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Crítica: Canastra Suja

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Caio Soh, Um Diretor em Permanente Estado de Evolução

Por Francisco Carbone

Durante a Mostra de Cinema de São Paulo 2016

Caio Soh. Nem é de hoje, mas todos já deveriam ter anotado esse nome. No lançamento do seu quarto longa metragem, Soh deixa claro e definitivo o que já apontava do primeiro pro segundo: estamos diante de um cineasta que avança em si e que tem um claro interesse em descortinar novas possibilidades cinematográficas, e evoluir. Ainda muito jovem, a evolução de Soh é de fácil percepção pra quem acompanhou sua carreira. Do primeiro, o terno ‘Teus Olhos Meus’, Soh saltou alguns degraus no segundo, o alegórico ‘Minutos Atrás’; apesar do tom carinhoso, sua estreia tinha uma linguagem televisiva e descontinuada, e por isso queixos caíram ao perceber que já no filme seguinte, Soh tinha passado por uma espécie de pós-graduação em mise-en-scene, proposta imagética e realização de mensagem.

Estávamos diante de um cineasta mesmo. E 2016 foi ao menos prolífico para Soh, que chegou com o poético ‘Por Trás do Céu’ e com a explosão naturalista apresentada aqui, um filme que definitivamente não tem nada a ver com o que se espera dele. Vivendo num universo onde se encontra violência e conflitos em esferas de poder, a trama de ‘Canastra Suja’ é uma espiral de pernas quebradas e expectativas positivamente frustradas, um mundo repleto da mais perfeita normalidade. Ainda bem. Seguimos os rumos de uma família composta por pai, mãe e três filhos, um rapaz e duas moças, uma delas acometida por algum tipo de autismo. Os cinco personagens são apresentados da forma mais humana possível, com idiossincrasias que os definem mas com um profundo sentimento de carinho uns pelos outros muito palpável, num trabalho conjunto de elenco impressionante; difícil descobrir o melhor, se é Adriana Esteves, Marco Ricca, Bianca Bin, Pedro Nercessian ou se a sensacional revelação Cacá Ottoni. É na união desse grupo de grandes interpretações ao roteiro preciso e cheio de frases devastadoras (ver Adriana Esteves dizer “eu também quero ser feliz” num momento de desespero é de cortar o coração) que vemos a força dramática intrínseca a uma obra que fala exclusivamente sobre afeto e sobre a difícil manutenção do mesmo num mundo de mal entendidos e da eterna luta entre o que é dito, pensado, achado e realizado, esferas completamente diferentes de realidade.

Mas o mais animador é perceber que Soh tinha já o suficiente nisso pra fazer um ótimo filme, e decidiu não estacionar aí. Apesar de uma certa correria na montagem na reta final e de algumas soluções expositivas, a verdade é que Soh tem absoluto domínio de câmera e transforma seu filme num testemunho vivo sobre os conflitos familiares mundanos das classes menos favorecidas. As lentes nervosas de Soh e seu fotógrafo criam uma profusão de planos-sequência em efeito dominó, num jogo nervoso e muito ambicioso, que transforma o cotidiano de uma família comum num assustador acerto de contas que pode transformar a vida dos personagens de maneira implacável. Ao fim do seu incrível novo filme, Caio Soh dá continuidade ao processo de evolução a sua carreira, provando aqui que além de ternura, alegoria e poesia, também versa muito bem sobre o cotidiano transformado em bomba relógio.

4 Nota do Crítico 5 1

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