Por favor, chega!
Por Vitor Velloso
Enquanto vimos a fórmula bilionária da Marvel se polarizando nas críticas, acompanhamos novas franquias surgindo ao longo dos anos. “Homem Formiga” foi uma aposta da empresa, de criar a imagem de um personagem, até então, desconhecido do grande público. O resultado foi parcialmente positivo, mas não da forma como se esperava. No novo filme da companhia, vemos que esse processo formulaico demonstra suas fraquezas e passa a ceder a uma mediocridade barata.
O longa-metragem inicia-se após os eventos de “Capitão América: Guerra Civil”, em que Scott (o ator Paul Rudd) está em prisão domiciliar, sem poder entrar em contato com Hope (a atriz Evangeline Lilly) e Hank (o ator Michael Douglas). Após uma visão do protagonista, ele é sequestrado pelos dois, a fim, de tentar trazer sua esposa/mãe de volta do mundo quântico.
O formato é exatamente o mesmo do anterior, tudo gira em torno do carisma do Paul Rudd, que aqui se esforça para criar algo além do óbvio. Cada movimento é previsível, o corte, a câmera, a fala. É exatamente o mesmo filme do anterior. Com a diferença que o protagonismo agora se divide. E Evangeline não possui o mesmo carisma que Paul, por isso tenta compensar em uma dramatização mais intensa, mas sua personagem é rasa e a atriz não consegue tirar muito proveito do terrível roteiro. Existem diálogos específicos (que me provocaram gargalhadas sinceras), pois, é tão preguiçoso e desleixado que parece piada.
A vilã da vez é interpretada por Hannah John-Kamen, dando vida a “Ghost”, uma das piores vilãs da Marvel, sem dúvida. Ela é clichê, mal desenvolvida, seu design, parte sendo feita por CGI é tosquíssimo, parece amador. E a atriz está péssima, além de sua personagem ser problemática, Hannah nos dá uma interpretação digna de Framboesa de Ouro, sem exagero. Acompanhada de um Laurence Fishburne, que faz Dr. Bill Foster, os novos personagens dão nos nervos do espectador, de tão mal desenvolvidos e apresentados.
Michael Peña, mais uma vez, rouba a cena como um coadjuvante de luxo, usando, geralmente, um timing cômico interessante, quebrando o ritmo de algumas cenas. Pois, a montagem é uma tristeza a parte, exatamente os mesmos cortes do filme original (a mesma coreografia também), além de inserir algumas cenas filmadas, para serem piadas-sacadas e que quebram o fluxo narrativo, estas não contribuem em nada e não são engraçadas, em diversos momentos pude perceber um silêncio na plateia.
Até Paul Rud está fora de forma aqui, muitas piadas desentrosadas, diálogos mal ditos e uma gama de fatores que contribuem para o declínio da performance do ator. Sendo pouco efetivo em tela, tanto fisicamente, quanto comicamente, ele se utiliza da mesma tática do anterior, ele esgarça o tempo da piada, a fim de gerar um desconforto na mise-em-scène, a fim de gerar humor. E isso raramente é bem realizado, aqui. Tirando uma piada envolvendo o Antonio Banderas e uma ou outra perdida pelos, quase, cento e vinte minutos, tudo aqui é sem vida e inexpressivo.
A cópia descarada do próprio projeto faz Peyton Reed provar de vez seu talento para estragar tudo aquilo que toca. Assim, como ele foi um dos maiores problemas do primeiro, aqui não é diferente. Ele é frio, possui um formalismo barato e um problema assumido de posicionamento de câmera durante a ação, o que faz com que tudo seja simplificado a primeiros planos, com cortes médios. É uma falcatrua absurda. E para piorar, “Homem-Formiga e Vespa” é chato, muito. A trama truncada, que parece caminhar a lugar algum, por querer possuir diversas reviravoltas, corre num ritmo tão lento, que quando jurava estar acabando, pois o cansaço começava a bater, ele estava na metade ainda. O que também prova a vocação para o absurdo, deixar lento um longa onde um homem e uma mulher com traje de insetos encolhem e aumentam de tamanho.
O novo filme da Marvel é um deslize profundo. Esquecível como tudo que eles fazem, mas medíocre em ser medíocre. Comete exatamente os mesmos erros do primeiro e investe neles. Se de alguma coisa vale a ida ao cinema, é poder ver a primeira cena pós-créditos, que além de curiosa, para dizer o mínimo, entretém o público às outras franquias, pois como já sabemos, cada longa da empresa é um trailer do próximo.