Pop italiano
Por Vitor Velloso
Passei as duas últimas semanas escrevendo sobre as atrocidades no mercado de cinema brasileiro, me referindo, claro, à produções nacionais, agora terei de escrever sobre o mesmo filme, só que na Itália. Saindo diretamente do forno, “Made In Italy” estreia nos cinemas tupiniquins buscando uma comédia descontraída para alegrar o público. Bom, eles chegam um pouco longe no quesito diversão, mas possui mais jogo de cintura que a grande maioria das produções brasileiras. Pois a gangrena cinematográfica da reprodutibilidade atingiu apenas parcialmente o longa.
Dirigido por Luciano Ligabue, o longa irá contar a história de Riko que enfrenta uma crise pessoal e recebe a ajuda dos amigos para sair dessa. Tão canastrão como esta sinopse é o trabalho do diretor e a narrativa não fica pra trás, nada aqui é levado a sério. O que deixa minimamente assistível, já que compreendemos que há um conteúdo dramático abominado pelo próprio projeto estético do filme. Essa mínima contradição narrativa, arquiteta uma ambiguidade sempre bem vinda a qualquer roteiro, já que não joga luz a tudo que o autor buscou representar, sempre deixando uma pequena margem de sensorialidade, que neste caso é quase reduzida à zero, pelo estilo desajeitado da obra. A consequência disso é uma facilidade tamanha em esquecer o filme após alguns dias e claro, ampliar a conexão com os personagens. Desta maneira dando lugar ao fim da projeção, onde há uma forçação de barra quase inconcebível, que apenas a um sentimentalismo tão tolo e ingênuo, que quase beira a comédia. Mas é fato que o pequeno gatilho irá atingir o pulsante de diversos espectadores.
Infelizmente, todo tipo de arquétipo e fórmulas estão presentes, tanto na estrutura da narrativa, desaguando nos acontecimentos, como na composição de cada personagem. O destaque mais óbvio fica diretamente à trilha sonora que é incessante e não para de tocar. Agora, não tem como negar que trata-se de um projeto de homem branco de meia-idade sentindo o peso da solidão por egoísmo cego. Talvez por isso, ele possa fazer algum sucesso mínimo, pois, diversas pessoas neste país se encontram na mesma situação de Riko. Ao menos a partir da descrição que dei acima. E quanto mais se pensa em cada virada no texto ou diálogo, menos se gosta da obra. Pois percebemos que não há absolutamente nada de novo aqui, apenas uma mistura mal feita e sem intenções, nem ambições.
O melhor exercício possível para “Made in Italy” é absorver o longa enquanto ele está sendo projetado e abandoná-lo ao sair da sessão. Qualquer reflexão acerca, resultará em frustração. Que me foi gerada a partir da trilha do filme, que não decepciona como um todo mas fica tensionando entre o tédio absoluto e a mesmice. Acredito eu que o desenho do projeto em um tom genérico, tornou cada etapa da produção igualmente genérica, o que é compreensível, mas não admirável. E essa mediocridade impera todo o filme. O diretor parece não se interessar no próprio material, conjugando um misto de linguagem “pop” com uma encenação barata que busca algum grau de autor, curiosamente. Essa ambiguidade nos leva a uma proporção pouco simétrica do que de fato seria a questão final da obra.
E se no fim das contas o espectador se permitir dar alguma risada com o longa, veremos uma falta drástica do drama que Luciano busca em pequenos momentos. E essa bivalência entre os dois momentos além de criar um espaço rítmico angustiante, tedioso de fato, é fruto dessa inabilidade em compensar os gêneros, sempre pendendo à comédia mas utilizando pequenos recursos textuais dramáticos. E a montagem pouco articulada gera um estranhamento pouco proveitoso das transições cênicas. Tal sentimento além de interromper o fluxo da narrativa, compromete o envolvimento de quem está ali investindo energia em um engajamento com os personagens.
Logo, mais um produto europeu pouco interessante que chega aos cinemas brasileiros, mas com pequenas particularidades populescas que pode agradar alguns ou afastar outros. A maior possibilidade é o afastamento, já que ele irá circular nos cinemas da Zona Sul carioca antes de despedir-se do Brasil. E nestes centros específicos, apesar da Europa imperar diante do cinema brasileiro, o público não está a procura deste tipo de projeto. Só o tempo dirá.