De Menor

“Essa estrutura lacunar é importante para criar um filme em que há sempre a dúvida”, disse Caru Alves de Souza sobre a câmera “colada”.

Por Fabricio Duque

“De Menor” já se apresenta premiado, dividindo a vitória com “O Lobo Atrás da Porta” ao troféu Redentor de Melhor Filme do Juri Oficial do Festival do Rio 2013, representando a estreia, tanto de sua diretora, Caru Alves De Souza (filha da cineasta Tata Amaral, de “Através da Janela”, “Um Céu de Estrelas”, “Hoje” e sócia da produtora Tangerina Filmes), quanto de sua atriz principal, Rita Batata e de seu ator Giovanni Gallo. O ator-“pai”, e também juiz ficcional, Caco Ciocler, conduz com brilhantismo uma interpretação contida, sarcasticamente humanizada (“Ronivon? O Cantor?”) e naturalista. Pelo realismo, traduz-se o universo jurídico (penitenciário) da advocacia que trata o tema do menor. É contemplativo e existencial, criando-se assim a atmosfera da imersão, principalmente pela câmera próxima que acompanha as ações cotidianas. A história é construída aos poucos, tendendo à liberdade comportamental (vista no final como causa às consequências abordadas – “imposição de limites” e se não, “liberdade assistida”), complementada pela fotografia plácida (simples visualmente), plástica (de suspender o tempo) e sinestésica (que personifica o vento no rosto, o silêncio, o tédio, a adolescência, o sofrimento defensivo). A atemporalidade objetiva o congelamento e não a nostalgia. O roteiro busca o questionamento ético-moral da afinidade (e o distanciamento pessoal-familiar). Seguindo a estrutura cinematográfica da juíza-diretora Maria Augusta Ramos (sobre o sistema judiciário brasileiro), o filme transpassa credibilidade temática (confirmado pelo crítico-advogado Thiago Lopez) pela forma com que os vereditos são fornecidos (“Tira a coruja. Coruja? É, a cueca”). Em determinado momento, a protagonista lava a mão. Simbolismo? Talvez, porque percebemos que a câmera muda de posição (e lado). Em uma família, vê-se o que quer ver, e pela ausência perceptiva, a justiça “exerce” seu papel da ressocialização e da conscientização pelo “impedimento” da liberdade. Mas nem tudo são flores, há quebras de ritmo pela “espera” existencial (completando com músicas “viscerais”). Mas este ínfimo “deslize” não acarreta contras ao contexto. Um filme que merece a atenção do espectador.  

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