Festival Curta Campos do Jordao

Crítica: Child´s Pose
Por Fabricio Duque

“Child´s Pose”, traduzido literalmente como “Pose de Criança”, apresenta uma fábula realista do crescimento da idade, possibilitando que dois seres, uma mãe  (Luminita Gheorghiu) e seu filho (Bogdan Dumitrache), de 32 anos (que não quer crescer), e que ainda conta com a “conivência” e condescendência do resto da família, possam cortar o cordão umbilical da co-dependência. Nada melhor para traduzir um tema como esses que o cinema romeno. A narrativa conduz pela atmosfera crua, quase como uma metalinguagem da arte cinematográfica por utilizar o corte brusco (seco), a falta de trilha-sonora e a câmera próxima (criando o ambiente intimista quase documental – fazendo com que o espectador sinta a naturalidade da vida abordada) para explicitar a quebra e a pseudo liberdade da proteção pretendidos por seus personagens. “Se isto é difícil, encontre um substituto. Um amante, um cachorro, um hobby. Pessoas da sua idade visitam as Piramides”, diz o filho instigando a mãe, que se comporta de forma radical aos cuidados “viciados” e incondicionais a seu rebento. “Ele é minha vida”, desespera-se. O filme, dirigido por Calin Peter Netzer (de “Maria”)  foi o grande vencedor no Festival de Berlim 2013. Outra característica da cinematografia da Romênia é o confronto questionador entre a ética-moral e o oportunismo individual. Há humanização maniqueísta, como a  sinceridade dos sentimentos de limpar a  própria consciência” oferecendo dinheiro, inferindo a outro filme, “Lola”, de Brillante Mendoza. Não há clichês, excessos, gatilhos comuns, e ou manipulações hollywoodianas. O que se objetiva é o conto por si só e a mensagem codificada. A música de Gianna Nannini em “Meravigliosa Creatura” indica o tom desta Pose de criança. De um filho mimado por todos, principalmente por uma mãe mandona (e matriarca-mor), gerando problemas e os tendo resolvido sem trabalhos (para ele), mas por uma família que se desdobra para que sejam solucionados da melhor forma. Questiona-se todo tempo, assim como o filme “Separação”, a responsabilidade é passada a quem assiste, com suas culpas, julgamentos, crenças sociais, limitações, preconceitos, radicalidades. Um longa-metragem incômodo, instigante e curioso, que cria a tensão “moral”, colocando todos na parede, exigindo uma opinião formada e devidamente subjetiva (com argumento, logicamente). Recomendo.

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