é impressionante como o ator mantém o pique e a coragem (por não usar dublês ao longo de todos esses anos). A direção de fotografia desta vez está dividida entre Rob Hardy e Hugues Espinasse. Hardy fez a cinematografia de “Ex-Machina”, o que explica um tom brevemente mais sombrio na atmosfera desta sequência.
Agora, esquecendo todos os aspectos técnicos, é muito difícil não se divertir com o filme. É pancadaria o tempo inteiro, Henry Cavill sendo o mais pragmático e objetivo, Simon Pegg, como Benji, é sempre um belo alívio cômico. A fórmula é a mesma, com pequenas mudanças, há uma grandeza maior nos planos e na dimensão dos objetivos.
“Efeito Fallout” é uma bela sequência, digna da franquia inteira, e segue o espírito desta nova fase. Consegue se destacar por possuir cenas memoráveis, um tom épico àquele universo e seu espírito de moralidade inigualável, e trabalha as escolhas com o peso que deveriam ser tratadas, fazendo, culpa, ser um dos alicerces da construção dramática do filme. A estrutura mantém-se a mesma, continua previsível demais, mas garantirá duas horas e meia de diversão para o público.