Curta Paranagua 2024

Crítica: Crô Em Família

Bizarro.

Por Vitor Velloso


Cada vez mais rápido aberrações, monstruosidades, desgraças, retrocessos… passam a existir na programação dos cinemas nacionais. Isso porque oportunistas, tão válidos quanto urubus se aproveitando da carniça alheia, usam da alienação do povo para enriquecerem seus bolsos repletos de fel. Produzindo aquilo que há de mais tóxico dos neurônios destes seres humanos, realizando assim: “Crô 2: Em Família”.

É uma configuração de telenovela, sendo exibida no cinema, com todos as preguiças mentais dos realizadores, sempre os mesmos cortes, a mesma fotografia, a mesma piada, os mesmos memes, os mesmos personagens, já batidos, os mesmos mesmos. É tudo tão patético, que ofende o espectador. Pois, além, de seu moralismo, já claro no primeiro longa, aqui vemos uma evocação familiar para defender esta moralidade do protagonista, que é, de longe, um dos piores troços escritos na história da dramaturgia brasileira. Eu saí da exibição sem o que dizer, era tamanha a bomba que havia sido projetada, que é difícil formular palavras. Nada do que eu disser aqui, nenhuma forma de ataque que eu faça será o suficiente para devolver meu tempo perdido naquela sala.

Cininha de Paula assina a direção do projeto, que por incrível que pareça passa no teste do robô, pois, o trabalho da diretora é tão desajeitado e tenebroso, que é único. Sua incrível habilidade de contar uma história, possível de ser resumida em uma linha, foi deixada de lado e tudo que vemos é uma tentativa de criar um longa publicitário de memes e louvar sub-celebridades e/ou tentar deixar mais contemporâneo para o público. Curiosamente nem neste aspecto eles acertaram, isso porque as referências que eles utilizam são de uns dois anos atrás. Eu me recuso tentar escrever a sinopse desta aberração fílmica. E estou, publicamente, denunciando todos que injetaram dinheiro aqui, por injúria ao cinema brasileiro.

A revolta é tanta que dá vontade de escrever o resto da crítica nas sábias palavras dos brilhantes artistas El Chombo e Andy de La Cruz, com seu sucesso absoluto, Macarron Chacarron, onde no refrão eles dizem o poema profético de Mallarmé após assistir Crô 2: “Ualuealuealeuale”. Caso o leitor esteja pensando que a gangrena afetou meu cérebro, é possível que sim, mas, por fins profissionais sou obrigado a construir um certo mínimo comentário sobre os filmes que assisto, por isso, estou permitindo que a doença contagiosa se manifeste de forma mais livre. Marcelo Serrado é incrível na arte de passar vergonha, não apenas como ator, mas como figura cênica. Alguns adereços são mais chamativos que a presença dele no plano. Além claro, dele ter participado de projetos inacreditáveis como: “Rio, Eu te Amo” uma das piores coisas da década e o misógino, fascista e covarde “Polícia Federal: A Lei é Para Todos”, o que nos mostra o caráter do ator e sua habilidade ao escolher projetos completamente retrógrados, moralmente, e à linguagem do cinema. Entrará para a história como um submeme que saiu pela culatra, isso porque seu apelo popular por seu personagem unidimensional e cheio de trejeitos, o que facilita em 200% a atuação, virou um sucesso nacional. Aí, como talento não é o forte da pessoa, ela investe até esgotar essa fonte de retorno. A degradação do ser-humano para se realizar esta… coisa, deveria ser classificada como crime cultural.

E se pareço irritado, ou algo do tipo, é porque estou. E se escrevo em primeira pessoa, é que estou buscando não me ausentar da opinião direta, não quero intermediadores que possam polir este discurso para qualquer tangencial menos concreta. E se não agrado a uma parte dos críticos por ter adotado este formato…

Globo Filmes, está de parabéns como sempre, fará mais um sucesso de bilheteria, sem derramar uma gota de suor, sempre mantendo seu selo de qualidade, que varia entre a atrocidade e o inassistível. Este sem dúvida, está na segunda categoria. Fui afundando na cadeira a cada cena que passava, torcendo para que a tela pegasse fogo e a projeção acabasse. Não queria algo tão trágico quanto “Bastardos Inglórios”, pois, pretendo escrever mais críticas dos filmes da Cininha.

Estou completamente assustado com a minha experiência. Ofendido e confuso. Um buraco negro se abriu em meus olhos.

1 Nota do Crítico 5 1

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