Cloro
Produtos da sociedade
Por Fabricio Duque
Durante o Festival do Rio 2014
“Cloro”, o mais novo curta-metragem de Marcelo Grabowsky, foi apresentado no último Festival do Rio 2014, e assim como seu longa-metragem de estreia, “escala” uma equipe de renome (Ricardo Pretti, Mauro Pinheiro Jr, Bernardo Uzeda, entre outros – realizando um cinema “cooperativo”). A narrativa “sob o sol ofuscante – Clara se esforça para enxergar sua família e a realidade que a cerca” conjuga o sutil passeio da câmera e a fotografia brilhosa do corpo bronzeado, com água + suor + filtro solar + cloro, a fim de “criticar”, única e exclusivamente, uma naturalidade cotidiana e observadora, uma “vida” artificial de ser, dentro de uma realidade construída. Alimenta-se a futilidade e a visão estereotipada.
O interesse da filha pelo funcionário negro, a “diversão” tediosa das férias, a aparência hipócrita do relacionamento dos pais, a pós-adolescente que “pode ter tudo que quiser”, o “cabelo verde” por estar em contato com o cloro, servindo de metáfora a todo esse universo contemplativo, de sexualidade projetada, de loucura enraizada por massificação social que encontra a possibilidade da explosão catártica. Vivencia-se a negação do “eu”.
São produtos de uma sociedade perdida e ultrapassada. Tentando reviver regras, dogmas e aristocracias comportamentais de um passado de nostalgia “Kitsch” sem a percepção de que “mudanças” aconteceram. Marcelo em “Cloro” pontua sutileza conceitual com direção detalhista e de atmosfera metafísica, personificando em tela um existencialismo palpável, muito da representação interpretativa de seus atores, que se “abrigam” na técnica (a La Fatima Toledo) da não encenação, misturando realidade e ficção, ator e personagem (elenco preparado pela atriz Carla Ribas). Assim, quando não se sabe os limites, tudo é possível.