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Corpo e Alma

Um filme de corpo e alma

Por Fabricio Duque

Durante o Festival de Berlim 2017

Corpo e Alma

“Corpo e Alma”, que integrou a mostra competitiva oficial do Festival de Berlim 2017, arrebatando o Urso de Ouro de Melhor Filme, o Ecumênico, o Fipresci de crítica e do público. E agora está como um dos indicados ao Oscar 2018 de Melhor Filme Estrangeiro. Seus prêmios são mais que merecidos. Sua diretora, a húngara Ildikó Enyedi (de “Europa”, “First Love”), imerge o espectador em uma experiência sensorial por uma fábula.

A atmosfera da narrativa busca o tom da estranheza, propositalmente, para traduzir uma história de amor (incomum na trama) em que manias-idiossincrasias são respeitadas, retro-alimentadas e cúmplices, entendendo mutuamente que todo e qualquer relacionamento é orgânico, simétrico, perfeccionista, visceral, solitário, lógico. Aqui duas pessoas vivem co-dependentes com o mesmo sonho (sem saber que cada um está dentro do outro). É a representação máxima do amor. De encontrar a pessoa perfeita para uma perfeita vida a dois. Tudo é experimentado ao sentir.

A direção de Ildikó Enyedi, que levou dezoito anos para fazer um novo filme, é impecável e precisa quando transforma o complexo em simplicidade. E pelos atores que estão irretocáveis em situações “awkward” tão desconfortáveis em um roteiro preciso, sarcástico, realista, afiado, e literalmente, certeiro.

É uma história de amor que começou em sonho, literalmente. Numa dualidade entre o dormir e o acordar, dois jovens que não se conhecem têm sonhos exatamente iguais, e acabam se encontrando diariamente todas as noites nesse mundo paralelo de fantasia. Quando chega a hora de se encontrarem de verdade, a situação se mostra ainda mais complexa.

A maestria de “Corpo e Alma” é personificar no concreto sensações de uma epifania vivida, como a perspectiva dos animais “que olham para o céu e veem o sol”. Constrói-se por detalhes, por uma rotina, um dia-a-dia sem pressa, de naturais micro-ações em tempo real. O espectador não é “poupado”. O filme segue com seu controle do tempo e do espaço. Nós podemos inferir à estrutura cinematográfica dos filmes do diretor finlandês Aki Kaurismäki, que prolonga a observação de olhar, permitindo ouvir com silêncios os pensamentos de suas personagens.

Em “Corpo e Alma”, intercala-se a vida dos animais, do ambiente natural com o intuito de nos referenciar aproximadamente do instinto intrínseco dos bichos. Aqui este casal é disfuncional. Não conseguem lidar com a separação entre interno e externo, falando muitas das vezes sem dosar com o “filtro” social o que pensam. Logo, perguntas constrangedoras, quase como uma defesa repelente são ditas, como a “primeira vez que gozou”.

Mária e Endre comportam-se como robôs por incapacidade da integração no meio em que vivem. Sentem tédio, solidão, platonismo, mas esconde tudo isso como força para continuar seguindo. O filme é uma metáfora-visual do conhecimento. De fazer com que eles permitam aceitar as novidades. A sair da zona de conforto. A sentir dor, tristeza e rebater felicidade. São extra-terrestres modernos, vivendo desajustados em um mundo estranho, hostil e complicado. O amor acorda até mesmo o “braço dormente” com a música romântica “What He Wrote”, cantada por Laura Marling.

“Corpo e Alma” é sobre a paralisia que indivíduos sociais vivem no momento atual. Uma fuga da realidade. Um afastamento do outro próximo. Um mergulho a própria individualidade. O longa-metragem deseja desconectar deste transe pelo estímulo do “corte” e pelo realismo fantástico mais que possível. Mas o sentir não é para todos. Demora. Cada um possui seu tempo em absorver mudanças.

No final da sessão de imprensa, assim como na própria coletiva de imprensa, no Festival de Berlim, o filme foi aplaudido de pé.

5 Nota do Crítico 5 1

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