Curta Paranagua 2024

Deserto Azul

Autoconhecimento lisérgico

Por Fabricio Duque

Durante o Festival do Rio 2014

Deserto Azul

Considerado “O Som ao Redor mineiro”, a ficção-científica existencialista, futurista, “metafísica” de autoconhecimento lisérgico e que “procura” o universo do cineasta chileno Alejandro Jodorowsky, “Deserto Azul” apresenta-se como uma grande metáfora do nosso mundo moderno, “incompreendido”, de “sofrimento por esquecimentos”, de sonhos, desesperos, correrias, passado, futuro, perda da memória e vazios. O diretor Eder Santos, um vídeo-artista de renome internacional, e que possui obras em acervos permanentes do MoMA, em Nova York, e do Centre Georges Pompidou, em Paris, cria sua fábula tendo a câmera como sua principal cúmplice, acompanhando com leveza, despretensiosamente, a crise existencial do “eu” (para o protagonista) e “ele” para os outros. “Queria parar de pensar e transcender”, narra-se (pela voz do ator Ângelo Antônio) e pela fotografia “solar” que prolonga e completa e que tem o “desejo de mover sempre e sempre”. A busca pelo significado de algum sentido na vida em “Deserto Azul” gera a individualidade crônica do ser humano, que “pinta de azul o deserto”, que “tenta” encontrar “festas” desconhecidas, academia de ginástica “Tron” de ser, que vivencia mesmices repetitivas (papos, conversas, procedimentos técnicos). Traduz-se então quase uma filosofia egoísta “new age” bem à moda referencial ao grupo islandês Sigur Rós, por desencadear a interação direta à câmera e a frases como “Medo é o preconceito dos nervos”, tendo apenas a “reflexão” como antídoto. Os “simbolismos” em “Deserto Azul” decretam uma estranha liberdade, com pessoas fantasiadas de espelhos, de bolos, “nuvens engarrafadas”, experimentação do silêncio, músicas na íntegra como videoclipes, com um que bem próximo a “A Espuma dos Dias”, de Michel Gondry, “Ela”, de Spike Jonze e até “Nosso Lar”, pela estética das roupas. “Se eu sei alguma coisa sobre o amor?”, “Só do que eu sinto”, diz-se na versão apaixonante de “Santiago de Compostela”. É indiscutível que Eder Santos sabe muito de amor. E de cinema.

4 Nota do Crítico 5 1

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