Curta Paranagua 2024

Crítica: Gatos

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Kedi Bom Pra Gatos

Por Marcus Teixeira


Quem já esteve em Istambul ou mesmo quem já leu algo sobre ela, em algum blog de turismo, de certo, ouviu falar como a cidade é “infestada” por milhares de felinos. Alguns até se surpreendem, positivamente, a maneira como os turcos lidam com os bichos. Por esse motivo a capital da Turquia também é, mundialmente, conhecida como a “Cidade dos Gatos”.

A relação afetiva entre pessoas e bichos sempre rendeu ao cinema ótimas estórias, infantis. Foi assim com 101 Dálmatas, Garfield, A Gatinha Marie, entre tantos outros filmes que retratavam a paixão dos “donos” pelos bichos. Em “Gatos”, originalmente “Kedi”, não vemos uma estória de amor infantil e sim histórias de amor de uma nação com os felinos.

Sete vidas, ou melhor sete histórias são escolhidas para costurar o filme. Sete gatos entre os milhares de felinos mostrados no documentário, para ilustrar essa relação de amor entre turcos e felinos. O documentário retrata quase que exclusivamente histórias de gatos de rua e sua relação com o homem, ou o local em que habita. Mas isso não quer dizer que iremos ver gatos abandonados, sofrendo ou maltratados. O mérito do filme é justamente mostrar como esses bichos estão ligados aos turcos.

A questão religiosa está presente em vários depoimentos. Istambul possui hoje mais de treze milhões de habitantes. A maioria da população é composta por muçulmanos. E essa seria uma das explicações para o zelo dos turcos com os animais. Muhammad, um dos grandes profetas islâmico, conta em uma de suas histórias a história de uma mulher que foi para o inferno por não alimentar um gato. O medo de ir para o inferno, por não cuidar dos animais, contribui para que os bichos sejam alimentados e cuidados, por várias pessoas. Muitos depoimentos tratam os gatos como animais capazes de trabalhar energias negativas. Afastando assim a negatividade do ambiente, evidenciando a questão religiosa nas falas dos entrevistados.

A liberdade como os gatos transitam pela cidade desperta a atenção, mesmo aqueles que foram adotados por alguma pessoa, possuem a liberdade de continuarem transitando livremente pela cidade. No filme, não há coleiras, não há gato preso em casa ou no apartamento. Todos estão livres, transitando pela cidade, seja em lojas, em casas e até mesmo nas feiras (roubando alguns peixes).

A beleza de Istambul e seus famosos pontos turísticos preenchem o cenário do documentário. O plano geral contribui para que o espectador tenha a dimensão de sua beleza, embora esse não seja o foco do documentário, o destaque do filme, realmente, são os gatos.

A diretora turca, Ceyda Torun, não faz do seu filme um episódio do Animal Planet ou do Globo Repórter. Fica evidente que a ideia ali não é usar a história para desvendar como vivem os gatos da Turquia, muito menos o que eles comem e como sobrevivem. O documentário existe para mostrar como a população construiu uma ligação afetiva com os bichos.

Fazer um filme adulto, fugindo de uma linguagem tatibitate de como “conviver-harmoniosamente-com-bichos” é um grande desafio. Porém a paixão, declarada, de Ceyda Torun por gatos, atrapalha o desenrolar da história. Com quase uma hora em vinte a narrativa em vários momentos é, muito, cansativa e repetitiva. Há uma repetição de cenas desnecessárias, como por exemplo: gatos subindo escadas, escalando paredes, escalando árvores, caçando, disputando território e por aí vai. Cenas como essas poderiam facilmente ser substituídas por outras narrativas.

Os vários depoimentos de “Kedi”, em nada soam apelativos, passionais ou educativos. Mérito de Ceyda, que tira dos personagens bons depoimentos que, de fato, enriquecem o documentário. Fica evidente a importância de cada história e a maneira objetiva que a diretora conduz esses relatos para engrandecer o filme. Acertadamente, a diretora se distancia do lado apelativo. O que é difícil em se tratando de um filme que retrata animais, teoricamente, abandonados.

Obviamente ninguém que não goste de gatos fará questão de assistir ao documentário. O público, em via de regra, parece ser óbvio, pessoas dispostas a assistir durante mais de uma hora gatos, gatinhos, gatões das mais variadas cores, tamanhos e idades. Para não soar tão repetitivo o contexto cultural e religioso poderia ter sido mais explorado.

No mais é um documentário traz uma boa reflexão sobre a necessidade de respeitar o instinto animal dos gatos e a necessidade de liberdade deles. Mas como disse anteriormente é um filme para um determinado público e esse, com toda certeza, irá amá-lo.

3 Nota do Crítico 5 1

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